Por Fabio da Silva Barbosa
Já fazia um tempo que estava
sumida. Todo mundo achava que tinha morrido. É uma menina muito jovem, mas o
crack já havia feito o estrago. Já tinha envelhecido a parte física e a mente
estava completamente destruída. Quando a avistei de longe, pude observar seu modo
de andar e o jeito de olhar com a cabeça baixa e os olhos virados para cima,
como se enxergasse melhor dessa estranha maneira de baixo para cima. Eram marcas que permitiam identificar logo de
cara que ela estava muito alterada. Se passava da medida, apresentava logo
estes cacoetes. Mesmo assim era meu caminho e tinha de passar por ali. Como
sempre, ela veio me abraçar, dar um beijo no rosto e perguntar se eu estava
bem. Antes mesmo de acabar de responder, ela já pedia um cigarro. Dinheiro ela
aprendeu que não adiantava pedir, pois eu estava sempre duro. Enquanto acendia
o cigarro para ela, aproveitei pra perguntar por onde andava. Como de praxe,
ela respondeu que estava presa. Adorava essa resposta quando estava sumida e
voltava a aparecer. Acho que ela se sentia importante dizendo isso. Mais tarde
soube que ela estava na casa da família, por isso se apresentava menos magra e
mais limpa. Quando a conheci, ela tinha apenas quatorze anos. Agora já era uma
jovem adulta. A vida nunca foi fácil com essa garota. Passou pelo abandono da
família, exploração sexual, conheceu as drogas e daí se envolveu com o tráfico.
Ficou devendo na boca e sumiu da área onde inicialmente frequentava. Começou a
morar pela rua perto da minha casa e me reconheceu desde a primeira vez em que
nos reencontramos nessa sua nova fase. Conversamos um pouco enquanto ela
fumava, mas logo viu um alvo passar do outro lado da rua, despediu-se
rapidamente e atravessou correndo para pedir uns trocados. Fiquei olhando a
desastrada travessia na frente dos carros e motos que faziam desvios
cinematográficos na tentativa de evitar o atropelamento. Virei e segui meu
caminho. Ouvi uns gritos e barulhos. Olhei novamente para a direção que ela
tinha ido. Ela passou correndo por mim como um raio e o alvo estava com ar
desorientado. Parece ter entendido logo no início que não conseguiria pegá-la
na corrida. Acho que a ideia de pedir uns trocados, virou outra coisa durante a
rápida interação que tiveram. Logo começou a juntar gente e o indivíduo
explicava que tinha sido assaltado. Alguns falam em bater, outros em matar...
Só sei que se fosse ela começava a tomar mais cuidado. Todos a conheciam por
aquela região. Não dava para dar mole.
Nenhum comentário:
Postar um comentário