A banda Fallen Idol, praticante do puro Doom Metal, com
influências nítidas de bandas como Solitude Aeturnus, Candlemass e, claro,
Black Sabbath, está na ativa desde 2012, porém com lançamentos que foram,
inicialmente, lançados de forma digital. Talvez, por isso, o nome não foi muito
difundido, o que vem mudando, haja vista que seus lançamentos, ao menos os dois
últimos, foram lançados fisicamente, além de a banda ter lançado, recentemente,
dois tributos. A banda é composta, desde a sua origem, por Márcio Silva
(baixo), Ulisses Campos (bateria) e Rodrigo Sitta (guitarra/vocal), e já
informa que, mesmo com os problemas causados pela pandemia, trabalha em novas
músicas que farão parte de um novo álbum de estúdio.
Metal Reunion Zine– A Fallen Idol surgiu em 2012, lançou
três discos, mas confesso que só tive envolvimento com a sua música com o seu
mais recente lançamento: o fantástico “Mourn the Earth”. Posteriormente
consegui o segundo disco, “Seasons of Grief”. Porém, eu acho, o primeiro álbum
foi lançado apenas digitalmente. De qualquer forma, o que falta para que o nome
Fallen Idol seja mais difundido?
Márcio Silva - Antes de qualquer coisa, muito obrigado pelo
espaço! Ficamos felizes por gostar e ter os CDs, muito obrigado! Respondendo
sua pergunta: acredito que vários fatores somados; faltam turnês; apresentações
mais “longe de casa”... Não adianta esperar que as pessoas conheçam nosso
trabalho apenas pela internet, pois são muitos lançamentos inundando o mercado,
tanta coisa que fica difícil filtrar. Eu passo por isso, sei como é.
Metal Reunion Zine– Já que os discos mais recentes foram
lançados fisicamente, o ‘debut’ álbum, homônimo, também tem previsão de
lançamento físico?
Márcio - Não há previsão, embora alguns selos envolvidos no
lançamento do “Mourn the Earth” tenham se animado a fazer esse lançamento. A questão
é que hoje em dia encaramos aquele trabalho mais como uma Demo. Ele é muito
rústico e mal gravado. Pensamos em regravá-lo e, aí sim, fazer o lançamento
apropriado, talvez até com a gravação tosca como bônus, até para evitar as
reclamações de quem prefere do jeito que está. Mas, até aqui, são apenas
planos.
Metal Reunion Zine– Falando no primeiro álbum, nele a
sonoridade da banda ainda não está bem definida. Já nos álbuns seguintes há uma
evolução absurda e o que temos o prazer de ouvir é um magnífico Doom Metal, com
pequenas nuances de Heavy Metal em alguns andamentos. Certamente é uma
musicalidade que agrada em cheio os fãs do estilo e de nomes como Candlemass e
Solitude Aeturnus. O tipo de público do Fallen Idol é esse mesmo ou há maior
diversificação de ouvintes?
Márcio - Obrigado pelas palavras! Claro que a princípio
acabamos atingindo o público que gosta de Doom Metal e das bandas que você
citou, mas o mais legal é atingir o maior número de pessoas possível. Fazemos
Heavy Metal para fãs de Heavy Metal e eu particularmente odeio essa coisa de
rotular e encaixotar o som de cada banda de modo que não se pode sair do seu
‘quadrado’. Também não me agrada essa segmentação, festivais de bandas de um
estilo só (embora esses também sejam legais, eu sei), bandas que só tocam com
bandas do mesmo estilo, sempre para os mesmos fãs do mesmo estilo. Eu sou a
favor de tudo misturado e o único rótulo que me agrada é Heavy Metal.
Metal Reunion Zine– As linhas vocais são imponentes, limpas,
algo que se fazia no estilo lá no início. Eu, particularmente, gosto bastante
desse tipo de vocalização no Doom Metal. O que os fez ter os vocais nessa linha
e não algo mais grave ou gutural?
Márcio - Nunca cogitamos soar de forma diferente… Temos um
vocalista com influências como Dio, Rob Halford, Ian Gillan, Dee Snider, entre
outros, então não tinha como ser diferente. Ainda assim, ouça nosso projeto
paralelo, Blasphematorium, cujo CD saiu no ano passado e tem vocais muito
diferentes do que se ouve no Fallen Idol.
Metal Reunion Zine– As músicas carregam andamentos lúgubres,
desoladores – apesar de essa ou aquela passagem mais Heavy Metal... Bom exemplo
disso é a música “Wait”, do mais recente álbum, que traz algo de Black Sabbath
em seu andamento. Como são criados os andamentos musicais no Fallen Idol? Há
algo do tipo: “isso encaixa no Fallen Idol. Isso aqui não”?
Márcio - Nada muito calculado, mas naturalmente fazemos da
forma que gostamos mais e acaba saindo desse jeito. A música vem sempre em
primeiro lugar, muito antes da preocupação em tentar soar desse ou daquele
jeito.
Metal Reunion Zine– Com relação às letras, elas carregam
algo em torno da morte, luto, suicídio... Mas qual a temática lírica principal
que vocês se apegam ao começar a escrever uma música?
Márcio - Nas letras realmente não temos nenhum tipo de
amarra. Elas podem falar sobre qualquer assunto. Embora a maior parte delas
falem realmente de questões psicológicas e humanas, muitas vezes abordando os
aspectos mais obscuros da mente humana - pois esse tema é bastante
interessante. Realmente não existem regras ou tabus na concepção lírica.
Metal Reunion Zine– Talvez a música que mais destoa das
demais, em “Mourn the Earth” – não por ser ruim, de forma alguma, mas por ter
uma ‘levada’ mais veloz -, seja “Shattered Mirror”. Ter uma música assim foi
algo planejado para não deixar o disco totalmente denso, arrastado?
Márcio - Bem, essa música realmente começa de forma bem
veloz, mas do meio para frente cai num andamento que talvez seja um dos mais
arrastados entre tudo o que já fizemos. É importante ter algum equilíbrio no
disco, até para não parecer que a pessoa está ouvindo a mesma música, algo que
nunca vamos permitir em um trabalho do Fallen Idol. Inclusive, no futuro pode
esperar por músicas ainda mais rápidas.
Metal Reunion Zine– “The Secret Place” é uma música que é
carregada de forte ‘feeling’. É tipo aquela música que te causa certo ‘transe’.
Parece ser uma continuidade de “Lucidity”, que transmite o mesmo sentimento.
Essas músicas se completam, musicalmente falando?
Márcio - Novamente muito obrigado! Interessante, nunca
pensei nisso. O que posso afirmar é que não fizemos nada intencionalmente, até
devido ao fato de que o Rodrigo trouxe a “Lucidity” e eu fiz a “Secret Place”.
Então, se realmente elas dão essa impressão, foi sem querer.
Metal Reunion Zine– A arte da capa, como não poderia deixar
de ser num lançamento do estilo, é bem carregada e transmite tristeza. Como foi
concebida a capa de “Mourn the Earth” e o que realmente ela significa?
Márcio - Cesar Benatti é o nome do artista que fez as fotos,
o design do encarte, a fonte utilizada nos textos e a arte da capa, sempre em
conjunto com o Rodrigo. É uma capa muito bonita mesmo, com uma paleta de cores
muito mais ampla que as artes usadas anteriormente. Acho que combina muito bem
como o conteúdo do CD.
Metal Reunion Zine– Notei que o encarte, mais precisamente
as letras, não seguem a ordem do ‘track list’. A que se deve isso?
Márcio - Isso é coisa de quem trabalha com design e não
adianta discutir com esses caras. (risos) É bom para deixar o ouvinte atento.
Metal Reunion Zine– “Mourn the Earth” teve o apoio de
diversos selos para o seu lançamento. Essa parceria vem gerando bons frutos, no
que diz respeito à divulgação do álbum?
Márcio - Realmente é mais fácil achar o “Mourn the Earth”
por aí do que o “Seasons of Grief”, que foi feito de forma totalmente
independente. Ele foi muito mais bem divulgado e distribuído. Ficamos muito
satisfeitos com isso.
Metal Reunion Zine– Após o lançamento de “Mourn the Earth”,
a banda lançou dois EPs tributo. Um ao Cirith Ungol e outro ao Black Sabbath,
ambos digitalmente. Mas, mesmo com essa pandemia que assola o mundo, o Fallen
Idol já vem trabalhando em novas músicas?
Márcio - Sim! Já vínhamos trabalhando em músicas novas e
temos uns 40% do novo disco já escrito. Nossa forma de composição não deve ser
muito afetada pelo isolamento devido à COVID-19, mas, obviamente, afeta o
desenvolvimento dos arranjos, as experimentações em estúdio, a lapidação das
músicas mesmo, uma vez que não estamos nos encontrando. Com certeza vai demorar
mais para podermos trabalhar de fato num disco novo, mas isso deve afetar a
maior parte das bandas do mundo, bem como quase toda atividade humana.
Muito obrigado pelas perguntas e pelo espaço concedido!
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Vanessa Boettcher
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