Metal Reunion Zine

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quinta-feira, 27 de julho de 2023

ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da ópera rock do terror cotidiano - Segunda Temporada 2023 - #9

 
O corpo e o sangue – O pão e o vinho

Por Fabio da Silva Barbosa

 

O coroinha aproximou-se da porta e, com suas mãos trêmulas, deu leves batidas. Esperou rápidos segundos e já ia virando o corpo para o corredor, rumo a saída.

- Pode entrar. A porta está aberta.

O coroinha respirou fundo e apoiou a mão ainda mais trêmula que já estava sobre a maçaneta. Abriu lentamente e foi entrando.  Com os olhos fixando o chão, deu pequenos passos e parou.

- Pode fechar com a chave. Está pendurada na fechadura.

O coroinha obedeceu mudo aos comandos, levantou a cabeça e pela primeira vez avistou o sacerdote. Os tremores aumentaram ao visualizá-lo sentado atrás de sua escrivaninha.

- Chegue perto.

O menino foi se aproximando com cautela e o padre girou sua cadeira devagar, ficando de frente para o pequeno convidado.

- O senhor pediu que viesse?

- Sim... Claro... - Disse pároco babando de prazer.

- ...

O coroinha soltou um som indefinido ao estar perto o suficiente para os braços do ungido pela graça começarem a tentar lhe envolver. Pareciam tentáculos. O som que o garoto fez era tão baixo que parecia ser para dentro. O padre percebeu e sussurrou para que ficasse calmo. Foi puxando o menino com leveza, até colocá-lo sentado em seu colo.

- Mas o que é isso??? – Berrou a Beata que entrou na sala.

O padre levantou de um pulo e, se o menino não fosse ágil, caía no chão.

- Você não fechou a porta??? – Questionou o padre         que estava totalmente alarmado.

 O coroinha escondeu-se atrás da beata buscando proteção e ela voltou a perguntar ao padre o que estava acontecendo. O sacerdote já tinha voltado ao seu equilíbrio, mas manteve o ar indignado.

- O que estava acontecendo é que eu estava reforçando uma lição sobre a divisão dos pães que esta criança tem muita dificuldade em aprender e a senhora entra na minha sala sem ao menos bater.

- Mas não parecia...

- Não parecia o que? A senhora ousa a duvidar do padre? Ousa a questionar o representante de Deus na terra?

- Mas é que...

- Mas é o que estou falando. Dobre a penitência que lhe dei na última confissão e vá imediatamente cumpri-la.  Já estou farto de sua enrolação.

A Beata cruzou a porta olhando para o corredor de saída e voltando a cabeça para ver o padre. O Corinha aproveitou a situação e, antes dela, já tinha saído dali. O padre, ao ver que todos tinham ido, fechou a porta, abriu o armário e pegou a garrafa de vinho. Abriu a rolha e encheu o copo que estava guardado junto da garrafa. Virou tudo em um gole só, sentou na cadeira e deu um suspiro. Ficou olhando para o nada. Encheu de novo o copo e virou o líquido santo. Meditou mais um pouco e chegou a uma conclusão. Meteu a mão debaixo da batina e puxou o membro duro e latejante para fora. Mais um gole para aquecer os pensamentos e seu punho, já prejudicado pela tendinite, não iria reclamar.

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