O corpo e o sangue – O pão e
o vinho
Por Fabio da Silva Barbosa
O coroinha aproximou-se da porta e, com suas mãos trêmulas, deu leves batidas. Esperou rápidos segundos e já ia virando o corpo para o corredor, rumo a saída.
- Pode entrar. A porta está aberta.
O coroinha respirou fundo e apoiou a mão
ainda mais trêmula que já estava sobre a maçaneta. Abriu lentamente e foi
entrando. Com os olhos fixando o chão,
deu pequenos passos e parou.
- Pode fechar com a chave. Está pendurada
na fechadura.
O coroinha obedeceu mudo aos comandos,
levantou a cabeça e pela primeira vez avistou o sacerdote. Os tremores
aumentaram ao visualizá-lo sentado atrás de sua escrivaninha.
- Chegue perto.
O menino foi se aproximando com cautela e
o padre girou sua cadeira devagar, ficando de frente para o pequeno convidado.
- O senhor pediu que viesse?
- Sim... Claro... - Disse pároco babando de prazer.
- ...
O coroinha soltou um som
indefinido ao estar perto o suficiente para os braços do ungido pela graça
começarem a tentar lhe envolver. Pareciam tentáculos. O som que o garoto fez
era tão baixo que parecia ser para dentro. O padre percebeu e sussurrou para
que ficasse calmo. Foi puxando o menino com leveza, até colocá-lo sentado em
seu colo.
- Mas o que é isso??? –
Berrou a Beata que entrou na sala.
O padre levantou de um
pulo e, se o menino não fosse ágil, caía no chão.
- Você não fechou a
porta??? – Questionou o padre que
estava totalmente alarmado.
O coroinha escondeu-se atrás da beata buscando
proteção e ela voltou a perguntar ao padre o que estava acontecendo. O
sacerdote já tinha voltado ao seu equilíbrio, mas manteve o ar indignado.
- O que estava
acontecendo é que eu estava reforçando uma lição sobre a divisão dos pães que
esta criança tem muita dificuldade em aprender e a senhora entra na minha sala
sem ao menos bater.
- Mas não parecia...
- Não parecia o que? A
senhora ousa a duvidar do padre? Ousa a questionar o representante de Deus na
terra?
- Mas é que...
- Mas é o que estou
falando. Dobre a penitência que lhe dei na última confissão e vá imediatamente
cumpri-la. Já estou farto de sua
enrolação.
A Beata cruzou a porta
olhando para o corredor de saída e voltando a cabeça para ver o padre. O
Corinha aproveitou a situação e, antes dela, já tinha saído dali. O padre, ao ver
que todos tinham ido, fechou a porta, abriu o armário e pegou a garrafa de
vinho. Abriu a rolha e encheu o copo que estava guardado junto da garrafa.
Virou tudo em um gole só, sentou na cadeira e deu um suspiro. Ficou olhando
para o nada. Encheu de novo o copo e virou o líquido santo. Meditou mais um
pouco e chegou a uma conclusão. Meteu a mão debaixo da batina e puxou o membro
duro e latejante para fora. Mais um gole para aquecer os pensamentos e seu
punho, já prejudicado pela tendinite, não iria reclamar.
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