Lembranças
esquecidas
Por Fabio da
Silva Barbosa
Como os ventos que lançam o barco contra o rochedo
fatal, meus pensamentos são arremessados de volta ao encontro da triste carniça
que se decompõe em vida. A tempestade cerebral que assombra meu velho crânio,
me choca de cara com o personagem de si mesmo. Novamente está esparramado na
cadeira, diante da fria tela luminosa, como o marujo em seu eterno naufrágio,
como uma melancólica canção do mar, um terno encardido e amassado, o pirata
caolho e o convés a inundar. A coluna, há muito já tinha perdido o rumo e as
coisas estavam completamente fora de controle. Nada fazia sentido. Isso era
apenas mais uma dúvida na velha cabeça carcomida. Será que agora a coluna
estava indo para onde deveria e o caos criador era a melhor metodologia para
tal projeto póstumo? Será que algo carece de sentido? Será que ele não estava
entendendo nada? Entendendo errado? Havia algo para entender? Já que o cadáver
fala em vida, espumando a angústia e o escárnio pelo canto da boca, nada mais
natural que elaborar um grande funeral. Terá cachaça, jogatina e outras
ocasiões e acontecimentos. Aqui jaz o Velho Escritor, o Velho Poeta, o Velho, o
Escritor e o Poeta. Sua carcaça convertida em comida para os vermes que em
breve celebrarão mais este banquete. Se ele queria ser cremado? Sim, mas quem
se importa. Ia sair muito caro. Separemos apenas sua desgastada mandíbula para
cinzeiro e tampo da cabeça que dará ótima cuia para tomar vinho barato. Da
carne quero só um naco. Afinal, o preço que está o bife... O que que há? Não
vai querer? Então fico com o meu e com o seu. Tudo acertado. Agora vamos para a
mesa e comecemos a rolar os dados. Aposto que vai abrir com os três seis, para
inaugurar mais esta noite de pecado.
Nos vemos em setembro de 2022!
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