Seguindo
nossa saga quinzenal, aqui está o
texto #3 da coluna ARQUIVOS EXPLÍCITOS
No banco da praça
Por Fabio da Silva
Barbosa
19/02/2022
08h:56min
Só depois de muito
tempo entendi pra que servem os bancos de praça (ou, ao menos, pra quem
servem). Na verdade, existem figuras variadas que por motivos diversos sentam
nestes bancos. Ele, por exemplo, é uma figura constante por ali. Algumas vezes
acomodava-se em um lado diferente da praça, mas eram sempre os mesmos bancos.
Chegou, como
sempre, puxou um cigarro, colocou na boca e acendeu. Tragou fundo enquanto
ouvia o canto dos pássaros. Depois de algum tempo, percebeu que entre um
determinado número de cantos, podia ser ouvido um grito. Não era grito de dor
ou prazer. Parecia um tipo incompreensível de comunicação. Vinham de trás do
bambuzal.
Ficou atento.
De repente um cara
saiu correndo de trás do bambuzal com uma garrafa na mão. Corria e discutia,
olhando pra onde não havia nem alma penada. A distância não permitia distinguir
o que preenchia a garrafa ou o quanto estava cheia.
Será que era de
beber ou de cheirar? Devia ser de cheirar. Não era possível que fosse bebida.
Ou então era coisa forte. Bateu até uma curiosidadezinha. Daquelas... Tipo
coceira no furico. Coisa boba que dá e passa. Às vezes sim e as vezes não.
Atravessou a
avenida entre os carros e sumiu do campo de visão. Ouvia apenas aquela voz
berrando com o nada. Frases incompreensíveis, enigmáticas. A travessia na
avenida parece ter durado um ano. Ele parava e pulava na frente dos carros que
vinham em alta velocidade. A sinfonia dos pássaros agora dividia o espaço com
outra sinfonia. Buzinas e gritos, vozes exaltadas... Alterações preenchendo o
ar. Um problema saltitante criando distúrbios àquela hora da manhã.
De repente ele
volta a toda. Traçou uma linha reta e atravessou com velocidade total. Parou um
pedestre e começou a discutir. Dava para ver que o pedestre não entendia uma
palavra do que ele dizia e tentava compreender a situação. Por fim ele forçou
um aperto de mão, que foi retribuído com um não saber o que fazer.
Voltou correndo e
mergulhou atrás do bambuzal.
Não sei como aquela
aventura acabou. Pra mim terminou ali. Levantei resolvido e fui embora dali
antes que algum daqueles pássaros cagasse em cima de mim. O corretor
ortográfico sugere que troque “cagasse em cima de mim” por “defecasse em cima
de mim”. Sugestão sem fundamento. Não ficaria tão bom. Não causaria o mesmo
efeito.
Quanto ao cara do
banco? Continuou lá sentado, tranquilo, fumando o cigarro e esperando alguma
coisa acontecer.
Se ele apareceu de
novo pela praça? Não sei. Nunca mais passei por ali.
Se costumo reler
as merdas que escrevo para esta coluna? Não. Nem pra revisar. Mando como sai.
Se limpo a bunda
depois de soltar um barro? Sim, sempre que possível.
Qual o número do
meu sapato? Não uso sapatos.
Em 30 de março de 2022, confira aqui ARQUIVOS EXPLÍCITOS #4.
Até lá!
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