terça-feira, 15 de março de 2022

ARQUIVOS EXPLÍCITOS #3 - Contos e crônicas da opera Rock do terror cotidiano.

 
Seguindo nossa saga quinzenal, aqui está o texto #3 da coluna  ARQUIVOS EXPLÍCITOS

No banco da praça

Por Fabio da Silva Barbosa

19/02/2022

08h:56min

 

Só depois de muito tempo entendi pra que servem os bancos de praça (ou, ao menos, pra quem servem). Na verdade, existem figuras variadas que por motivos diversos sentam nestes bancos. Ele, por exemplo, é uma figura constante por ali. Algumas vezes acomodava-se em um lado diferente da praça, mas eram sempre os mesmos bancos.

Chegou, como sempre, puxou um cigarro, colocou na boca e acendeu. Tragou fundo enquanto ouvia o canto dos pássaros. Depois de algum tempo, percebeu que entre um determinado número de cantos, podia ser ouvido um grito. Não era grito de dor ou prazer. Parecia um tipo incompreensível de comunicação. Vinham de trás do bambuzal.

Ficou atento.

De repente um cara saiu correndo de trás do bambuzal com uma garrafa na mão. Corria e discutia, olhando pra onde não havia nem alma penada. A distância não permitia distinguir o que preenchia a garrafa ou o quanto estava cheia.

Será que era de beber ou de cheirar? Devia ser de cheirar. Não era possível que fosse bebida. Ou então era coisa forte. Bateu até uma curiosidadezinha. Daquelas... Tipo coceira no furico. Coisa boba que dá e passa. Às vezes sim e as vezes não.

Atravessou a avenida entre os carros e sumiu do campo de visão. Ouvia apenas aquela voz berrando com o nada. Frases incompreensíveis, enigmáticas. A travessia na avenida parece ter durado um ano. Ele parava e pulava na frente dos carros que vinham em alta velocidade. A sinfonia dos pássaros agora dividia o espaço com outra sinfonia. Buzinas e gritos, vozes exaltadas... Alterações preenchendo o ar. Um problema saltitante criando distúrbios àquela hora da manhã.

De repente ele volta a toda. Traçou uma linha reta e atravessou com velocidade total. Parou um pedestre e começou a discutir. Dava para ver que o pedestre não entendia uma palavra do que ele dizia e tentava compreender a situação. Por fim ele forçou um aperto de mão, que foi retribuído com um não saber o que fazer.

Voltou correndo e mergulhou atrás do bambuzal.

Não sei como aquela aventura acabou. Pra mim terminou ali. Levantei resolvido e fui embora dali antes que algum daqueles pássaros cagasse em cima de mim. O corretor ortográfico sugere que troque “cagasse em cima de mim” por “defecasse em cima de mim”. Sugestão sem fundamento. Não ficaria tão bom. Não causaria o mesmo efeito.

Quanto ao cara do banco? Continuou lá sentado, tranquilo, fumando o cigarro e esperando alguma coisa acontecer.

Se ele apareceu de novo pela praça? Não sei. Nunca mais passei por ali.

Se costumo reler as merdas que escrevo para esta coluna? Não. Nem pra revisar. Mando como sai.

Se limpo a bunda depois de soltar um barro? Sim, sempre que possível.

Qual o número do meu sapato? Não uso sapatos.

Em 30 de março de 2022, confira aqui ARQUIVOS EXPLÍCITOS #4. 

Até lá!


 

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