Eis que o Comando Etílico, após uma espera quase que
interminável, lança seu segundo álbum de estúdio, “Heavy Metal Réu”. Com a
mesma formação desde que deu início a sua formação - Hervall Padilha (vocal),
Lucas Praxedes (guitarra), David Praxedes (baixo) e Kleber Barbosa (bateria) -,
lá no longíquo ano de 2003, a banda pode ser considerada uma das maiores
representantes brasileiras do Heavy Metal cantado em nossa língua pátria. E
mesmo que tenha havia um lapso temporal tão grande entre o lançamento de seu
primeiro álbum de estúdio e o mais recente, a banda sempre se manteve ativa,
seja fazendo shows ou lançando single e videoclipe. O novo álbum sofre alguns
percalços, como a perda, pelo estúdio, das gravações, o que fez com o Comando
Etílico refizesse tudo e, com isso, houve atraso no lançamento. Na entrevista a
seguir o vocalista Hervall nos conta os detalhes.
Metal Reunion Zine - Foram 10 anos até que o Comando Etílico
lançasse o seu segundo álbum de estúdio. Antes, porém, singles e muitos shows.
No que os singles e shows durante esses anos ajudaram a moldar o que viria a
ser o novo álbum?
Hervall Padilha - Na verdade, foram nove e não dez anos.
(risos) Nada foi programado quanto a lançarmos “Heavy Meta Réu” apenas em 2019.
Muita coisa aconteceu e isso acabou por influenciar num intervalo tão longo
entre um disco e outro. Nosso som é o mesmo desde o início de nossa carreira;
nada foi reformulado ou diferentemente preparado para o disco atual. O primeiro
single foi “Legado” e ele veio na condição de comemorarmos o aniversário de um
ano do lançamento de “Comando Etílico”. Quanto a “Jonny Letal” como single, ele
seria a preparação para receber/entregar “Heavy Metal Réu”... Foi quando
perdemos tudo que havíamos feito em estúdio (captação, mixagem). Isso atrasou
consideravelmente nosso cronograma. Coloque ainda os shows e viagens, além dos
desencontros com datas para refazer o disco em estúdio. Mas, ao fim, vencemos.
Metal Reunion Zine- O álbum de estreia, homônimo, apresentou
músicas que agradaram em cheio aos fãs do Heavy Metal cantado em português,
tanto pelas letras, de fácil assimilação, quanto por sua sonoridade. Durante as
gravações do sucessor, de alguma forma, a banda se sentiu pressionada em
apresentar um álbum tão bom ou melhor que o de estreia?
Hervall - Não! Nossa única preocupação com relação ao
público é entregar para ele uma música honesta, algo feito com paixão... Se for
relevante ou não para quem nos ouve, isso é uma consequência natural do
processo. Tal como foi com nosso EP, com nosso disco homônimo e com os singles.
É extremamente prazeroso ver o público cantando nossas músicas nos nossos
shows, participando de forma efetiva de cada momento. Mas, nada é
industrializado ou pensado para esse fim. Se nos preocuparmos apenas com o
público, perderemos o coração de nossa música, que é a nossa essência contida
em cada uma delas.
Metal Reunion Zine- As músicas “Legado” e “Jonny Letal”
saíram como vídeo e single, respectivamente, porém apenas “Jonny Letal” entrou
no ‘track list’ de “Heavy Metal Réu”. Por que não inserir “Legado”, também, no
novo álbum?
Hervall - Pelo motivo que citei numa resposta anterior.
“Jonny Letal” já era parte do disco e a lançamos anteriormente para preparar o
público para receber nosso novo álbum. “Legado” não entrou por não fazer parte
desse plano. Mas, num lançamento vindouro, é possível que ela possa entrar,
assim como outra de nosso EP, a exemplo do que fizemos com “Estação Antiga”.
Metal Reunion Zine- Esse novo álbum, de início, foi lançado
digitalmente, no YouTube. A forma digital vem sendo abraçada por diversas
bandas, principalmente por aquelas que trabalham de forma independente. Vocês
chegaram a cogitar em lançar o novo álbum apenas no formato digital ou ter esse
lançamento em formato físico foi sempre a principal meta?
Hervall - Lançamos nosso material no YouTube ao mesmo tempo
em que a versão física estava sendo fabricada. A resposta do público foi
positiva para ambos. O formato físico sempre será a nossa meta! Temos um
envolvimento com a música que vai além do mundo virtual. O sistema digital é
conveniente para algumas situações e nós também estamos lá. Sendo uma banda com
16 anos (agora em 2019), entendemos que nascemos na era digital e negar isso,
além de burrice, seria uma completa falta de bom senso. Ouvir um disco antes de
comprá-lo é algo maravilhoso. Alguns ‘Rockers’ mais novos não sabem, mas já
houve um tempo em que você comprava um álbum e só iria ouvi-lo em casa. Se não
gostasse, não tinha essa de voltar lá e trocar ou pedir sua grana de volta.
Metal Reunion Zine- Lançamento digital, banda independente,
apoio financeiro para gravação zero... Encontrar um selo para lançar um álbum
não é nada fácil, mas, mesmo assim, o Comando Etílico chegou a contatar algum
selo para lançamento e distribuição desse novo álbum?
Hervall - Certamente, Valterlir. Contatamos alguns e fomos
contatados por outros. Ao fim, venceu o bom senso de sermos independentes (como
sempre fomos). Propostas fantasmagóricas e condições de parceria que
desvalorizam por completo a nossa obra. Estamos fora! Não somos famosos, mas
somos limpinhos! Alguns até falam “matematicamente” (risos)... Como se, além de
todo o investimento monetário que uma banda faz durante o processo de concepção
de um álbum, a arte ainda pudesse ser mensurada.
Metal Reunion Zine- Algumas músicas/conteúdo lírico do novo
disco fazem alusão ao modo de vida Headbanger, mas “Atlântida” segue outra
temática... De onde veio a inspiração para as letras contidas em “Heavy Metal
Réu”?
Hervall - Crônicas do submundo das ruas sempre rodearam a
poética de nossas letras. Tais temas são parte do que somos e do que nos
propomos enquanto banda. Ao mesmo tempo em que sempre tivemos nos discos
anteriores letras de conteúdo histórico ou mitológico, temas universais.
Especificamente sobre a liberdade nos temas, não abrimos mão dela. Muitos
imaginam o Comando Etílico como uma banda que só cria temas ligados a farra e
som... Não é bem assim. Abordar temas distintos e meter o dedo na ferida dessa
sociedade podre é necessário e salutar. “Heavy Metal Réu” traz o conceito de um
representante do clero sendo julgado por seus crimes; “Rebelião” aborda uma
revolta em prol da redenção de um povo oprimido; “Tormento” relata a força e
coragem de um povo ao defender suas famílias de uma tirania escravocrata, etc.
Tudo escrito de forma metafórica e atemporal. Ao passo que relatar nossas
experiências do cotidiano também nos agrada.
Metal Reunion Zine- O início do álbum começa com a
interessante instrumental “A Queda do Martelo”. Um bom modo de abrir um disco
de Heavy Metal. Mas de onde surgiu a ideia de colocar esse título para essa
música instrumental?
Hervall - “A Queda do Martelo” representa o ato proferido
por um Juiz ao inocentar ou condenar o réu. Sempre com um martelo ou malhete em
punho. Esse título faz referência ao conceito impresso na capa de nosso disco.
Metal Reunion Zine- O título do álbum, bem como a sua capa,
fazem alusão a clássicos do Heavy Metal. O intuito com a capa e o título foi de
fazer uma homenagem ao Stress e ao falecido Dio?
Hervall - Não! Sobre o título, é um jogo com palavras usando
a fonética e nada mais que isso. O que seria a tradução livre para “Heavy Metal
Hell”... “Heavy Metal Infernal”, transformou-se em “Réu”, referente a figura
representada pelo padre, julgado e condenado por crimes escusos, etc. O Dio e a
banda Stress são inspirações para nós, mas não neste caso. Muitas capas se
parecem com muitas outras capas ao redor do mundo. Algumas realmente
intencionais e outras não.
Metal Reunion Zine- O novo álbum traz uma regravação para
“Estação Antiga”, música presente na Demo “Metal & Prazer” (2007). A música
foi regravada para apenas fazer parte de um álbum do Comando Etílico ou há um
carinho especial por ela, que desde os primórdios faz parte do ‘set list’ dos
shows?
Hervall - Pensamos em regravar uma música de nosso primeiro
registro e “Estação Antiga” veio como escolha unânime. Foi realmente uma opção
e não algo para preencher uma lacuna qualquer no disco. Essa música é especial
para nós e para muitos bangers de Natal/RN, que fizeram e fazem parte de nossa
carreira enquanto banda. Foi uma boa escolha.
Metal Reunion Zine- Atualmente uma banda de Heavy Metal não
apenas lança discos ou tocam ao vivo. O leque de merchandising cresce cada vez
mais, não ficando somente na venda de CDs ou camisetas. O Comando Etílico
pretender enveredar por mais algum tipo de merchandising? Por exemplo, cerveja?
Hervall - E por que não estaríamos? (risos). Mas o foco
sempre será a produção musical e nunca a grana. Ainda precisamos compor e
gravar o nosso disco perfeito e ele sempre será o próximo, pois essa busca
nunca acaba. Sobre uma cerveja com nossa marca, isso seria muito interessante.
Alguns papos já rolaram com alguns produtores de cervejas artesanais... Mas,
sempre foram papos superficiais. A ideia existe... Talvez um dia possamos
brindar em comemoração a concretização desse projeto.
Metal Reunion Zine- Algumas músicas contidas no novo álbum
já estavam sendo tocadas ao vivo. Com o lançamento desse disco, como será
montado o ‘set list’?
Hervall - Sim. Duas ou três músicas já vinham sendo
executadas ao vivo antes mesmo de o disco ser lançado. O ‘set’ é montado de
acordo com o que consideramos conveniente a cada show. Cada cidade por onde
passamos/tocamos tem uma realidade distinta e isso influência muito no gosto
musical de cada região. Algumas turmas gostam de sons mais rápidos, outras de
sons mais pesados, etc. Nosso ‘set list’ não é “engessado”. Buscamos fazer um
show que possa ser intenso em sua totalidade. Musicas como “Ritual” e
“Rebelião” de nosso primeiro EP são sempre pedidas, ou seja, nosso ‘set’
costuma ser um apanhado de todos os nossos registros, variando músicas entre os
shows.
Contatos:
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Red Queen
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