Há tempos
o underground carioca não vivia um momento tão positivo no que diz respeito à
qualidade do som produzido pelas bandas locais.
O cenário, antes dominado pelo
metal extremo e infectado por uma quantidade razoável de bandas cover ruins —
que mesmo pagando mico, ainda eram uma prioridade na agenda das casas de shows
—, começa a respirar novos ares e nomes representando diversos subgêneros
dentro do rock vêm surgindo, impulsionados sobretudo pelo mais eficiente meio
de divulgação já criado: o boca a boca, agora amparado na eficiência e
praticidade do Facebook.
Por mais que o estilo varie, a
fórmula não muda. De despretensiosas conversas em mesas de bar a ensaios
esporádicos onde ideias são colocadas em jogo, nasce a música. E de música em
música vai se estabelecendo um conceito, uma diretriz a ser seguida. Diante da
falta de incentivo e de produtores que mais parecem vampiros sedentos por
sangue, o que resta aos grupos é o bom e velho do it yourself, acrescido nas
entrelinhas do princípio keep it simple, stupid. Quando há união em vez de
competição, as chances de obter êxito são ainda maiores. No fim das contas, o
músico acumula um punhado de funções, mas isso também garante que as coisas
sejam feitas exatamente à sua maneira.
Na última sexta-feira, 4 de
outubro, foi realizado o primeiro evento da Heavy Stuff, iniciativa que busca
promover músicos e bandas independentes do Rio de Janeiro "do rock n' roll
ao grindcore" através de eventos, a princípio, bimestrais. O local para
essa edição de estreia não poderia ter sido outro se não o bar Calabouço, que
desde a sua inauguração, tem se estabelecido como ponto de encontro do público
headbanger que preza por um bom atendimento e quer muito mais do que comer
batata frita ouvindo som mecânico.
A primeira banda a subir ao
palco foi o Kahbra, realizando sua estreia nos palcos cariocas sob o comando do
baixista/vocalista Jonas Araújo, que é também o principal idealizador do Heavy
Stuff. Em pouco mais de meia hora, o quinteto respondeu à expectativa do
público com um ataque sonoro agressivo, mas com contornos stoner muito bem
definidos. Se na primeira metade do show, a impressão era a de que haviam
sabotado o equipamento de Warren Haynes — guitarras com afinação baixa e
timbragem que conferia às seis cordas um som parecido com o de uma motoserra,
da terceira música em diante o que se viu foi algo como Black Sabbath anos 1970
fazendo versões de Rage Against the Machine.
Sem nenhum material lançado até
agora, o Kahbra manteve todo mundo de olhos e ouvidos atentos e se despediu com
a certeza de ter deixado os presentes ansiosos por novidades.
Em seguida, foi a vez da
Boreal Doom, que como o próprio nome já diz, aposta numa sonoridade mais
atmosférica, temperada com vocais típicos de death metal, numa mistura fúnebre
que se por um lado não combina com o headbanging, por outro perfura os tímpanos
como estalagmites sonoros.
Combinando
death e thrash de categoria internacional, o Ágona fechou a noite com chave de
ouro em extenso setlist misturando novidades do full length Homo Grotescus,
como o single "Unon", com canções de EPs lançados anteriormente.
Ao
que tudo indica, o Heavy Stuff chegou para ficar e ditar novas ordens no
underground carioca. Que o rock do Rio se fortaleça e o público compareça! Para
acompanhar é só curtir a página no Facebook:
Por Marcelo Vieira
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