Metal Reunion Zine

Blogzine fundado em 2008. Reúne notícias referentes a bandas, artistas, eventos, produções, publicações virtuais e impressas, protestos, filmes/documentários, fotografia, artes plásticas e quadrinhos independentes/underground ligados de alguma forma a vertentes da cultura Rock'n'Roll e Heavy Metal do Brasil e também de alguns países que possuem parceiros de distribuição do selo Music Reunion Prod's and Distro e sua divisão Metal Reunion Records.



sábado, 28 de dezembro de 2013

Beast Conjurator: O velho culto e o ruído selvagem que vem do subterrâneo. Entrevista.

A banda pernambucana Beast Conjurator surgiu como um simples projeto, em 2009, porém tomou forma de banda pouco tempo depois e vem ganhando bastante espaço no meio Underground, inclusive tocando em outros Estados nordestinos. O grupo, que tem em sua formação C Le Sorcier (bateria), Sphynx e Nyarlathotep (guitarras) e The Dunwich Horror (vocal/baixo), é adepto do Death Metal, feito nos ‘velhos moldes’, e que sofre bastante influência do velho Hellhammer e Celtic Frost. Apesar do pouco tempo de formado, o Beast Conjurator, além dos diversos shows, já tem três materiais lançados, uma Demo, intitulada “The First Conjuration”, um EP, intitulado “Born From the Darkest Entrails” e uma coletânea em K-7, que compila esse dois lançamentos e recebe o título de “Strange Aeons”. Mais informações na entrevista a seguir.

Metal Reunion Zine – A Beast Conjurator começou a tomar forma em 2009, mas surgiu como um projeto do guitarrista Sphynx e do baterista C. Le Sorcier. O que ambos pretendiam inicialmente com esse projeto?
The Dunwich Horror – Saudações, Valterlir! Camarada de longa data e eterno apoiador do subterrâneo Metálico nacional. O Beast Conjurator, como fora dito, teve início em 2009e.v. quando Sphynx (ex-Stormblood, Carrasco, Seven Candles) compilou uma série de composições escritas durante anos anteriores e decidiucolocá-las em prática. Para isso, convidou C. Le Sorcier (ex-Bonebreaker) para assumir as baquetas e juntos iniciaram os ensaios. A princípio, a ideia era apenas a de aperfeiçoar as composições, gravá-las e lançá-las. No entanto, após alguns ensaios juntos, percebendo a maturidade e força que as músicas estavam adquirindo, ambos decidiram evoluir o então projeto para a categoria de “banda propriamente dita”, visando apresentações ao vivo, line up completo, etc. 

Metal Reunion Zine – O vocalista/baixista The Dunwich Horror entrou na banda em 2010 e, eu acredito, a amizade entre os integrantes da banda foi o principal motivo para que ele fosse chamado a integrar o Beast Conjurator. Houve outro motivo, além desse, para o convite?
Dunwich – No final de 2009e.v./início de 2010e.v. Sphynx e eu tocávamos juntos na extinta Stormblood. Na época eu atuava apenas como vocalista, mas já começava a dar meus primeiros passos no território das quatro cordas distorcidas. Como éramos camaradas de longa data e sempre apreciamos tocar entre amigos, foi extremamente natural que o convidado para assumir o posto de baixista no Beast Conjurator fosse eu, apesar da pouca experiência com o instrumento. Além disso, minha familiaridade com as temáticas as quais adotamos também veio a ser um diferencial interessante para a banda. No início eu apenas tocava baixo e escrevia as letras, os vocais eram feitos por Sphynx (nossos primeiros shows inclusive foram feitos dessa forma), porém, alguns meses depois, acabamos por decidir que o ideal seria que eu assumisse também as vozes.

Metal Reunion Zine – O primeiro trabalho da banda foi a Demo “The First Conjuration”, que mostra uma banda apegada aos moldes ‘Old School’ de se fazer Death Metal, mas ficou claro que o resultado final que a banda conseguiria atingir não foi alcançado. Mas como vocês avaliam o lançamento dessa Demo para o início do Beast Conjurator?
Dunwich – “The First Conjuration” foi gravada em apenas dois dias da maneira mais relapsa e ressacada que você pode imaginar! A ideia era termos algum material pra repassar pros bangers e pros produtores nos próximos shows, já que estávamos tocando ao vivo, mas ainda não tínhamos lançado nada. Então o que fizemos? Selecionamos três músicas nossas e um cover (Ave Hellhammer!) e convidamos Pedro (a.k.a. Peter Vitus, com o qual também toco no Witching Altar e no Seven Candles) para nos ajudar com a gravação. Marcamos um ensaio, ele levou alguns microfones, uma interface e seu computador e captamos a bateria em alguns minutos. No dia seguinte, Sphynx e eu fomos até o Big Mojo Homestudio, na casa de Pedro, para gravar as guitarras, as linhas de baixo e os vocais. O problema (?) é que na noite anterior saímos pra umabebedeira pesada! Acordamos no outro dia ressacados, gravamos tudo em algumas poucas horas e foi isso. Após algumas semanas remixamos o resultado final no J.A Studio apenas para dar uma “encorpada” no som, mas não fizemos qualquer tipo de edição ou masterização em nenhuma das faixas. Do ponto de vista “musical” o resultado final, em minha opinião, mostrou-se completamente baixo, com erros grosseiros de execução (principalmente na bateria), vocais sem impostação adequada e timbre de guitarra ineficaz. No entanto essa Demo soa EXATAMENTE como deveria soar, levando-se em consideração as condições em que foi forjada. E aí talvez entre a questão “velha escola” colocada por você. Somos adeptos desse molde mais “sincero”, analógico e cru de se fazer música pesada e isso se reflete na maneira como conduzimos as coisas por aqui. Contrariando qualquer julgamento ou norma pré-estabelecida por alguns indivíduos de como se encarar esse tipo de sonoridade, a recepção deste material por parte do público foi, e continua sendo, extremamente positiva. Acredito que eles consigam captar exatamente como todo o processo ocorreu e como ele se reflete no resultado final do material. Esta Demo foi, inclusive, relançada em CD-R (tiragem de 1000 cópias) por quatro selos nacionais (Nocturnal Celebration, Suprema Agonia, M.V.C.S e Ordo Kaos) e também em K-7 pelos selos equatorianos La Medula Espiñal e Luna Nueva.

Metal Reunion Zine – Nota-se que uma das principais influências da banda é os primórdios do Hellhammer/Celtic Frost. Levando-se em consideração que bandas como Apokalyptic Raids e Warhammer, além do próprio Carrasco (outra banda de Sphynx), já carregam influências latentes dos suíços, por que seguir essa linha sonora?
Dunwich – Hellhammer e (early) Celtic Frost são, e continuarão a ser, grandes influências para a música que produzimos, não apenas no Beast Conjurator, mas também em outras bandas nossas. São parte mais queimportante dos primórdios do que podemos chamar de “Metal extremo”. Admiramos e, acima de tudo, respeitamos muito isso. No entanto devo discordar de você neste ponto. Apesar de termos muita influência das bandas citadas, acredito que não podemos figurar entre o Apokalyptic Raids e o Warhammer (grandes bandas, por sinal) pelo simples fato deles serem bandas ‘worship’ (no caso do Apokalyptic Raids ao menos nos primeiros registros) voltadas quase que exclusivamente para a sonoridade ‘vomitada’ por Thomas Gabriel Warrior em seu período mais criativo. Falando especificamente do Beast Conjurator, o ouvido atento perceberá que nossas influências rastejam também por outras sendas caóticas...

Metal Reunion Zine – Mesmo com tais influências, notei que no segundo lançamento da banda, o EP “Born From the Darkest Entrails”, traz algo mais inerente ao Beast Conjurator, e sem fugir das raízes, a banda conseguiu uma boa evolução, se comparada a sua Demo de estreia. As composições que integram esse EP são da mesma época da Demo?
Dunwich – A diferença cronológica entre a demo e o EP é um fato anacronicamente interessante. A realidade é que nosso EP já estava gravado quando gravamos e lançamos a Demo! Gravamos as seis faixas que figuram no EP em 2011e.v., porém tivemos de engavetá-las por mais de um ano, pois não encontrávamos selos confiáveis para lançar o material. Enquanto esse artefato era mantido escondido, decidimos então por gravar a Demo (lançada independentemente em 2012e.v.). A qualidade técnica superior do EP explica-se pelo fato de termos gravado num estúdio maior e com mais recursos, além de termos levado muito mais tempo para finalizar o processo, incluindo uma mixagem cuidadosa e masterização. Apesar disso, 80% desse material foi gravado ao vivo, sendo adicionados posteriormente apenas as dobras de guitarra e os vocais. Com relação às composições em si, todas datam mais ou menos da mesma época, a diferença entre aqualidade dos materiais é meramente uma questão de recursos, momento e tempo disponível para o desenvolvimento do trabalho.

Metal Reunion Zine – O EP foi lançado pelo selo ‘gringo’ Hell Productions, da Tailândia. Como surgiu o contato entre banda e selo e como vem sendo a divulgação do nome Beast Conjurator fora do país?
Dunwich – Entramos em contato com Supalerk, dono da Hell Productions da Tailândia, graças a um amigo em comum (Freddy Thefox da Colômbia) que conhecia bem a nossa guerra em busca de selos para lançar o EP. Após alguns dias de negociação e a total aprovação de Supalerk com relação a nossa música, fechamos um acordo e “Born From the Darkest Entrails” ganhou sua primeira tiragem de 1000 cópias em CD profissional. A segunda tiragem ficará por conta do relançamento, também em CD profissional e com encarte estendido, encabeçado pelos aliados do Equador, La Medula Espiñal e Luna Nueva. A divulgação e distribuição do CD tem sido satisfatórias, principalmente na Europa e na Ásia, onde temos feito diversos contatos. 

Metal Reunion Zine – A principal influência, na parte lírica, é o escritor H.P. Lovecraft. Os contos de terror serão sempre a base para as composições líricas do Beast Conjurator?
Dunwich – Minha relação com a obra de Howard Phillips Lovecraft é antiga. Coleciono e pesquiso a produção do autor há alguns anos e quando propus aos caras que sua cosmologia fosse o cerne de nossa temática lírica, eles prontamente aceitaram (já que também são admiradores). Acredito que a atmosfera contida nos contos do autor (mais especificamente nos Mythos) se encaixa perfeitamente com a sonoridade quepropomos reproduzir e as letras, claro, são uma extensão disso. Nossa principal influência tem sido e continuará a ser a ominosa obra de H.P. Lovecraft, no entanto nossa temática lírica também abarca outros conceitos contíguos, como mitologia antiga e alguns elementos místicos/ocultos que me interessam em nível ar

tístico e pessoal. 

Metal Reunion Zine – Essa influência também se deu na parte gráfica, já que a capa do EP mostra um desenho bem influenciado pelos contos de terror...
Dunwich – Exatamente. A capa do EP, criada pelo talentoso artista Emerson Maia, é baseada diretamente em diversos elementos lovecraftianos e retrata, de forma aproximada, o cenário descrito na música “Evil Conjurations”.

Metal Reunion Zine – Recentemente um selo, também estrangeiro, compilou os dois lançamentos do Beast Conjurator e o lançou no formato K-7. Tendo em vista que esse tipo de mídia está praticamente extinta, como vocês analisam esse lançamento, para a história recente da banda?
Dunwich – Recentemente o selo Malaio Old Goat Corpse Records nos propôs lançar essa compilação (Demo de um lado, EP do outro) em tape profissional. Como somos admiradores do formato não demoramos a aceitar e acertarmos os detalhes para o lançamento. O resultado final ficou muito bom. Uma tape de fabricação profissional e com um encarte em papel laranja muito atraente. Quanto ao formato estar extinto eu devo discordar categoricamente. Além da tape ser um artigo sempre presente no Underground Metálico, com inúmeras bandas e selos independentes lançando no formato (isso significa a existência de todo um mercado ativo de produtores e consumidores), recentemente até mesmo gigantes como a Nuclear Blast voltaram sua atenção para a boa e velha fita cassete. Não me admiro se muito em breve grandes nomes da música pesada também passarem a ter seus materiais lançados em tape. Mas voltando a nosso habitat... As cópias que recebemos do selo estão se esgotando rapidamente, o que apenas reforça o meu argumento.

Metal Reunion Zine – O guitarrista Nyarlathotep foi o último a compor a formação da banda. Já vi essa formação ao vivo, e realmente uma segunda guitarra era necessária para a música do Beast Conjurator. O chamado de Nyarlathotep foi realmente em razão dessa necessidade?
Dunwich – Sim. Nyarlathotep IV (ex-R.I.P. Soldier, ex-Bonebreaker) uniu-se ao ‘coven’ apenas após as gravações dos nossos primeiros materiais. O motivo primordial de termos convocado-o foi a necessidade visceral da adição de uma segunda guitarra visando mais peso e versatilidade nas composições, principalmente nas apresentações ao vivo. Somos todos amigos há anos e ele já havia tocado junto a Le Sorcier além de estar familiarizado com nossa música. Estamos estabilizados como quarteto há mais de um ano e essa foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado.

Metal Reunion Zine – A banda, apesar de nova, já se mostra bastante ativa. Quais os planos a se colocar em prática em curto prazo?
Dunwich – Beast Conjurator tem nos mantido bastante ocupados e não vejo como isto venha a mudar num futuro próximo. Atualmente nossa maior prioridade é concluir o ‘track list’ do nosso primeiro full length e iniciar as gravações. Prevejo que isto venha a ocorrer entre o final de dezembro e o início de janeiro do ano que vem, já que ainda temos algumas apresentações ao vivo agendadas, bem como gravações com nossas outras bandas. Uma possível mini tour junto a uma antiga e conhecida banda de Death Metal recifense também está sendo cogitada para breve. 

Metal Reunion Zine – Para finalizar, deixem um recado para aqueles que estão lendo esta entrevista...
Dunwich – Em nome do Beast Conjurator agradeço-o mais uma vez pelo apoio e espaço, Valterlir! Um SALVE para todos os reais adoradores do Ancient Metal espalhados por este mundo condenado. Foda-se toda a escória falsa, permissiva e pretensiosa que infesta o subterrâneo nacional! Aos que desejam conhecer nossa desgraça sonora, adquirir material ou simplesmente trocar uma ideia, contatem-nos. Eterna seja a sombra qliphótica dos Grandes Antigos. AVE NOX! 

A/C Carlos Eduardo D. Queiroz. Caixa postal: 75. Recife/PE. CEP: 50.010-970.

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação


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