Metal Reunion Zine

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quinta-feira, 4 de abril de 2024

Navalha na Carne - Edição 26 - Um aforismo sobre COCAÍNA


Antes da "era da cocaína", a Bolívia prosperava com a produção de um produto agrícola diferente. O cultivo predominante era o da coca, uma planta nativa que desempenhava um papel central na cultura boliviana e era utilizada historicamente pelos indígenas para fins medicinais e rituais. No entanto, a virada dramática na história agrícola boliviana ocorreu com o surgimento da cocaína, que é um subproduto da planta Coca.

Você deve saber que, durante décadas, a cocaína teve usos legítimos, sendo vendida em farmácias para aliviar dores de garganta, inclusive de crianças. Essa substância era utilizada em tabletes, oferecendo alívio, antes de ser proibida devido a seus efeitos nocivos ao organismo humano. Curiosamente, a folha de coca mantém sua presença na cultura boliviana até os dias atuais, sendo utilizada em chás e com propósitos medicinais e até religiosos entre a população.

Citando a história, durante o século XIX, a cocaína era de fato comercializada livremente e até mesmo utilizada em produtos medicinais de uso livre para qualquer faixa etária. Em 1914, os Estados Unidos promulgaram a Lei Harrison, que restringiu a produção e a venda de cocaína, e em 1922, o Comitê de Coordenação de Narcóticos da Liga das Nações proibiu a exportação de cocaína para fins não medicinais.

A proibição generalizada da cocaína foi impulsionada por crescentes preocupações com os efeitos adversos à saúde e ao bem-estar social. A legislação internacional, como a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, reforçou a restrição do uso não medicinal de substâncias como a cocaína. Talvez porque alguém descobriu que a inalação do produto causava algumas alterações de estado no indivíduo que inalava a substância.

Uma analogia poderia ser feita com a proibição do álcool nos EUA durante a Lei Seca (1920-1933), que tinha seus traficantes também, chamados de mafiosos na época, igual a cocaína tem nos dias atuais, com alguns sendo chamados de chefões, igual aos mafiosos. Motivada por preocupações de saúde pública e sociais. Após a revogação, o álcool continuou sendo regulamentado, sugerindo que, se houver um uso seguro para a cocaína, a regulação e a educação poderiam ser abordagens mais eficazes do que uma proibição total. Mas isso seria para o caso de cocaína pura, sem estar malhada com gesso, fermento em pó e outros pós brancos que acabam sendo adicionados para aumentar o lucro de quem vende.
Sei lá, mas hoje em dia, alguém cheirar cocaína pura igual cheira esse pó que chamam de cocaína, talvez seria mais um problema de saúde pública por aqui.

Voltando para a Bolívia, na época da Guerra do Vietnã, rumores sugerem que a CIA, em busca de recursos para financiar suas operações clandestinas, teria incentivado e financiado secretamente o cultivo de coca na Bolívia. A cocaína produzida seria destinada às tropas americanas cansadas e desmotivadas, criando uma conexão sinistra entre a geopolítica e o narcotráfico. Curiosamente, ex-combatentes voltaram do Vietnã viciados em cocaína, alimentando ainda mais os rumores sobre a influência da droga nas operações militares. O mais curioso é saber que na época, o Vietnã não tinha histórico de produção ou tráfico de cocaína. Mas acreditemos que eram apenas rumores.

Até porque, não existem evidências confiáveis que confirmem a alegação de que a CIA incentivou e financiou o cultivo de cocaína na Bolívia. Afinal, é a CIA, se houvessem evidências dessa prática, seria um escândalo. Certo?
E eu não vou ficar aqui escrevendo sobre rumores que colocam a CIA em uma situação complicada, visto que eu vivo no país que tem a ABIN. Que é tipo uma CIA brasileira e me causa muito medo, a ponto de repensar se deveria ter escrito esse parágrafo.

Contrastando também, a Colômbia, outro país da América do Sul, muito conhecida mundialmente por seu café de alta qualidade, segue uma trajetória oposta. O café colombiano é celebrado em vários cantos do globo e valorizado, enquanto a cocaína tornou-se infelizmente seu triste contraponto. O nome de Pablo Escobar, por exemplo, está indissociavelmente ligado à ascensão do tráfico de drogas na Colômbia, transformando o país de um renomado produtor de café para um grande exportador de cocaína e responsável por mostrar para outros países latinos o potencial deste produto proibido.

Contudo, a crescente associação da cocaína com o crime organizado, vícios e tragédias humanas levou à sua proibição. Seus efeitos devastadores na saúde pública e o fortalecimento de organizações criminosas forçaram governos a impor restrições severas, resultando na guerra contra as drogas que ainda persiste em muitas partes do mundo. A transição de um cultivo agrícola tradicional para uma mercadoria nefasta é um alerta para os perigos da manipulação geopolítica sobre as escolhas agrícolas de uma nação.

Existe uma guerra contra as drogas; a cocaína parece que está no meio do "alvo" desta guerra, mas eu vejo uma série enorme de cortinas de fumaça, vindo dos governos e suas ações confusas, porém anunciadas como bem planejadas, quando analiso apenas o que todos nós assistimos na mídia convencional diariamente.

O tema é grande e complexo, daria para criar uma série falando de outros pontos sobre a guerra às drogas e o tal combate à erradicação da cocaína de nossa sociedade, mas pense... Qual outro produto ou investimento no planeta gera lucro de 1000% para quem "investe"? E quem investe em cocaína no Brasil? Se for a fundo, você poderá descobrir que os investidores, são pessoas que a maioria de nós nunca imaginaria. Mas paro por aqui.

Apenas pense nisso.


Para um próximo texto, vou começar a pensar sobre o crack, as cracolandias, a inércia e incompetência do estado em lidar com essa questão e com um custo alto para todos nós.

Alexandre Chakal é carioca, pai, publicitário, jornalista independente, designer, musicista, escritor, poeta, locutor freelancer, zineiro, editor do blog Metal Reunion Zine à mais de 15 anos.  Um eterno inconformado com o cenário social e as péssimas gestões políticas no país mais rico da America Latina.

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