Pernambuco é uma das
escolas mais potentes e influentes quando se trata de Death Metal, e onde
respeito e apoio a estes importantes que batalham na resistência e sonoridade
musical nos dias de hoje. Honrando os verdadeiros moldes do Death Metal, entrevistei a banda KrapulA,
respondida pelo grandioso Danilo Duca.
Confira!
Metal Reunion Zine- O
Underground nos presenteia de correrias, boas histórias, alguns estresses, mas
claro, amizades que saem de onde menos esperamos. Graças ao The Iguana's Attäck
Vol.1 conheci o KrapulA, mesmo já tendo visto uma matéria relacionada, mas no
ato acabei não conferindo. Entretanto, ao receber os áudios através do
grandioso Danilo Duca, não teve jeito: além de som para toda obra, é amizade
além de banda. Fala aí Danilo! Apresenta o KrapulA.
DANILO - Grato pelo
crédito, Hewitt. A participação na coletânea foi muito significativa para nós,
pois foi a nossa primeira participação em uma. Considerando toda a situação que
deixou o mundo descompassado, estamos bem (na medida do possível), com saúde,
cuidando da família e dos afazeres (profissionais, educacionais e, claro, os
relativos ao KrapulA). Temos uma rotina mais que puxada, mas afinco não falta.
Metal Reunion Zine- Com músicos de extrema competência devido aos anos de trabalho em vias de projetos paralelos, não é um mistério do que cada um ouve para distribuir os fatores nas faixas. A ideia segue a mesma desde o início ou passou por mudanças com a alteração de formação e conhecimento?
DANILO - Creio que
tenhamos reciclado as influências, e as alterações indigestas na formação
ajudaram a filtrar esse processo. Tentamos sempre manifestar novas leituras de
brutalidade, tanto que atualmente abordamos temáticas mais contundentes do
ponto vista geopolítico e social, haja vista que algumas mudanças ocorridas nos
últimos anos mostraram que a civilização ainda está fadada ao retrocesso.
Sonoramente falando, acredito que temos a formação com a melhor química, mas os
processos de composição e lapidação das pedradas não tem mistério: expomos as
ideias, mineramos os riffs e grooves que melhor apetecem para aquela proposta
pontualmente e não nos prendemos a rótulos. Todos têm liberdade para compor e
as ideias são tratados de forma homogênea.
Metal Reunion Zine- Com o nascimento em 1992, na época talvez as dificuldades fossem 10x pior que hoje em dia, foi isso que resultou o lançamento da demo "Breaking Teeth" em 1998?
DANILO - De fato, o
processo para engajar uma gravação era mais complicado, tendo em vista
dificuldades financeiras e técnicas, pois não tínhamos o conhecimento que temos
hoje. Mas já era tempo da banda ter algo registrado e à época fizemos um
esforço que a nosso ver foi compensado na dose certa com o tempo, porque foi a
demo que deixou nosso parco legado vivo. Não esperávamos, mas o registro é tido
como uma boa referência para os apreciadores do estilo mais chegados a nós.
Alguns tocam em bandas de brutal death metal formadas após a origem do KrapulA
e saber que tivemos ou temos influência no bom trabalho deles é nos deixa muito
feliz.
Metal Reunion Zine- Porque resolveram resgatar as faixas antigas, dar uma repaginada e lançar no EP "Ode To Chaos" 19 anos depois?
DANILO - Como a banda
passou muito tempo parada e a demo não teve uma distribuição/divulgação
adequada, calhamos em reaver o teor da "Breaking Teeth" e incorporar
duas composições da fase atual da banda. Foi um divisor de águas e ao mesmo
tempo um elo de ligação entre duas eras distintas, cujo hiato se deu por cerca
de 15 anos. Alcançamos antigos apreciadores e também gente mais nova. O
resultado vemos como satisfatório.
Metal Reunion Zine- "Ode To Chaos" possui uma lírica devastadora, um trabalho incrível que lembra muitas bandas americanas. Nesse contexto, as críticas e referências existentes com a ideia de combater atrocidades e religiosidade, foi considerado uma linha estética ligada aos temas quando foi criado o projeto/material?
DANILO - Boa
pergunta. No início, a temática era Gore/Splatter, muito em decorrência das
bandas que gostávamos. Quando do nosso retorno, já tínhamos decidido abordar
temas voltados ao enfrentamento do imperialismo e do conservadorismo, da
alienação em qualquer das vertentes, seja política, social ou religiosa e,
principalmente, fincar definitivamente que fazemos parte de uma frente
libertária. Mas o único fator que incidia na fase inicial da banda e ainda
influi na parte lírica é apontar a fonte da geração gratuita de violência: as
manifestações de ódio que todos presenciaram ao redor do mundo nos últimos anos
mostram que o ser humano ainda é muito influenciado e tendente à fantasias
supremacistas, cujo delírio pode transformar qualquer cenário em uma praça de
guerra. Isso gera muito enredo que pode ser lançado numa letra.
Metal Reunion Zine- É muito interessante todo o contexto sobre posicionamento, e óbvio, ter isso como uma arma na mão. Considerando que muitos se revelaram ao longo desses anos, o Krapula é direto e reto internamente e externamente em relação ao que pensam, então mantém a banda em constante movimento contra a corja reaça?
DANILO - Vejo que não
temos a mínima aspiração com retrógrados ou com os que são da "ala do
atraso". É uma pena ver muitos que curtiram a noite e dividiram palco com
você se portando como freiras e envelhecendo na alma. De minha parte, isso
ficou evidente quando, num show grande em Recife, um cidadão que usava a camisa
de uma banda crossover, ficou desmerecendo a tradicional roda que acontece nos
festivais(!). Na hora pensei: "Não podem se criar".
Metal Reunion Zine- Não só a música extrema, mas também outros meios estão infectados tomando nossa cultura, estratégia, educação e até nossos eventos, então é mais que uma batalha proteger o aspecto de identidade e ideologia, ainda mais com o tipo de som que executam. De onde sai tanta inspiração e ódio?
DANILO - O mundo nos
proporciona o manancial. A vida de muita gente é uma desgraça, então para
ajudar um ou outro a quebrar paradigmas, direcionamos um dia ruim para um
acorde, um riff, um fragmento de letra que seja. É um filtro muito adequado
para se manter o equilíbrio e empresta uma energia extra às composições. Temos
nossa ideologia, mas nosso entendimento não permite nos pautarmos em tendências
utópicas: sabemos porquê fazemos, sabemos como fazer e também até onde podemos
ir. E esse método de canalização é uma fórmula que está muito adensada no
cotidiano da banda. Acredito que jamais abriremos mão dele.
DANILO - O dito nicho
underground está poluído. Nenhum está a salvo desse contingente indigesto, seja
qual for (HC, punk, veias alternativas outras e muitas). Não tendo como evitar
a "invasão", ao menos é possível não gerar atrito: que criem o nicho
deles: ungido, reacionário e com um pé nos "padrões"). Infelizmente,
tratando do BDM, era pra ser o contrário: é um segmento musical muito violento
que denota ojeriza total ao panorama da sociedade como um todo. Mas por ter
obtido um apelo comercial muito grande, em razão das bandas mainstream do
estilo, a exposição midiática acabou por trazer fãs de outras vertentes que
sequer se identificam com as raízes do segmento.
Metal Reunion Zine- Porque será que um gênero como Metal que fala tanto de união, amor, causas importantes humanitárias possui tanto nazi?
DANILO - Aí está um
dos maiores mistérios da humanidade (risos). Mas lhe sendo sincero, não tenho
resposta para isso, mas acrescento: nunca podem ser aceitos pois representam
uma parcela imunda da população mundial. Afinal, como se identificar com um
regime que fez questão de expandir as divisas para subjugar e se autoproclamar
superior fazendo uso de tudo o que é hediondo? Nesse sentido, sou muito afeto
ao pensamento de Barney Greenway (Napalm Death), que não dá o menor espaço para
esses doentes.
Metal Reunion Zine- Vejo muitas pessoas deste meio usando desculpas que gêneros como o de vocês afastam regras sociais, causando atrito e criando fake news para fazer com que a música extrema não seja símbolo de resistência. O que acham? Vale lembrar de ataques virtuais e presenciais contra eventos abertos como Facada Fest e Hardcore Contra o Fascismo.
DANILO - Acho que
pelo fato que o assunto política (aparentemente) causava no meio underground,
passou-se muito tempo, na casa dos 30 anos, sem que se debatesse a fundo por um
grupamento considerável de frequentadores do meio. Resultou no que vemos agora:
um monte de "amadurecido" se identificando com o retrocesso que tanto
afeta o progresso da população, esquecendo (ou ignorando) que um dia curtiram
porque outros com pensamento libertário atuaram antes e em prol deles. Veja que
o ativismo não necessariamente precisa partir ou estar imerso na cena, mas a
pauta política de ações voltadas para o crescimento das nuances alternativas é
praticamente inexistente, afora a teia conservadora ter se estendido para todos
os segmentos. Ou nos organizamos, ou o underground deixará de sê-lo.
DANILO - Tema bem
polêmico. Mas, sabendo que não só no Brasil como em toda a América Latina tem
bandas excelentes de Death Metal, vai muito do interesse. Hoje em dia, os
meandros para se conhecer bandas novas são vastos. Fica na bolha quem quer. Se
não for isso, talvez exista um pé fixo no viralatismo, mesmo sabendo que o
apelo mainstream internacional é forte. Em contrapartida, as bandas têm de ter
na cabeça que mesmo o amador tem de fazer bem feito: a obrigação é oferecer
qualidade. Tem-se o freio e o contrapeso. Dá para equilibrar a balança.
DANILO - Apesar da
pandemia, que nos forçou ao distanciamento por medida de saúde, reduzimos a
marcha, mas seguimos compondo. Muitas ideias ainda faltam ser alinhadas, mas
considerando todo o enredo, mantivemos um bom nível de produção. Paralelamente,
aproveitamos para divulgar a banda nos veículos especializados e esperamos o
avanço na vacinação para, numa condição segura, realizarmos o show que será o
primeiro com a formação nova.
Metal Reunion Zine- Mesmo com Pandemia as bandas tentam lançar seus materiais, tantos anos depois da explosão do Thrash e Death Metal lá fora, o Brasil parou no tempo. Posso estar um pouco equivocado, mas lançamentos realmente relevantes daqui pra lá ficaram limitados. Vocês concordam que o mercado musical está fechando aos poucos as portas das fronteiras?
DANILO - Aí eu penso
que depende de como, onde e para qual público se está direcionando o trabalho.
A tecnologia impulsionou as produções independentes e muitas têm qualidade
altíssima, por isso as bandas são forçadas a investir em estudos e equipamentos
para mostrarem o seu melhor, porque, no final das contas, quem determina se tal
banda é ruim ou boa é o público que consome aquele estilo/material. Em que pese
um tática bem difundida é chamar os holofotes para si ou induzir essa
tendência, através da autopromoção forçada. Esse caminho jamais trilharemos
pois é a conduta mais pobre e medíocre que existe e deve ser paulatinamente execrada.
Quem dela se socorrer nada tem a acrescentar.
https://www.youtube.com/watch?v=L44McI3GEOc
DANILO - Penso que
todas as que se dedicaram, para ao menos manter a atividade, considerando toda
a sorte de fatores negativos, terão seu esforço reconhecido. Foi um ano de
muita penumbra e desestimulante, mas percebi muitas bandas boas lançando
material, físico ou virtual. Sobre a chegada de um lançamento com referência de
uma época pródiga do BDM, creio que tem duplo efeito: nos alinhamos com a
movimentação atual e também passamos a ficar ligados nos trabalhos das bandas
(a dita concorrência é bruta!), atuando por reciprocidade na divulgação. Temos
uma boa ligação com as bandas Death do Estado, o que facilita o fomento das
atividades de forma equilibrada e simultânea.
DANILO - Agradecemos
demais pela entrevista. Toda a ponte com os apreciadores do Brutal Death Metal
que não sejam afetados por pensamentos antiquados é bem-vinda. Repúdio total a
esses néscios. E um grande salve ao cenário nacional!
https://www.facebook.com/krapulaband/
Instragram:
krapulaextreme
Twitter:@krapulaextreme
TITULO: KRAPULA: ''O mundo nos proporciona o manancial''
AUTOR: Pedro Hewitt
EMAIL: metalpunkassociation@gmail.com
GRUPOS: Krapula
FONTE: Cangaço Radio Rock
LINK: https://
Fonte:
metalpunkassociation@gmail.com
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