Metal Reunion Zine

Blogzine fundado em 2008. Reúne notícias referentes a bandas, artistas, eventos, produções, publicações virtuais e impressas, protestos, filmes/documentários, fotografia, artes plásticas e quadrinhos independentes/underground ligados de alguma forma a vertentes da cultura Rock'n'Roll e Heavy Metal do Brasil e também de alguns países que possuem parceiros de distribuição do selo Music Reunion Prod's and Distro e sua divisão Metal Reunion Records.



quarta-feira, 9 de julho de 2025

Antiquus Scriptum desde 1998 erguendo a bandeira do Metal Negro. Entrevista

Entrevista realizada em maio de 2025 com a banda portuguesa Antiquus Scriptum, já com um tempinho de estrada nos subterrâneos. 

Esse bate papo foi realizado por nossa colaboradora Karina Aschmedai  da Blasmorfose Prods do Rio de Janeiro.


Metal Reunion Zine: Um grande salve Sacerdos Magus! Quero te agradecer por estar aqui nesse espaço! Para iniciarmos nossa conversa, gostaria que me falasse um pouco sobre o início do projeto e a origem do nome Antiquus Scriptum?

Sacerdos Magus - Saudações, Karina! Antes de mais, é um prazer falar para o longínquo & vasto Brasil e fazer parte da Metal Reunion Zine! Bom, Antiquus Scriptum começou no outono de 1998, mais propriamente a 8 de outubro de 1998, quando saí da horda, Firstborn Evil, uma banda de black metal que eu tinha nos annos 90, onde era baixista e que evoluiriam para os “The Firstborn”, a partir de 2000, já sem mim… No início, o projeto tinha elementos na formação, ensaios e chegámos a tocar uma única vez ao vivo em 1999, em Almada, a minha cidade, mas a partir desse anno, 2000, resolvi entrar em estúdio para gravar o 1º trabalho profissional do projeto, a demo “In Pulverem Reverteris”, sozinho, tomando conta de todos os instrumentos, apenas convidando o Helskir (Gustavo Vieira), meu antigo companheiro nos Firstborn Evil, para o trabalho de teclado e assim foi… A partir daí, o projeto virou uma one man band, comigo a fazer tudo e convidando músicos para participarem como convidados, como foi o caso dos irmãos Vieira, que me acompanharam cerca de 20 annos! O nome foi inspirado num trecho em latim, do enigmático 1º álbum dos noruegueses, Mayhem, "De Mysteriis Dom Sathanas", que diz: “De Grandae Vus Antiquus Mulum Tristis, Arcanas Mysteria Scriptum” e de onde aglutinei as palavras “Antiquus” + “Scriptum”, dando origem ao nome do projeto.

Metal Reunion Zine: Vi que sua discografia é muito extensa, incluindo inclusive um split com a Draugûl, onde vocês fazem tributos a grandes nomes do metal…  Como é seu processo de criação? Você compõe tudo sozinho? Sempre em português ou inglês, correto?

Sacerdos Magus - Sim, durante muito tempo, cerca de 20 annos, também, fui eu a compor tudo sozinho, acompanhado sempre de músicos do exterior, em estúdio, mas a partir de 2019, a seguir ao álbum, “Ahbra Khadabara”, desse anno, foram-me diagnosticadas tendinites, nos 2 braços e tive de parar de tocar guitarra e de compor, naturalmente e comecei a convidar músicos para me fazerem a parte instrumental, nos trabalhos sucessores e foi o que aconteceu, de facto… O projeto continuou, no entanto, a ser uma one man band, só que com músicos convidados, mas não virou banda por causa disso!... As letras são sempre em português & inglês, sim… com uma pequena ajuda do latim, mais nos temas épicos, mais antigos…

 

Metal Reunion Zine: A horda está ativa desde quando?

Sacerdos Magus - Como já disse, comecei a contar a partir de 8 de outubro de 1998, quando arranjei nome para o projeto e chegou o logo da banda, feito pelo Christophe Szpajdel, da Bélgica (Emperor, Borknagar, Old Man’s Child, Moonspell…), mas eu em 1996, 97 e isso, ainda como baixista dos Firstborn Evil, já compunha temas e interlúdios para um suposto projeto meu de black metal, que viria a ser Antiquus Scriptum, mas ainda não tinha nome, nessa altura...

Metal Reunion Zine:. E quanto às gravações, todos os instrumentos são com você?

Sacerdos Magus - Pois, já expliquei isso, na pergunta anterior… No início era, embora nunca tenha gravado nada completamente sozinho, isso nunca aconteceu, mesmo nos primeiros 20 annos, quando era eu a compor e a gravar quase tudo, mas atualmente, desde 2022, apenas escrevo as letras e estou a cargo dos vocais… na música, atualmente, só trato dos arranjos, samples e misturas atualmente, devido às tendinites.

 

Metal Reunion Zine: O som de vocês é um black metal ambient, bem cru e com passagens que remontam uma atmosfera caótica e sombria. Essa sempre foi sua ideia inicial ou teve alguma evolução ao longo do tempo?

Sacerdos Magus - Sim… voltamos à conversa dos primeiros 20 annos de projeto… Portanto, nos primeiros 20 annos da banda, era eu a compor e a gravar as guitarras e a sonoridade era um pagan black metal muito sombrio e puxado, iluminado por influências viking & folk, as a partir dos trabalhos de 2022, com as tendinites e a vinda de músicos de fora para gravar os instrumentais, o som foi gradualmente mudando de black metal, 1º, para um blackened death metal melódico, depois então veio o thrash metal, crossover e todas as influências que temos atualmente no projeto… O som mudou significativamente entre 1998/2019 e de 2022 até agora, sim…

 

Metal Reunion Zine: Quem são as principais referências da Antiquus Scriptum?

Sacerdos Magus - Olha… no início, era naturalmente mais o black metal, nomeadamente o black metal escandinavo, que veio da 2ª vaga, nos annos 90, que serviu de mote para tantos álbuns, como Bathory, Celtic Forst & Venom, claro! (1ª vaga), mas também Satyricon, Enslaved, Gorgoroth, Dissection, Mörk Gryning, Impaled Nazarene, Rotting Christ, Master’s Hammer, Emperor, Ancient, Swordmaster, Burzum, Mayhem e esse tipo de bandas, mas no som atual, as influências são mais de hordas de thrash metal e crossover, como M.O.D., S.O.D., D.R.I., Cryptic Slaughter, Mucky Pup, The Exploited, Slayer, Overkill, Anthrax, Nuclear Assault, Testament, Sodom, Kreator, Destruction, Tankard e esses espectros do thrash metal/hardcore, mas não só… há muitas influências, no som atual, de estilos como o beatdown hardcore, deathcore, ou trap metal, também, nos registos atuais!...

 

Metal Reunion Zine: E quanto às letras, quais são os temas abordados?

Sacerdos Magus - No início, enquanto o projeto tocou pagan black metal, era história antiga medieval, nomeadamente europeia, mitologia universal, lendas a batalhas do passado e esse tipo de assuntos, mas agora, com a sonoridade do projeto, mais virada para o thrash metal, dos anno 80 e hardcore, os assuntos que abordo, são naturalmente mais “modernos”, digamos assim e exploro agora questões, mais deste meio, como a nossa existência, neste planeta condenado, a condição Humana, questões sociais e políticas, a corrupção, as mentiras, a hipocrisia, o medo, a vida, a morte, as tenções mundiais, a ganância, a opressão, violência… enfim… todo um mote de assuntos mais contemporâneos, agora, a ver com as sociedades modernas e o mundo atual, para ter a ver com a sonoridade que fazemos agora.

Metal Reunion Zine: Você tem algum selo fixo que realize as produções da Antiquus Scriptum ou cada álbum são fechadas parcerias pontuais?

Sacerdos Magus - Durante muito anos, foi o selo alemão, Pesttanz Klangschmiede, onde pertence a Vegvisir Distribution, também, que me lançou todos os álbuns, em tiragens de 1000, ou 500 cópias, de todos os discos, mas atualmente, já não pertenço a nenhuma editora e gravo e edito o meu material recente, apenas em formato digital, no Bandcamp, YouTube etc… Foi uma decisão que eu tive que tomar, só lançar digitalmente, mas estou na boa com isso, pois a venda de CDs já não é, nem nada que se pareça, com o que era e estou bem assim… São os tempos modernos… ou nos adaptamos, ou acabamos…

Metal Reunion Zine: Entendo… aqui no Brasil nós esbarramos com custos altíssimos para produzir nossos materiais! Temos apenas uma fábrica de cd's na ativa, duas de vinil e nada de cassete… Cada vez mais caro, o que levam a uma dificuldade das bandas colocarem seus materiais na rua… Como é esse mercado em Portugal na europa em geral?

Sacerdos Magus - Como já disse, a venda de matéria físico, está em baixo, não só aqui, mas um pouco por todo o lado… Já não se vendem CDs, como há 30, ou há 20 annos, nem sequer como há 10 (!!!) e todo o pessoal está virado para o digital, para adquirir música, hoje em dia… O mercado, aqui, não é mau, quase todas as bandas ainda lançam em formato físico, de CD, vinil ou fita, o pessoal é que já quase não compra…

Metal Reunion Zine: Sim, e quanto às aquisições, o público costuma atender bem quando se fala de compra de merchan?

Sacerdos Magus - Como já disse, o público tem vindo a comprar cada vez menos, de década para década… Eu não me posso queixar, sempre vendi bem o meu material, de todos os trabalhos, já devo ter lançado mais de 10.000 cópias físicas, nos diferentes formatos, só que cada vez se vende menos e isso é ma realidade que veio para ficar. Claro que sempre há de haver o saudosismo pelo formato físico e gente a comprar o CD, vinil ou tape, mas já não é, nem de longe, o que era no passado e isso é uma realidade.

Metal Reunion Zine: A Antiquus Scriptum é uma one man band, como você lida com a questão de shows? Você se apresenta ao vivo?

Sacerdos Magus - Não. Pelas razões que já referi, não toco a vivo, mas é por opção, mesmo… eu gosto muito do estilo de bandas, mais nórdicas, como Bathory, Burzum, ou Darkthrone, que são compostos apenas por 1 ou 2 elementos e não se apresentam ao vivo e quero seguir esse caminho, eu também, em Antiquus Scriptum… Além disso, seria impossível fazer banda deste projeto, pois a maior parte dos músicos convidados atualmente, para tocarem comigo, são maioritariamente estrageiros e isso torna impossível formar uma banda convencional, para dar shows ao vivo…

Metal Reunion Zine: E em eventos, como é a sua cena local? Tem muitos eventos e o público comparece?

Sacerdos Magus - Sim, tem… não nos podemos queixar… Atualmente há muitas salas onde podemos ver as grandes bandas estrangeiras, que vêm cá, mas também as nossas próprias hordas, que abundam, igualmente, um pouco por todo o país… Portugal já não é aquele paíszinho, em que não se passava nada, em termos de metal, como era nos annos 80, com 2 ou 3 salas para tocar, sem condições nenhumas… Agora há muitas salas onde tocar é frequente haverem shows, quer de bandas estrangeiras, quer de nacionais e há muitas hordas, muitas salas, muitos shows, felizmente!... Há até o caso de imigrantes brasileiros, que se conheceram e se juntaram cá em Portugal, para fazer bandas, como é o caso dos Coastwise, banda de hard ‘n’ heavy nacional, só com elementos brasileiros!...

Metal Reunion Zine: Show! Magus, foi um prazer imenso ter você aqui connosco, em nome do Metal Reunion Zine agradeço demais e te desejo sucesso na estrada! Fique à vontade para fazer suas considerações finais!

Sacerdos Magus - O prazer foi todo meu, Karina e desejo-vos a maior sorte com a Metal Reunion Zine e com o vosso selo, Blasmorfose! Ao pessoal que está a ler esta entrevista e que gostas de metal, gostaria de pedir para serem unidos e não prejudicarem de maneira nenhuma os vossos companheiros, que andam nisto, igualmente cheios de esforço e para se apoiarem uns aos outros, ao invés de se andarem a tramar ou injuriar mutuamente… Não prejudiquem o vosso semelhante e sejam unidos na força do metal, pois o ódio e as injúrias, só irão poluir a vossa mente e as vossas almas, com veneno!! Um muito obrigado a ti, Karina e bons ventos aí par o Brasil! Longa Vida ao Heavy Metal!!! Abraços!

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Por Karina Aschmedai - Maio de 2025.

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