Metal Reunion Zine

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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da ópera rock do terror cotidiano - Segunda Temporada 2023 - #16

 
Rápida como um raio

Por Fabio da Silva Barbosa

 

Já fazia um tempo que estava sumida. Todo mundo achava que tinha morrido. É uma menina muito jovem, mas o crack já havia feito o estrago. Já tinha envelhecido a parte física e a mente estava completamente destruída. Quando a avistei de longe, pude observar seu modo de andar e o jeito de olhar com a cabeça baixa e os olhos virados para cima, como se enxergasse melhor dessa estranha maneira de baixo para cima.  Eram marcas que permitiam identificar logo de cara que ela estava muito alterada. Se passava da medida, apresentava logo estes cacoetes. Mesmo assim era meu caminho e tinha de passar por ali. Como sempre, ela veio me abraçar, dar um beijo no rosto e perguntar se eu estava bem. Antes mesmo de acabar de responder, ela já pedia um cigarro. Dinheiro ela aprendeu que não adiantava pedir, pois eu estava sempre duro. Enquanto acendia o cigarro para ela, aproveitei pra perguntar por onde andava. Como de praxe, ela respondeu que estava presa. Adorava essa resposta quando estava sumida e voltava a aparecer. Acho que ela se sentia importante dizendo isso. Mais tarde soube que ela estava na casa da família, por isso se apresentava menos magra e mais limpa. Quando a conheci, ela tinha apenas quatorze anos. Agora já era uma jovem adulta. A vida nunca foi fácil com essa garota. Passou pelo abandono da família, exploração sexual, conheceu as drogas e daí se envolveu com o tráfico. Ficou devendo na boca e sumiu da área onde inicialmente frequentava. Começou a morar pela rua perto da minha casa e me reconheceu desde a primeira vez em que nos reencontramos nessa sua nova fase. Conversamos um pouco enquanto ela fumava, mas logo viu um alvo passar do outro lado da rua, despediu-se rapidamente e atravessou correndo para pedir uns trocados. Fiquei olhando a desastrada travessia na frente dos carros e motos que faziam desvios cinematográficos na tentativa de evitar o atropelamento. Virei e segui meu caminho. Ouvi uns gritos e barulhos. Olhei novamente para a direção que ela tinha ido. Ela passou correndo por mim como um raio e o alvo estava com ar desorientado. Parece ter entendido logo no início que não conseguiria pegá-la na corrida. Acho que a ideia de pedir uns trocados, virou outra coisa durante a rápida interação que tiveram. Logo começou a juntar gente e o indivíduo explicava que tinha sido assaltado. Alguns falam em bater, outros em matar... Só sei que se fosse ela começava a tomar mais cuidado. Todos a conheciam por aquela região. Não dava para dar mole.

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