Metal Reunion Zine

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domingo, 28 de maio de 2023

ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da ópera rock do terror cotidiano - Segunda Temporada 2023 - #5

 

Mais uma, ou talvez outra, do velho poeta.

Por Fabio da Silva Barbosa

 

Lá estava o velho poeta com sua cabeça fermentando pelos vapores do álcool. A luz da lua deixava a claridade penetrar na escuridão da noite, enquanto o calor fazia o suor empapar cada ruga do escritor. Ele martelava sem parar os teclados de seu computador e palavras surgiam na tela luminosa. Os mosquitos interrompiam o momento mágico e a mão envelhecida coçava a parte atingida pela horrível criatura.

- Malditos insetos.

A todo momento estes demônios apareciam, principalmente mo verão.

Consultou a garrafa e viu que estava vazia. Foi até a dispensa buscar outra e aproveitou para passar no banheiro e dar uma cagada. Mal sentou e sentiu as contrações intestinais. A merda despencou de sua bunda, atingindo o vaso com fúria. Antes de levantar para conferir, já fazia idéia do estrago. Limpou o rabo e deu descarga. Ficou merda grudada pela louça. Como morava sozinho, não deu atenção a coisa. Ia tirando aos poucos, quando mijasse. Era usar a técnica de mirar em cima de onde quisesse que ficasse limpo.

Completou o percurso e pegou outra garrafa. Voltou até o computador e digitou mais alguma coisa. Pegou a garrafa, sedento. Percebeu o erro fatal. Havia esquecido de abrir. Passou a mão pelos cabelos e ouviu um barulho na porta da sala do primeiro andar. Olhou pela janela e viu uma pessoa com um manto. O capuz não permitia que reconhecesse quem era. Pediu que a pessoa se identificasse, mas ela não respondeu. Continuava dando suaves pancadinhas na porta e mexia na maçaneta.

- Puta que o pariu! Caralho! Porra!

O dono da casa desceu as escadas resmungando e ao abrir a porta, a visitante suspendeu a cabeça. Tratava-se de uma bela mulher. Ela retirou o capuz e o olhou profundamente.

- Boa noite, meu senhor. Venho até aqui oferecer rifas beneficentes.

- Rifas beneficentes? Tá de sacanagem? Tô aqui numa merda do cacete e você quer que eu faça caridade? E outra coisa.... Meu quarto fica no segundo andar. Por que quando perguntei você não disse do que se tratava. Ia ter evitado que eu descesse um monte de escadas com esse meu joelho fodido como está.

-Desculpe, senhor.

- E outra coisa... Por que está toda coberta com capuz e os caralhos nesse calor.

- Desculpe, senhor. É que estou muito doente e...

A mulher foi ao chão e o velho poeta tentou segurá-la

-Ai, porra. Era o que me faltava.

Entrou e telefonou para o serviço de ambulâncias que demorou um tempo expressivo, como de costume. Quando chegou, quis que o poeta acompanhasse a moça até o hospital. Ele disse que não iria e que já deixou-a do lado de fora mesmo, onde caíra, para não se aborrecer.

Depois de muita discussão, eles levaram a mulher e o velho homem entrou, fechou a porta e voltou a subir as escadas. Sentou na frente do computador e teria de reler o que tinha feito para pegar de novo o fio. Enquanto estava lendo, estendeu o braço até a garrafa.

-Puta que o pariu!

Novamente havia esquecido de abrir.

Nos vemos em junho!

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