Metal Reunion Zine

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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Headhunter DC: ''As metas surgem de acordo com o caminho que é seguido de forma ininterrupta'' - Entrevista

''2012, um número aparentemente sem qualquer simbolismo especial, cármico, místico que seja, mas que quando encarado como um então ano corrente logo nos fez lembrar da carga profética que o envolvia, a da predição de que o mundo como este que conhecemos hoje encontraria o seu fim absoluto, segundo o calendário Maia. A sensação foi a de que algo de abalar todas as estruturas, físicas, espirituais e transcendentais realmente se aproximava... e a passos rápidos.
2012 também marcou o 25º aniversário da banda de Death Metal mais antiga em constante atividade do Norte/Nordeste brasileiro – e certamente uma das mais antigas do mundo com esse mesmo status –, pioneiros da música extrema na “terra sem salvação”, Headhunter Death Cult. E se é de “abalo de estruturas” que estamos falando, é melhor que se preparem...''

Recentemente eu (Pedro Hewitt) e o brother João Victor antes de um show ao culto da morte no dia 27 de setembro de 2014 nos disponibilizamos em organizar uma entrevista ao front man do grandioso e profano Headhunter DC. Uma entrevista que Sergio ''Baloff'' Borges comenta sobre futuros planos da banda, algumas críticas, curiosidades e muito mais.

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Baloff, assistindo o Programa Heavy Metal Online percebi que o tema citado da vez foi ‘O quê você fala Sergio: nas letras, você prega fora dos palcos?’. Poderia nos explicar novamente com mais detalhe o que quis no depoimento do programa?
O que quis dizer foi, basicamente, que eu não sou um personagem. O mesmo Sérgio Baloff que você vê nas fotos dos discos, nos shows, o que expõe seus pensamentos em suas letras e em suas entrevistas é o mesmo Sérgio Baloff do dia a dia, uma pessoa que não brinca de ser metalhead, de ser ateu, anticristão e de ser contra o sistema podre que nos envolve, mas que realmente o é!

(Pedro Hewitt) - Levando em conta o ateísmo da banda e as fantásticas referências ao ilustre Nietzsche, no God’s Spreading Cancer..., a que devem essas passagens? Qual a chance de haver um material com a mesma referência?

Sergio:As referências a Nietzsche aparecem em algumas de nossas letras de uma forma mais direta desde o “...And the Sky Turns to Black...”, e devem-se a uma certa influência e inspiração que o seu trabalho exerce sobre mim enquanto pessoa e letrista. É bem provável que haja outras referências a Nietzsche em futuros trabalhos nossos, mas tudo acontece muito naturalmente, nada é pré-estabelecido.

Metal Reunion Zine (Pedro Hewitt) - Recentemente a Mutilation Records lançou um tributo a vocês (o ‘Born To Punish The Skies... A Deathmetallic Brotherhood In Darkest Mourning For God - Tribute To Headhunter D.C. Volume 1’) com bandas de real vínculo e ideologia. O que acharam da ideia? Saiu realmente como esperado?

Sergio: A ideia do tributo veio do Sérgio Tullula da Mutilation há alguns anos, e desde então foi algo que me deixou extremamente honrado. Seu recente lançamento só me deixou ainda mais honrado e orgulhoso, tanto pela concepção do tributo em si quanto pelas grandes versões de cada uma das bandas participantes, sem falar no depoimento de cada uma delas em reconhecimento à nossa história. O lançamento em geral saiu de forma impecável, a começar pelo seu booklet de 24 páginas com uma página para cada banda, algo muito difícil de se ver nesse tipo de lançamento, portanto a Mutilation está realmente de parabéns por tão grandioso lançamento, e as bandas, por suas grandes e irrepreensíveis participações. Mais do que um tributo a nós, uma verdadeira congregação deathmetálica pela causa do Metal da Morte Underground! Confiram!

Metal Reunion Zine (Pedro Hewitt) - Não esqueço da primeira vez que ouvi um amigo dizer: ‘’Cara, o Baloff odeia o Possuídos pelo Cão, nem comenta isso com ele’’, porquê no caso a banda ironizou o Possessed (Uma banda que você é fã desde 85’). Com isso, na época do finado Orkut resultou em uma repercussão de alto nível que até você mesmo não esperava. Então, hoje em dia as sátiras andam rolando soltas, o que você acha de bandas que ironizam o ‘’trabalho’’(Como o Gangrena Gasosa, por exemplo)? E se possível explique aos que não sabem em relação a essa treta desnecessária que ocorreu no Orkut.

Sergio: Cara, desculpa, mas prefiro nem mais comentar a respeito disso, pois isso pra mim faz parte do passado e não acrescentou em nada em minha vida e nem na história de minha banda. Tudo o que foi expressado por mim naquele episódio foi explicado e reexplicado... Por quem não entendeu (ou pior, não quis entender) só me resta lamentar. Não odeio ninguém por causa daquilo, apenas me expressei a respeito usando o meu direito de ir e vir; fui (e sou) movido pela paixão e não quis criar treta com ninguém... o problema é que teve gente (gente?) que quis se aproveitar daquilo pra aparecer e a coisa tomou uma proporção que não era pra tomar, mas disso a cena tá cheia, como você sabe. Esse lance de gostar e apoiar sátiras ou não vai da cabeça e do bom (ou mau) gosto de cada um. Eu, por exemplo, não curti quando o Exit 13 satirizou a capa do “Black Metal” do Venom colocando o bode fumando maconha, mas não estou aqui pra impor minhas ideias a ninguém, então quem acha bacana ser chamado de “molecada 666” e acha que TUDO no Metal é “ironizável”, então boa sorte!

Metal Reunion Zine (Pedro Hewitt) - Nos últimos anos observamos a grande banalização do Extreme Metal como a real filosofia e arte, sendo causada pela exploração de mídias variadas, e que infelizmente surge uma nova geração que envergonha os mais Olds e outros novos que se esforçam  para ver o underground crescer. O Underground, o rock, o metal é uma contracultura, não um modismo de inverno. Qual sua posição sobre o assunto?

Sergio: Isso tem muito a ver com a questão anterior. A banalização está aí, é mais do que notória, e quando há pessoas dentro da própria cena que ajudam a potencializar essa banalização, aí a coisa foge totalmente ao controle e vira que está hoje aí. O verdadeiro radicalismo conhecido em meados/final dos 80s e início dos 90s existia para, entre outros aspectos, tentar impedir essa banalização do Underground, manter as coisas como em seus primórdios, voltadas apenas a um grupo específico de pessoas que possuíam ideais e ideologias em comum, mas mesmo com o empenho desses fiéis guerreiros do passado que sempre remaram contra a maré dos modismos e tendências, tudo passou de um Culto para, em grande parte, um verdadeiro festival de banalidades. Felizmente ainda existem as exceções, e é para esses que o nosso árduo trabalho é totalmente dedicado. 

Metal Reunion Zine (Pedro Hewitt) -  Em 2009 vocês tocaram aqui ao lado do grande OMEN (Tour – In Metallic Blood We Trust) dos EUA e StrikeMaster do México. Hoje, em 2014 o que espera do show apesar de toda mudança no underground?

Sergio: O show de Teresina em Setembro foi memorável, assim como o de 2009. Foi grande rever os amigos e ter conhecido pessoas novas, além do que contamos com uma produção de primeira e que nos faz descobrir que nem tudo está perdido em termos de estrutura e conscientização de cena aqui no Brasil, e aqui mais uma vez deixo o meu muito obrigado ao Laenio, Drienio e todos do Bueiro do Rock, assim como ao público que lá compareceu. Espero voltar em breve! Quanto à essa mudança no Underground a que você se referiu, isso já vem de longa data, não é algo que aconteceu de 5 anos pra cá, portanto muita coisa já havia mudado desde a nossa última passagem aí na cidade. Cabe a nós nos deixar levar por essas mudanças ou manter nossa postura intacta perante aquilo que ainda acreditamos e defendemos. Nós sempre optamos pela segunda opção.

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Para uma banda do Nordeste, hoje em dia, é uma vitória conseguir fazer uma turnê européia, e o Headhunter D.C. conseguiu isso recentemente. Nos conte como foi essa experiência e  sobre a recepção do público.

Sergio: O balanço que faço de nossa primeiríssima turnê na Europa em 25 anos de carreira (na verdade 27 já completados em maio último...), a “...In Unholy Mourning for God... European Tour 2013” é o mais positivo possível, com vários shows extremamente memoráveis, grandes encontros com fãs – novos e antigos –, novas amizades e contatos feitos, boa cerveja, boa comida (e às vezes não tão boa também...), alguns dias sem banho (como de costume...) e, é claro, alguns “perrengues” típicos de um giro como esse, mas o mais importante, entre aspectos positivos (em sua grande maioria, felizmente) e negativos é a sensação do dever cumprido em ter levado o Culto da Morte ao Velho Mundo com o mesmo furor e sangue nos olhos com os quais costumamos a espalhá-lo aqui em nossa terra, o Brasil. Finalmente pudemos ver ‘in loco’ aquilo que costumamos notar de longe, que é o grande respeito e admiração que os europeus têm pelo Metal verdadeiro feito do lado de cá do planeta, daí o fato de sermos uma grande escola realmente para uma legião interminável de bandas e maníacos mundo afora, o que nos faz questionar, mais uma vez, o por quê de nem sempre termos esse mesmo respeito dentro de nosso próprio país, mas isso já é assunto para uma outra conversa... Alguns shows foram marcados por uma brutal e calorosa recepção por parte do público, o que já é meio passo para se enquadrar em nosso conceito de “memorável”. Alguns deles foram em Wermelskirchen (Alemanha), Barroselas (Portugal), Mointaigu (França), Torelló (Espanha) entre outros, mas posso dizer que em todas as nossas apresentações fomos recebidos com muito respeito e reconhecimento pelo nosso trabalho. Já estamos estudando a possibilidade de retornarmos para uma nova tour em 2015 ou 2016. Aguardemos e vejamos o que acontece...

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Como a crítica europeia recebeu o '...In Unholy Mourning...'?

Sergio: Apesar do álbum ter sido lançado oficialmente na Europa apenas no início desse ano, o mesmo já havia recebido excelentes críticas por parte da imprensa europeia underground, com algumas publicações colocando-o como um dos melhores lançamentos de Death Metal de 2012. Ainda estamos em plena campanha do álbum com o recente lançamento de sua edição europeia, e novos reviews positivos vindos de lá têm surgido, o que mais uma vez nos deixa muito orgulhosos de todo o trabalho desenvolvido com o álbum.

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Já que estamos falando no álbum mais recente, fale um pouco sobre o processo de composição das músicas, como funciona

Sergio: Não trata-se de algo tão complexo. No caso de “...IUM...”, o álbum foi composto em sua íntegra por mim (músicas e letras) ao longo de 5 anos. As ideias surgem com bastante naturalidade, e posteriormente são passadas ao Paulo, que grava os riffs com as devidas “lapidadas” (quando necessário) e então tudo é passado ao resto da banda. O mesmo acontece com os arranjos de bateria. Depois tudo é desenvolvido durante os ensaios até finalmente entrarmos em estúdio e registrarmos o material. No caso de “...IUM...”, chegamos a fazer uma pré-produção do álbum, a qual iremos disponibilizar numa futura edição do mesmo em cassete. Aguardem!


Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Vamos voltar no tempo, nos primórdios do Headhunter. Que impacto o Headhunter D.C. e as outras bandas da década de 90 causaram na sociedade baiana e na casa dos integrantes ?

Sergio: Caos e pânico generalizado! HAHAHAHAHAAAAAA!!!!!!!! Na verdade, quando surgimos em 1987 não existia nada de tão extremo e podre em termos de Metal aqui na Bahia, então o impacto foi realmente grande perante os metalheads da época. Nossas famílias e muito menos a sociedade da época não estavam nem aí para o que era feito no submundo, no underground, e só algum tempo depois é que teriam que engolir o Culto da Morte como algo real e não efêmero. O Culto nunca morre!

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Você acha que o Metal vem perdendo a força nessa nova era da internet?

Sergio: Eu não diria que o Metal vem perdendo a força nesses novos tempos, e se tiver não é apenas por conta da Internet. Eu diria, sim, que o lado ideológico do Metal tem perdido espaço para uma visão cada vez mais superficial e de simples “entretenimento”, daí o fato do gênero ter sido cada vez mais encarado como mais um mero estilo musical, culminando na banalização já comentada anteriormente.

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues) - Provavelmente, o que mais esperamos do Headhunter DC, é o lançamento de uma Biografia falando sobre os momentos especiais e sua verdadeira história. Os fãs podem esperar ansiosos por isso ? Se sim, o que impediu o lançamento do registro?

Sergio: Se você se refere a um livro com a biografia da banda, sim, é algo que
está nos planos, ainda que, por enquanto, não seja uma prioridade de curto prazo. Algo assim demanda algum suporte, inclusive financeiro, e esse tipo de suporte é algo que infelizmente não é tão simples de se conseguir, ainda mais quando estamos falando de Underground. Veremos o que acontece mais pra frente. Quem sabe não rola algo assim para os 30 anos da banda?

Metal Reunion Zine (João Victor Rodrigues)- A banda Headhunter D.C ainda tem alguma meta a cumprir?

Sergio: As metas surgem de acordo com o caminho que é seguido de forma ininterrupta. Como disse, nada é muito pré-estabelecido em nossa jornada, mas o lançamento de um DVD oficial ainda é uma meta primordial a ser alcançada.

Metal Reunion Zine - Que dicas você daria aos jovens headbangers que desejam formar uma banda de Death Metal ?
Acho que antes de qualquer coisa o mais importante é ser você mesmo e fazer o que se gosta, nunca o que querem que você seja ou o que uma suposta maioria gosta, caso contrário ninguém o levará a sério. Death Metal pela paixão, não pela moda!

Por: Pedro Hewitt e João Victor Rodrigues

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