Metal Reunion Zine

Blogzine fundado em 2008. Reúne notícias referentes a bandas, artistas, eventos, produções, publicações virtuais e impressas, protestos, filmes/documentários, fotografia, artes plásticas e quadrinhos independentes/underground ligados de alguma forma a vertentes da cultura Rock'n'Roll e Heavy Metal do Brasil e também de alguns países que possuem parceiros de distribuição do selo Music Reunion Prod's and Distro e sua divisão Metal Reunion Records.



domingo, 13 de fevereiro de 2022

ARQUIVOS EXPLICITOS #1 - Contos e crônicas da opera Rock do terror cotidiano.

 
Há tempos atrás, tínhamos aqui uma coluna chamada “Navalha na Carne”, publicamos alguns textos de autores diversos, mas devido a correria do dia- a- dia, não conseguimos colocar mais conteúdos e ficou para trás nas postagens do Metal Reunion Zine.

Em 2022, temos a honra de iniciar a coluna “ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da opera Rock do terror cotidiano.”

Coluna que trará textos do poeta, escritor e locutor, Fabio da Silva Barbosa.

Entao vamos ao nosso texto inaugural. Boa leitura.

 Vômitos insólitos:

Fico imaginando alguma forma de me infiltrar e colaborar para o desconforto, para desacomodar e incomodar quem quer ficar fingindo que está tudo bem. Tanta gente mais sensível  se matando por simplesmente não suportar o que nos oferecem como as melhores opções... Um desejo de não se enquadrar nessa insanidade normalóide.... A sede pelo autoconhecimento... Então foi se formando, se construindo, a coluna ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da opera rock do  terror cotidiano. A ideia é estar aqui, de quinze em quinze dias, descascando a banana atômica na frente de quem quiser ver. Um trabalho voltado a raiva, aos vícios, a pornografia e a tudo o mais que você finge que nem existe... Coisa de gente doente que fica imaginando perversões alienígenas. Um convite para você entrar no subterrâneo pútrido do horror ordinário, comum, corriqueiro... A cada coluna, aquela sensação de ter sido atingido na boca do estômago.... e o vômito quente sendo expelido entre os dentes.... Somente contos, crônicas e merdas em geral imaginadas para estragar sua quinzena.  Abriremos o trabalho com AZEDUME, essa terrível história de dor.

 AZEDUME

Por Fabio da Silva Barbosa

Gastou novamente o pouco dinheiro que tinha com drogas de qualidade duvidosa.  Deixou para abrir a bucha quando a ponta já tivesse queimado os dedos e a própria boca. Esticou três linhas grandes – Lacraias bailarinas e sedutoras. A trilha sonora já estava organizada.  A banda portuguesa “Vômito” jorrando “Eu não quero” por toda a eternidade. Terminava e começava sempre de novo e de novo.

Mandou a primeira enquanto ouvia a mensagem.

“Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado”

Não sabia como iria sobreviver sem álcool e cigarros nos próximos dias. Não tinha uma moeda se quer... e mesmo se tivesse... Impossível aquentar as coisas como estão.
Pensou em um milhão de coisas ao mesmo tempo. Resolveu partir pra segunda. O prazer e o desconforto copulavam freneticamente no galope do sexo selvagem.

Lembrou da garrafa de cachaça que estava pelo final. Ainda restava quase uma dose.

Virou a garrafa de cabeça para baixo e sacudiu para ver se saía mais alguma coisa. Só faltou torcer.

Revirou as gavetas para ver se encontrava alguma boleta perdida.

Pensou no momento em que vivia. Governo assumidamente autoritário (A diferença histórica consistia nesta palavra: assumidamente), crise, repressão, pandemia... Só amargor.

E nas caixas de som continuava martelando a mensagem punk libertária:

 

“Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado”

Olhou para a terceira linha. Era a vez. Fuuuunnnnngggggaaaaaa....

 

Fim do primeiro ato.

Fim de mais uma noite.

Desce a cortina sobre o corpo convulsivo e a mente agoniada.

Fica o desejo de quero mais.

Mas nas caixas continua sendo gritado aquele desejo mais puro... Sendo berrada aquela afirmação que seria a única certeza.

 

“Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado

Eu não quero ser soldado”

 

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*Fabio da Silva Barbosa atua em diversas frentes. Lançou e-books, livros, zines, jornais, PDFs... veículos de comunicação em vários formatos. Organizou eventos, faz programas de rádio, produziu vídeos... Entre suas realizações está o zine Reboco Caído. Este zine ganhou o prêmio Fanzine 2016, no segundo Gibifest de Alvorada, em 2017. O Reboco Caído circula em versão impressa e digital, já conta com mais de dez anos de existência e passou do número 60. Além do trabalho solo, Fabio atua em coletivos e fundou com Diego El Khouri a Editora Merda na Mão.

 

Fonte

Metal Reunion Zine

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