DORSAL ATLÂNTICA
“Canudos”
Independente – Nac.
Não consegui resenhar o “Imperium”. Ele está ali, na minha
discografia da Dorsal Atlântica. “Canudos” eu recebi no final de novembro/2017,
autografado por Carlos Lopes, com data de 16/11/2017. O disco fez parte de
outra campanha e financiamento, e sua gravação foi possibilitada em razão do
apoio dos fãs da banda (eu incluso). Mas, por quase três anos, eu não consegui
sentir segurança para resenhar esse disco. É uma obra que vai além da
musicalidade. Quando eu pus o CD para tocar foi igual a um ritual. Eu sou fã
dessa banda, quem me conhece sabe muito bem disso, então foi algo para se ouvir
com cuidado e sabendo que o que ouviria não era um simples disco de Heavy
Metal. E foi esse o primeiro impacto, pois foi um disco que não foi digerido na
primeira ouvida, nem na segunda, na terceira... É um disco com uma musicalidade
muito complexa, mas soando Thrash Metal, em português, político, fazendo um
paralelo, lírico, com a situação política do Brasil da época. Não se digere
Dorsal Atlântica na primeira mordida, no caso, aqui, na primeira ouvida. E o
disco começa com “Canudos”, uma instrumental, aí vem uma pedrada atrás da
outra, sem ser aquele som usual, mas trazendo muito do que a banda já fez
(difícil digerir isso, né?). Os temas são um dedo na ferida - “Não Temos nada a
Temer”, “Um Minuto Antes da Batalha” - é tudo muito político, não irá agradar,
liricamente, ao Headbanger que escuta som pelo som. Até porque a influência de
música nordestina é muito latente e sem usar de batucadas. A parte instrumental
é muito musical, mas sempre repleta de peso, com os vocais fazendo parte dessa
musicalidade. Lembro que, na época, depois da segunda ouvida, viciei no disco,
e foram ouvidas ininterruptas, para ouvir cada detalhe, cada parte lírica.
Mesmo que eu discorde com algumas passagens líricas, sua maioria me representa.
“Sonho Acabado” - por sua levada, mezzo Thrash, mezzo regional -; “Cocorobo” -
atenção ao paralelo que essa música traça; a violenta - música e liricamente -
“Gravata Vermelha”; falei sobre violência sonora? Então não deixe de ouvir o
Thrash, praticamente um Hardcore, “Ordem e Progresso”... Esse disco, musical e
liricamente, é um insulto (ao conservadorismo). Não é fácil de digerir e foge
dos padrões, por isso soa tão Dorsal Atlântica. Gravação de alto nível. Produção
gráfica irrepreensível... Ao lado de Carlos Lopes, nesse disco, Cláudio Lopes
(baixo) e o falecido Américo Mortágua (bateria). Nunca haverá, novamente, um
“Antes do Fim”. Mas haverá o legado da Dorsal Atlântica, sempre. Hoje mais um
projeto que uma banda, mas trespassando o tempo e sem nunca se curvar aos
modismos da música. Um disco fantástico, ainda mais para quem sempre entendeu o
que a Dorsal Atlântica sempre quis dizer.
Site:
Resenha por Valterlir Mendes
Nenhum comentário:
Postar um comentário