Metal Reunion Zine

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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Entrevista com ROT. Confira.

Entrevista com ROT, atualmente  uma das referências relevantes que erguem a bandeira do Grind no underground brasileiro. Confira.

1. A demo “Prisoner of My Fear” nasceu em um Brasil completamente hostil pra qualquer som extremo. Como foi cuspir aquele material no meio daquele cenário podre? Que tipo de fome, raiva e caos movia vocês naquela época?

ROT: Era um contexto em que ainda estávamos vivendo uma liberdade de expressão que foi calada por vinte anos de Ditadura Civil-Militar. Tanto nós como um monte de gente não sabíamos muito bem o que fazer com aquela “liberdade” que a democracia restaurada havia nos dado. Éramos jovens entre 18 e 20 anos que havíamos passado por algumas bandas e experiências dentro da cena, e o grindcore foi uma válvula de escape para tudo aquilo que estávamos exalando.

2. O “Cruel Face of Life” é aquele tapa na cara que não envelhece. Qual era a urgência que vocês queriam despejar nesse disco? E olhando hoje, ele ainda reflete esse mundo miserável que vocês já denunciavam lá atrás?

ROT: Cruel Face foi composto sem muito planejamento, apenas ensaiávamos todos os finais de semana e sempre uma música nova. Sem cuidado, sem planejamento, apenas íamos tocando e reclamando das mazelas do mundo, tentando encontrar uma solução ou gritando por mudanças — ou até mesmo pelo fim da sociedade fodida. Mundo é mundo, ainda estamos em guerra, ainda há preconceitos, corrupção, fanatismo religioso, assassinatos em massa, miséria e fome. Só nos restou a música.

3. O split “Em Sincronia com o Fim do Mundo” junta duas hordas que fedem a podridão e inconformismo. Como foi esse trampo junto com o Facada? E qual foi o soco que vocês quiseram deixar registrado nesse lançamento, nesse cenário de fim dos tempos que a gente vive?

ROT: Um lançamento que nasce de um desejo mútuo. Quando fizemos uma tour pelo Nordeste do país (lugar onde demoramos mais de trinta anos para tocar), ficamos na casa do James (Facada) por alguns dias. Conversamos bastante sobre a vida e projetos, e ali firmamos um pacto. Só foi questão de tempo para ambas as bandas comporem o material e lançarem as músicas ao público. Tudo foi bem discutido, do conceito ao título do álbum. Espero que as pessoas curtam — e assumam de vez que as big techs vão jogar a pá de cal neste mundo moribundo, e não vamos conseguir fazer nada, a não ser gritar de medo ou inconformismo.

4. Nos anos 90, o grind aqui era mato queimado, puro sobrevivencialismo sonoro. Como era manter uma banda, tocar esse som, correr atrás de fita, zine, distros, no meio de um país que caga pro underground? Que tipo de guerra era viver isso?

ROT: Diga-se de passagem: a cena musical brasileira ainda caga para o underground. Era outro contexto. As pessoas ainda sabiam apreciar uma banda e seu trabalho. Tínhamos tempo para sentar em volta de um toca-discos e admirar as sonoridades diversas. Não havia celular ou mensagens via Messenger. A comunicação de massas se baseava em televisão, rádio e cinema. Parece até que tudo isso aconteceu há centenas de anos, mas a verdade é que o mundo não estava pronto. Felizmente, havia pessoas realmente muito afim de fazer as coisas: zines, revistas, algumas gigs (mesmo que precárias), ensaios nas casas dos amigos, trocas de fitas e ideias. Tudo isso foi o alicerce de tudo que temos hoje — seja pelo bem ou pelo mal.

5. O ROT sempre cuspiu discurso político, anticivilização, antissistema, antifarsa. Olhando pro grind de hoje, vocês acham que ele ainda serve como arma de protesto ou virou só mais uma estética vazia pra agradar algoritmo e festivalzinho hypado?

ROT: Infelizmente, o grindcore foi absorvido com louvor pelo mainstream. Tanto que vejo um monte de bandas tocando death metal e dizendo que são grindcore só porque têm uma letra politizada. Grindcore vai além do som — é um estilo de vida e protesto. Apesar de tudo, há muito ódio e bandas realmente comprometidas com o estilo, e isso me deixa bem feliz. Há um certo número de bandas que tive o prazer de ver ao vivo resgatando o grindcore primitivo com influência do hardcore. Ainda vamos ouvir falar deste estilo durante muitos anos e, o melhor: voltando às suas raízes de protesto com o pé no punk — como deve ser!

6. De “Prisoner of My Fear” até “Em Sincronia com o Fim do Mundo”, muita coisa mudou, mas muita merda segue igual. O que ainda pulsa no ROT que nunca vai ser domado? E o que o tempo inevitavelmente ensinou, seja na marra ou na resistência?

ROT: O ódio pelas injustiças sociais, o ódio pela sociedade segregacionista, o ódio pela homofobia, o ódio pelas plutocracias — enfim, o ódio por toda uma sociedade doente e moribunda, calcada no neoliberalismo.

Entrevista realizada por Henrique Cruz da Folha Subterrânea em Junho de 2025.

Fonte e colaboração FOLHA SUBTERRÂNEA 

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