Metal Reunion Zine

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terça-feira, 22 de abril de 2025

Entrevista com Zabbeth. Confira!

1. Seu som canaliza fortemente a essência da primeira onda do black metal. O que os motiva a manter essa estética crua e intransigente no cenário do metal extremo atual?

O álbum inteiro é baseado no debut do Bathory, e as faixas são inspiradas exclusivamente nas que foram compostas antes dele e lançadas posteriormente nas coletâneas Jubileum. Se você busca um som polido, este trabalho não é para você. Além do meu amor por esse som, eu realmente detesto o que o metal moderno se tornou: um espetáculo vazio e exageradamente técnico, que esqueceu da emoção. A primeira onda do black metal era visceral, suja e cheia de atitude — era a revolta sonora contra tudo. E é isso que me move. A sujeira, o erro, a imperfeição... tudo isso mostra que a música é feita por pessoas, não por máquinas. Quando você ouve um som cru, você sente algo real. Se está tudo perfeito, você está sendo enganado.

2. A separação com a Vaulderie criou uma atmosfera direta e crua. Como foi o processo criativo por trás dessa colaboração?

Foi direto e intenso. A Vaulderie havia acabado de lançar um EP pela Witches Brew e manifestou o interesse de lançar um split conosco. A Cheryl fez a ponte e tudo começou. Cada banda gravou suas partes separadamente, e todo o material veio para mim para mixagem e masterização. Como não toco bateria, chamei meu amigo Zain — um monstro das baquetas — que já toca com Halcyon, Saint Vermin, Horned Majesty e muitos outros. A missão era clara: fazer soar cru, ameaçador e rude, com os recursos que tínhamos. A arte foi feita em colaboração comigo e com o Vukodlak (Vaulderie), e foi encomendada ao artista Shaun Farrugia, que também toca comigo no Mur.Doc 104. Todo o processo foi underground até a medula — feito por nós, para quem entende a essência.

3. Em uma época em que o metal frequentemente se inclina para a modernização, como você vê a relevância de permanecer fiel à abordagem old school do black/thrash?

A energia da velha escola nunca morre. Bandas modernas muitas vezes soam incríveis por um momento... e completamente irrelevantes em poucos anos. É como fast food. Já o black/thrash old school é como carne crua, sangue escorrendo, sentimento nu. Inovação é válida, mas quando se perde a alma, vira plástico. O metal moderno está obcecado pela perfeição técnica, mas não entende que o caos, a falha, a fúria mal canalizada — isso é o que dá vida real à música extrema. Quando você tira isso, resta apenas uma carcaça brilhante. A relevância de se manter fiel ao som cru está em lembrar por que essa merda começou: pelo ódio, pela liberdade, pela necessidade de romper.

4. Como é a cena underground em Malta? Existe uma ligação forte entre as bandas ou vocês ainda enfrentam dificuldades para manter o movimento vivo?

Malta é pequena. Estamos falando de meio milhão de pessoas. O underground aqui é ainda mais diminuto, mas muito dedicado. Bandas como Apotheosis deixaram sua marca — uma verdadeira lenda no black metal daqui. Forsaken domina no doom, Beheaded é um nome mundial. E a nova geração está surgindo com força: Morsrot, Halcyon, Impertex, Sacroment, e claro, o Mur.Doc 104. É difícil fazer as coisas acontecerem por aqui, ainda mais quando sair da ilha já exige planejamento, voo, dinheiro. Mas o espírito está vivo. Não temos muito, mas o que temos, damos com sangue nos olhos. É por isso que cada show, cada lançamento, cada split é uma conquista. Não há espaço para preguiça.

5. A mensagem de Zabbeth é agressiva e sem remorso. Como você vê seu papel em manter vivo o culto do black metal cru e old-school?

Não vejo isso como uma missão ou um papel que devo cumprir. Não tenho esse ego. Sou só um cara que ama Bathory, ama fazer música, e que faz isso porque não consegue viver sem. Se as pessoas se conectam com isso, ótimo. Mas eu não estou aqui dizendo “olhem pra mim, eu sou o salvador do culto”. Não. Eu sou um devoto, como tantos outros. Apenas um ser humano entre bilhões, canalizando minhas visões e paixões em algo que ecoa. Se isso mantém algo vivo em alguém, fico honrado. Mas tudo que faço é por necessidade criativa. É uma expressão, não um legado premeditado.

6. Deixe uma mensagem final para os fãs do underground brasileiro — e para aqueles que ainda não descobriram o som áspero e impuro do Zabbeth. Considerações finais!

Se você é fã do primeiro álbum do Bathory, se aquelas guitarras cortantes e vocais desfigurados te arrepiam até hoje, então você vai entender o Zabbeth. Não estamos aqui para inventar moda. Não estamos aqui para reinventar o metal. Estamos aqui para lembrar por que ele nasceu. Este é meu tributo ao Quorthon, ao Bathory, à essência rebelde do underground. E se você está no Brasil, saiba que o respeito que tenho por essa cena é imenso — porque vocês sabem o que é manter o metal vivo apesar de tudo. Apoiem o underground local. Fodam-se as tendências. Que o culto siga impuro.

Ah — e para quem quiser ouvir mais, meu outro projeto Psychopath lançou o álbum Teratogenesis em 2020. Black/thrash nojento e direto na jugular. Tem coisa nova a caminho. Fiquem atentos.

Entrevista por Folha subterrânea  ( folhasubterranea@gmail.com ) - Abril de 2025

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