A banda pernambucana Sepulchral Whore surgiu no final de
2014/início de 2015, inicialmente como um trio, sendo atualmente um quarteto.
Com dois de seus integrantes advindos da extinta Beast Conjurator, a sua
musicalidade é forjada no velho Death Metal, com algo de primitivismo, mas
sempre procurando traçar o seu próprio caminho. O primeiro lançamento foi o EP
“Everlasting Morbid Delights”, lançado em 2017. Esse material de estreia foi
lançado por diversos selos ao redor do mundo, além de ser lançado nos mais
diversos formatos (digital, CD, vinil, K-7). O material ganhou bastante
respaldo e a banda fez alguns shows em sua terra natal. Mais recentemente, além
da entrada de um quarto integrante, a Sepulchral Whore disponibilizou,
digitalmente, o single “Chamber of Fear”. Saibamos um pouco mais da história da
banda nas palavras do vocalista/baixista Necrospinal e do guitarrista
Nyarlathotep IV.
Metal Reunion Zine - Antes de o Sepulchral Whore havia o
Beast Conjurator, que também fazia Death Metal calcado na ‘velha escola’.
Metade do Beast Conjurator se encontra no Sepulchral Whore e o único membro que
não fazia parte daquela banda era o baixista/vocal Necrospinal. Essa foi a
razão para se acabar aquela banda e iniciar o Sepulchral Whore: a mudança de
vocalista?
Necrospinal - Primeiramente, gostaria de agradecer aos membros do Metal
Reunion Zine e a você, Valterlir, pela oportunidade de relatar um pouco da
nossa ainda curta história. Agora respondendo sua primeira pergunta: a
Sepulchral Whore foi uma banda que nasceu independente e paralelamente ao Beast
Conjurator. Inclusive, quando a criamos no finalzinho de 2014 o Beast
Conjurator ainda existia, só encerrando atividades meses depois. A banda surgiu
da vontade que eu, Nichollas (Nyarlathotep IV) e Carlos (C Le Sorcier) tínhamos
de fazer algo autoral juntos, tendo em vista que enquanto eu tocava na
extinta Stormblood (Thrash Metal), tive uma breve passagem na antiga banda do
Nyarlathotep (RIP Soldier - Thrash Metal) e também com ambos, numa série de
ensaios para um evento ímpar no qual iríamos executar clássicos do Sodom, mas
esse show tributo em específico acabou não acontecendo e a nossa vontade de
tocar juntos ficou, pelo bom entrosamento que tivemos naqueles ensaios. Vale
salientar que a Sepulchral Whore, a princípio, seria uma banda de Black/Thrash
Metal nos moldes de bandas clássicas deste subgênero, tais como Desaster,
Nifelheim, Absu, Nocturnal, etc. Mas depois de alguns encontros e riffs que
criamos nos vimos inundados por sangue e Metal da Morte, então decidimos que a
nova banda seria um esquadrão ‘deathmetálico’.
Nyarlathotep IV - Antes de tudo, aquele velho e verdadeiro clichê:
obrigado pelo espaço meu nobre, Valterlir! A Sepulchral Whore teve início
quando a Beast Conjurator ainda estava na ativa. Logo, uma coisa não tem
correlação com a outra. Porém, posso afirmar que quando a Beast Conjurator
acabou, os 50% que era da banda se tornou 100% da Sepulchral Whore. Sobre a
questão sonora, a Sepulchral Whore tem um som de fácil entendimento, porém não
acho tão primitivo quanto você e muito amigos mencionam. Somos livres em
relação as nossas composições. Acredito que sabemos mesclar bem tudo que temos
como influência musical e vivência em outras bandas. Com isso erros de outrora
não acontecem. O Necrospinal é amigo nosso de longas datas e essa ‘Espinha
Necrótica Raivosa’ tem um talento e destreza incrível e anos atrás já tentamos
formar uma banda. Infelizmente ou felizmente não foi o momento melhor de nossas
vidas. Quando decidimos por em prática a Sepulchral Whore foi o melhor momento,
tanto é que a banda tá rolando como uma bola descendo ladeira. (risos)
Metal Reunion Zine - Em tempos de politicamente correto, o nome da banda pode
ser uma afronta a alguns segmentos. O nome Sepulchral Whore foi criado com o
intuito de chocar, de criar polêmica mesmo?
Necrospinal - Absolutamente não! Concebi a ideia do nome baseado na minha
faixa favorita do Slayer, “Necrophiliac” do Hell Awaits. Escrita por Kerry
King, essa letra narra um homem necrófilo que por sua essência tinha como
desejo entrar no cemitério na calada da noite para satisfazer seus desejos
sexuais, daí pensei em criar uma personagem oposta ao personagem de Kerry King:
Uma mulher adepta da necrofilia, que violava catacumbas a fim de realizar suas
fantasias mais sórdidas. Nosso primeiro EP tem vários elementos que remetem
essa intenção: desde o título, encarte, narrativas e também no final da faixa
Necromancer’s Rites, que se encerra com um sample clássico retirado da trilha
sonora do filme alemão de terror Nekromantik, do diretor/cineasta Jörg
Buttgereit (Alerta de Spoiler). Um filme que traz um casal, qual o namorado
trabalhava transportando cadáveres para um necrotério e um dia resolve levar um
cadáver para sua própria casa com a finalidade de apimentar a relação com sua
namorada. Assim é tomada a iniciativa de um ménage à trois, usando o
defunto como o terceiro elemento. A partir daquele momento, a necrofilia se
torna um vício habitual para ambos. Quem ainda não assistiu, essa trama doentia
é altamente recomendável para amantes de filmes gore/terror trash. Se qualquer
indivíduo olhar nosso logotipo com atenção, imediatamente se concebe que não se
trata de menosprezo misógino. Acima de qualquer alcunha, a mulher em questão é
uma espécie de ícone dentro deste conceito de horror; uma anti-heroína
(comparando a um anti-herói), por assim dizer. Respeitamos aqueles que possam
julgar o nome da banda como apropriação indevida de gênero, mas consideramos um
erro tentar nos tachar ou nos incluir num nicho de bandas machistas. Passamos
longe de bandas que narram e cultuam contos de feminicídio. Nossa personagem é
completamente o oposto, pois ela não é a vítima, é uma algoz e está de pé,
sorrindo em cima de uma pilha de cadáveres.
Metal Reunion Zine - A banda surgiu, oficialmente, em 2015 e dois anos depois
lançou seu primeiro material, o EP “Everlasting Morbid Delights”, que conta com
sete músicas. Vocês não cogitaram compor mais duas ou três músicas e de cara
lançar um álbum completo?
Necrospinal - Como você bem frisou, foram pouco mais de dois anos para o
lançamento desse material de estreia e essa demora se deveu pela
incompatibilidade de horários entre os membros, pois naquele período,
Nyarlathotep e C Le Sorcier trabalhavam sob regime de escala. Já no meu caso,
sempre trabalhei sob demanda aleatória, não tendo horário fixo, o que foi um
fator complicador de disponibilidade para ensaios, composições, etc. Por mais
que já houvesse meios tecnológicos para se compartilhar criações, não havia
tempo sequer para se escrever algo, mesmo que fosse de casa. Para entender
melhor, vale salientar que desde o início da banda tínhamos feito um acordo de
que não iríamos subir em um palco antes de gravar um material e,
consequentemente, sem antes ter sequer uma promo para oferecer a quem viesse se
interessar pelo nosso som mediante nossa performance ao vivo. Contudo, nossa
vontade de tocar ao vivo foi crescendo, o que forçou um sacrifício de fechar o
projeto de produção em sete faixas (seis músicas e uma intro). Dessa forma
iniciamos e encerramos a gravação, coletando duas faixas e produzindo uma promo
(não oficial - do it yourself) para ceder em nossa primeira apresentação ao
vivo (dezembro de 2016).
Nyarlathotep IV - Antes de entrar em estúdio, nós decidimos que faríamos
um EP, bem modesto. Mas nossa musicalidade fluiu de forma simples e prática; o
EP saiu um pouco longo. Sobre gravar mais duas músicas, poderíamos ter colocado
e lançar de cara um álbum completo, porém preferimos guardar nossas ideias para
lançamentos futuros. O lance do EP, temos certeza que foi a melhor escolha.
Metal Reunion Zine - Esse material foi lançado em tudo que é formato conhecido:
CD, LP, K-7 e digitalmente. Primeiro falando sobre a mídia digital, como uma
banda como o Sepulchral Whore, que faz um estilo mais primitivo de música, ver
o lançamento de seu primeiro trabalho nesse tipo de mídia?
Necrospinal - Vemos como algo natural e não como uma forma de seguir
tendência. Se olharmos no espelho, primeiro nos enxergamos como Headbangers e
depois que nos vem a ideia que temos banda e também criamos conteúdo. Sob o
olhar de consumidor e fã de música pesada que somos, a mídia digital nos dá o
privilégio de conhecer e ter acesso a bandas e discos que há anos (quando
começamos a consumir música) eram absolutamente raros, fisicamente limitados e
restritos. Com pouca grana, a gente sobrevivia e matava a vontade na base de
cópias dos vinis e programas de rádios em fitas K-7 regraváveis, que eram
ouvidas de trás para frente, de cabeça para baixo, etc., até gravar outro álbum
por cima daquela mesma fita. Ter vivido essa época nos faz considerar válido
qualquer registro feito por músicos (bons ou não) e por meios analógicos
(exclua música eletrônica dessa lista) e entender que as tiragens limitadas de
materiais físicos que antes eram privilégio de poucos (em uma época que muitos
fãs de Rock and Roll em geral eram limitados e não podiam expandir seus
conhecimentos) a facilidade atual estimula, inclusive, a criação de novos
grupos musicais. Um exemplo: Um jovem Headbanger que ainda não goza da
independência financeira, assim como nós não tínhamos em nossa juventude
‘rocker’, e perde a oportunidade de adquirir um material físico da Sepulchral
Whore uma vez que se esgote, as plataformas digitais vão dar a oportunidade
desse Metalhead nos conhecer e curtir nosso som mesmo dentro de suas
limitações. Mas como todo bônus tem um ônus, muitos fãs que jamais sofreram com
as dificuldades de acesso à música pesada e censuras de outrora, não valorizam
o esforço de quem cria. Se afogam no consumo de música digital por meios
gratuitos, mesmo tendo condições para fazer diferente. Muitos desses deixam de
ir aos eventos, de comprar merchandise e de contribuir de forma direta e
efetiva para que a engrenagem possa se manter funcionando. Esse é o lado
perigoso da história, que com o passar dos anos torna a chama ainda mais
branda.
Nyarlathotep IV - O lance digital é algo natural e uma ferramenta de fácil
divulgação nos dias de hoje. Logo, seguimos a demanda do nosso século. (risos)
Inclusive a digitalização do material ajuda muito na distribuição da nossa
mídia física. Então, as mídias sociais são de grande importância a qualquer
banda/artista.
Metal Reunion Zine - O CD é o formato mais conhecido, entre os Headbangers,
porém lançar o material em vinil e K-7 não é tão usual atualmente, tendo em
vista que os valores para lançar dessa forma são bem altos. Como surgiu a
oportunidade do lançamento em tais formatos e como foi a recepção/procura de
uma forma geral?
Necrospinal - De fato não é algo tão comum, mas há uma variante de acordo
com a cultura de determinada localidade/cena e podemos correlacionar isso tanto
no contexto do selo (investidor) como também dos fãs (consumidor). Sobre as
oportunidades, assim que terminamos a gravação do nosso EP, definimos design de
encarte, sequência de faixas, etc. Nós preparamos uma nuvem online contendo uma
pasta promocional restrita com arquivos para divulgação prévia do nosso
material e as chances surgiram a partir de uma série de contatos feitos pelo C
Le Sorcier e, apesar do histórico de nossos membros em outras bandas
relevantes, não houve feedback por parte dos selos ‘brazucas’, infelizmente.
Muito possivelmente em detrimento da instabilidade governamental e da crise
financeira instaurada propositalmente em nosso país, os selos nacionais
preferiram não apostar em uma banda ‘nova’. Já no exterior, felizmente, as coisas
fluíram de uma forma mais rápida, eficaz. Quem gostou do nosso som nos fez
proposta imediata, negociamos algumas condições e fomos fechando os lançamentos
aos poucos com os respectivos selos. A Metal Ways Records (México), nosso selo
principal, nos lançou em CD: 500 cópias em escala mundial; em fitas cassete
foram lançadas em tiragens limitadas na Europa pelo selo Metal Throne (Grécia)
e na América do Sul pela El Conjuro Records (Argentina). Logo em seguida em
cassete pro-tape vermelha na América do Norte pela Von Frost Records (Canadá);
em LP, o formato tradicional em vinil preto foi lançado na Europa pelo selo
Burning Skull Records (Suécia) e nos próximos meses será lançado em vinil
vermelho transparente na América do Norte pelo selo Flesh Vessel Records
(Estados Unidos). O público Metal, em sua maioria, é colecionador e compra os
lançamentos sem pena e levando em conta que “Everlasting Morbid Delights” foi
um EP e um lançamento de estreia, a receptividade ao nosso som tem sido muito
foda, dentro e fora do Brasil. Ótimas resenhas de vários webzines, algumas boas
entrevistas e o mais gratificante: que é o feedback dos Metalheads que curtem
nosso som, adquirindo nosso EP fisicamente em diversos formatos, aqui no Brasil
e no resto do mundo. E essa galera nos procura, vem nos saudar pessoalmente ou
através de nossas redes sociais e, independente de fronteiras, nos perguntam
quando e se vamos tocar em suas cidades algum dia, e essa é uma sensação
indescritível, imensurável!
Metal Reunion Zine - Falamos sobre primitivismo, fazer Death Metal calcado nos
primórdios, mas sem soar mera cópia, não é uma tarefa fácil. Quando vocês
começaram a fazer música, qual foi o pensamento primordial, no que tange a
fazer uma música com características próprias?
Necrospinal - Eu, particularmente, não me prendo ao risco de
inconscientemente soar similar a algum artista ou ser tachado de cópia de “A”
ou “B”. Todos nós temos referências artísticas, não obstante todos nós somos
influenciados por alguém. Isso valeu para o Black Sabbath, para o Judas Priest,
Iron Maiden, Saxon, Metallica, e também vai valer para a banda que vai nascer
amanhã. Ao meu ver, quem se limita sob o risco de estereótipos e esquece de
focar na exploração seu próprio potencial dentro do gênero musical adotado pela
banda que toca, aumenta as chances de errar a mão e ser um fiasco. No nosso
caso, volto a frisar, somos fãs de Heavy Metal e todos os discos que compramos,
ouvimos de uma forma ou de outra, nos impregnou de uma forma irreversível e com
naturalidade vagamos entre a velha escola do Death Metal tradicional e
elementos clássicos do Doom Metal e somamos isso tudo à inspirações inerentes a
negatividade e repulsa. O resultado é exatamente esse que ecoou em seus ouvidos
e motivou essa nossa entrevista. Metal mórbido e obscuro. No mais, acredito que
a busca pela originalidade não deve prevalecer sobre o feeling da musicalidade
de cada um.
Nyarlathotep IV - Quando se fala em primitivismo, logo vem em minha mente
Hellhammer e Celtic Frost. Temos influências dessas grandes bandas, mas não
acho a Sepulchral Whore tão primitiva quanto ambas. Como falei anteriormente
acho que a Sepulchral Whore faz um som de fácil entendimento. Se ser primitivo
é isso. Então somos. (risos) Sobre composições, as músicas surgem com tamanha naturalidade;
não seguimos fórmulas, com isso juntamos todas nossas influências e
tentamos fazer algo o mais original possível. Apesar de que, se você ouvir
nossas música com calma, vai vai perceber influências fortíssimas de outras
bandas que curtimos.
Metal Reunion Zine - Não há ‘invencionices’ na música do Sepulchral Whore,
porém é uma música que prende a atenção do amante do velho Death Metal e ficou
notório que nesse EP a musicalidade é bem equilibrada, seja nos momentos mais
ríspidos, nas bases, nos riffs e até mesmo nos solos de guitarra. Quais músicas
podem melhor definir a sonoridade da banda nesse EP?
Necrospinal - Pergunta difícil de responder, mas vamos lá: Um exercício
para tentar te responder é baseado em nossos debates internos, para definir
‘set list’ antes de algum show e, conforme nosso repertório vai crescendo para
além das músicas do EP, começamos a ter o desprazer (ou privilégio, dependendo
do ponto de vista) de deixar algumas faixas de fora. Então baseados nisso, três
faixas desse EP que jamais saíram do nosso repertório justamente por traduzir a
essência da banda são “Everlasting Morbid Delights”, “Malicious Conflagration”
e a nossa unanimidade em “In Slumber They Succumb”. Essa música nos deixa em
transe, seja em ensaio, seja no palco, ouvindo o disco, não importa. Ela tem de
uma atmosfera inebriante que transita entre os polos extremos do nosso som.
Nyarlathotep IV - Poderia falar da “Necromancer’s Rites”, que foi nossa
primeira composição. Mas, para mim, a música mais foda da Sepulchral Whore é a
“In Slumber They Succumb”. Essa música mescla tudo que a banda tem de
influência musical, sem falar que a “In Slumber They Succumb” também resume bem
os detalhes da sua pergunta.
Metal Reunion Zine - A banda aborda, nesse primeiro lançamento, temas bem
variados, mas todos inerentes ao Death Metal, tais como horror, morte,
blasfêmia, caos... As letras, apesar de tratar de temas já corriqueiros no
estilo, são bem escritas. Todas as letras são de autoria de Necrospinal. Por
que a parte lírica ficou sobre o comando de apenas um dos integrantes?
Necrospinal - Não foi nada votado, delegado e muito menos imposto. Vemos
apenas como uma forma de simplificar o foco e fixar a identidade lírica de um
grupo artístico. Como na maioria das bandas, a Sepulchral Whore tem o vocalista
como letrista, pois é algo que facilita na hora de encaixar as métricas vocais
nas melodias. Nosso método de composição, em 95% das vezes, é iniciado tendo as
linhas instrumentais como alicerce. Primeiro criamos o som todos juntos, numa mix
de ideias, o título das músicas e suas respectivas letras vem depois, já
baseadas no sentimento que aquele instrumental transmitiu.
Metal Reunion Zine - A capa do EP veio num tom avermelhado e com uma imagem
desoladora, de morte. A capa nessa tonalidade e com tal imagem era a correta a
se ter para esse lançamento, uma vez que descreve a sonoridade da banda, bem
como suas letras?
Necrospinal - Exato! Para fazer aquela capa escolhemos um soteropolitano
de mão cheia, que já é figura carimbada dentro do submundo do Metal Extremo.
Emerson Maia entende muito bem toda a loucura que a banda quer que ele crie e
ele transcreve essa insanidade de uma forma mais clara e abrangente do que nós
mesmos poderíamos idealizar. A arte nos foi entregue em preto e branca. Com ela
em mãos, nós da banda escolhemos a coloração a ser adotada. Definido isso,
fiquei a cargo de elaborar os layouts dos encartes de uma forma que se
encaixasse perfeitamente dentro da temática sombria que idealizamos para este
lançamento.
Metal Reunion Zine - Gostei bastante da produção sonora do EP, afinal ficou bem
nítida, porém sem ‘mascarar’ o primitivismo da banda. Esse resultado só foi
possível porque a própria banda também esteve a frente da produção?
Necrospinal - Não! Acreditamos que foi o conjunto da obra. Os dois anos de
espera incluem o processo de gravação e produção. Buscamos definir os mínimos
detalhes sem muita pressa e fizemos questão de estar presentes em cada passo,
cuidando para não haver nada desalinhado em nenhum dos canais, partilhando
sugestões mutuamente com Pedro Santos (Big Mojo Home Studio, Witching Altar,
Dom Lodo), que nos ajudou bastante durante todo o período. Trabalhar com um
produtor que também faz Metal é um facilitador e tanto.
Metal Reunion Zine - O EP contou, ainda, com duas ‘bonus tracks’, gravadas em
um ensaio. Qual a razão da inserção dessas ‘bonus tracks’ no EP?
Necrospinal - Essa foi uma carta na manga que nos ajudou a fechar a
maioria dos contratos dos lançamentos físicos e vou explicar o porquê: Quando C
Le Sorcier fez os contatos enviando o material prévio promocional, todos os
responsáveis dos selos que viriam a nos lançar gostaram de cara dos nossos
sons, mas noutra mão alegavam que nosso o EP tinha apenas 28m02segs de
duração, e por ser muito curto para alguns dos formatos pleiteados, isso era
algo que impossibilitava os lançamentos nos formatos físicos convencionais. Mas
durante a negociação lembramos que já tínhamos esses dois sons de ensaios
gravados ao vivo no JA Studio, da época em que fizemos o primeiro teste com
duas guitarras (período curto em que tivemos Flávio Hellishkiller aka “Aphopis
H.K” em uma das guitarras). Daí com essas duas versões de ensaio de “In Slumber
They Succumb” e “Necromancer’s Rites” o tempo de duração do EP pulou de 28
minutos para 36m30segs. Então se sugeriu a inclusão dessas faixas como ‘bonus
track’ e com isso conseguimos fechar os lançamentos definitivamente.
Metal Reunion Zine - A banda, desde o seu surgimento, fez diversos shows, não
tão constantes como deveriam ser, mas sempre presentes em eventos que trazem
bandas numa linha mais extrema. A intenção do Sepulchral Whore é sempre
frequentar eventos dessa natureza, para apenas um segmento ou existe a
possibilidade de tocar em eventos com bandas de estilos diferentes?
Necrospinal - Realmente tocamos pouco ao vivo, primeiro pela
indisponibilidade que temos devido às nossas vidas profissionais e particulares
e segundo porque achamos desnecessário forçar nosso nome e sonoridade goela
abaixo do público, tocando com uma frequência quase que mensal na mesma região.
Queremos marcar o público pela qualidade e força da nossa performance ao vivo e
não por uma quantidade excessiva de aparições. O excesso desgasta qualquer
imagem, inclusive dos artistas que têm potencial de crescimento. Sobre preferência
de estilo, nossas barreiras existem, mas não tão são fundamentadas em
radicalismos supérfluos. Apenas temos coerência e também esperamos isso por
parte do produtor que organiza o ‘cast’. Uma vez que o evento tenha bandas do
seguimento Underground e que não tenham em seu histórico ligações passadas ou
presentes com White Metal e toda essa lorota cristã, temos grandes chances de
aceitar o convite. Já dividimos palco com bandas de Speed Metal, Heavy Metal
tradicional e demais seguimentos dentro do Metal. Claro que preferimos tocar
num evento destinado para um público de Metal Extremo, mas se há um festival
com bandas engajadas e cientes do real sentimento Underground, que tem a
sapiência de quê Rock/Metal e religião são feito água e óleo e não devem se misturar
jamais, não temos problema algum em dividir palco com bandas com sonoridade
diferentes da nossa.
Metal Reunion Zine - Recentemente foi adicionado à formação do grupo o
guitarrista Pestmeester. Uma segunda guitarra se fazia necessária no som da
banda?
Necrospinal - Sim! Desde sempre as linhas de guitarras escritas por
Nyarlathotep IV eram baseadas em um duo de guitarra. O EP foi composto e
gravado por um trio; fizemos nossos primeiros shows e depois buscamos com toda
cautela um segundo guitarrista que pudesse acrescentar a banda não só
musicalmente, mas que também fosse um colega do qual pudéssemos ter um bom
relacionamento. Banda é como se fosse uma segunda ou terceira família do cara,
incluir alguém que desagrega não é interessante e em 2016 convidamos Aphopis
HK, mais conhecido como Hellishkiller, mas infelizmente por motivos
particulares ele não pode permanecer conosco, pois foi morar em outro estado.
Aguardamos por quase quase anos mais e já em 2018 resolvemos convidar
Pestmeester (Horror Face) para ser nosso segundo guitarra e companheiro de
batalha. Ele se encaixou perfeitamente na banda; já aprendeu todos os sons do
EP, os novos (inclusive já gravou coisa nova conosco) e já está cooperando na
criação das músicas mais recentes. Tudo isso com uma facilidade incrível. O que
nós dá uma margem sonora acima do que esperávamos ter e uma tranquilidade
para seguir adiante. Foi uma ótima aquisição e vocês poderão confirmar
essa eficácia nos próximos lançamentos e apresentações.
Metal Reunion Zine - Um dos planos do Sepulchral Whore para 2019 é o lançamento
de um split, o qual será dividido com o Podridão. As músicas para esse
lançamento já estão compostas? Conte mais detalhes.
Necrospinal - Verdade! Esse split levará o título de “Necrotic Symbiosis”
e essa praga será disseminada no segundo semestre de 2019 com os nossos aliados
e “parceiros de crime” do Podridão (Itaquaquecetuba/SP). O lançamento ficará a
cargo do selo/distro Kingdom Of Darkness Productions, baseado no Estado do
Amazonas. A princípio, esse split será lançado em vinil 7” polegadas, numa
tiragem limitada em território nacional. Serão duas faixas autorais de cada
banda (quatro faixas no total). Recentemente lançamos essas duas faixas que
irão compor a nossa participação no split como single digital no Bandcamp e nas
demais plataformas. “Chamber Of Fear” e “Wondering Into Wounds”. Essa
divulgação tem como intuito promover o material físico que está por vir. Quem
gostar dos sons novos e quiser adquirir fisicamente, isso será possível apenas
comprando o vindouro split. Ouçam clicando aqui.
Metal Reunion Zine - Além do split, quais são as principais metas do Sepulchral
Whore para continuidade de suas atividades?
Necrospinal - Fazer nossos primeiros shows como um quarteto. Tocar em
cidades e estados quais a Sepulchral Whore ainda não teve oportunidade de se
apresentar ao vivo. Também vamos dar continuidade e terminar o processo de
composição para o nosso próximo lançamento, para quem sabe iniciar 2020 gravando
o que provavelmente será o nosso primeiro full-length.
E-mail: sepulchralwhore@gmail.com
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação
Originalmente publicado em http://www.recifemetallaw.com.br/index.php?link=materias&tipo=entrevistas&id=333
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