As últimas trilhas lamacentas e pútridas por onde venho me arrastando, no fundo deste precipício sombrio, têm consumido bastante do que sobra de energia neste resto que ainda pode ser chamado de mim, eu... Todas as minhas forças estão escorrendo pela sarjeta em um esforço inútil pela sobrevivência, enquanto o barro imundo, coberto por larvas e coliformes fecais, continua entrando pela minha boca, nariz... e demais orifícios. Tento continuar em frente, sair deste pântano do horror, mas o corpo afunda cada vez mais, apesar dos esforços inúteis que continuo a fazer, me debatendo como um peixe se asfixiando fora d'água. A merda já lambuza o topo da cabeça. A angústia e a depressão me rodeiam, para tirar novos pedaços da minha carne velha, decrépita e passada. Gostam do gosto amargo do fel que tempera minha carcaça. Tem ficado até difícil manter os registros desta infame jornada em dia. Tenho perdido cada vez mais o grau de concentração e o foco. Me diluindo cada vez mais, me desintegrando... sumindo... inexistindo... indo... indo.... indo... cada vez mais fundo... no nada absoluto... me perdendo cada vez mais nos labirintos da dor.
Por Fabio da Silva Barbosa
Porto Alegre - RS
Abril de 2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário