E aqui estamos: mais um dezembro, mais um fim de ano, mais um Natal para celebrar uma festa que nasceu pagã, foi maquiada de cristã e, ao longo de sua história, consolidou-se como o maior espetáculo de hipocrisia que a humanidade insiste em repetir, hoje já de forma voluntária. A cada "Feliz Natal" ecoado, o mundo segue exibindo sua podridão em alta definição. Não sou pessimista, nem baixo astral, e o texto aqui não é para te deixar para baixo. Com o mundo como está, nem preciso me esforçar, mas sempre vale lembrar, certo?
Neste ano vergonhoso, enquanto as luzes coloridas piscam, a programação da TV é adequada para iludir e as músicas açucaradas entopem os ouvidos da grande massa, testemunhamos mulheres, crianças e outros vulneráveis – brasileiros, ucranianos, palestinos e sírios – sendo trucidados por bombas, balas, sede, fome e desespero. As guerras, sejam elas por territórios, políticas, religiosas ou a mera sobrevivência nas periferias urbanas, não tiraram folga. Jamais tiram. Afinal, guerras e tragédias fazem parte de um plano maior, que você, caro leitor, provavelmente afirma ser apenas mais uma teoria conspiratória. E assim seguimos, sentados e passivos, assistindo ao fascismo erguer suas garras no cenário político global, ao crescimento de células nazistas, partidos de extrema direita movidos por nacionalismo irracional – tendo o antissemitismo como grande ideal –, à ignorância em massa, ao meio digital corrompido, à verdade baseada em mentiras, à brutalidade policial e ao aumento de crimes hediondos que ceifam vidas diariamente, constantemente, e crescem significativamente a cada Natal celebrado de forma marqueteira e, por que não dizer, indecente.
Enquanto isso, as propagandas insistem no discurso de paz, união, amor e fraternidade. Os mesmos de sempre, que lucram com as engrenagens desta máquina cruel e desumana, fingem emoção em seus comerciais de final de ano, com sorrisos encantadores e olhares vidrados de "esperança", enquanto abusos de poder – políticos, religiosos e econômicos – seguem devastando vidas e normalizando o caos nosso de cada dia.
E que tal o nosso planeta? Este coitado continua reagindo à nossa ganância com "catástrofes naturais" que já não chocam mais ninguém. Deslizamentos, enchentes, secas, incêndios: o cardápio das tragédias climáticas está sempre à disposição e sendo renovado a milhão. Mas, claro, tudo isso some no nevoeiro de informações fúteis e irrelevantes, dancinhas no TikTok e fake news elaboradas para desinformar, que competem com pautas fundamentais e ofuscam qualquer vislumbre de mudança.
Então, o que estamos comemorando, afinal? Uma esperança de dias melhores que nunca chegam? Um amor ao próximo que não passa de encenação? Um mundo que só piora? A celebração de um Natal em 2024 é um lembrete cruel de que, enquanto seguimos sustentando esse teatro que amamos, a humanidade caminha firme rumo ao abismo, com todos aplaudindo de pé e com muita fé, de olhos vendados para o que der e vier – se vier.
Então, Feliz Natal, né?
Por Alexandre Chakal
Natal de 2024 - Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário