Quando o horror cotidiano te engole
E as velhas muletas já não se sustentam
Sentimos o corpo sucumbir
A mente a se deteriorar
A gélida escuridão a envolver
A neblina morbida sufocando qualquer tipo de esperança
Enquanto as veias entupidas saltam de dentro para fora
Ornando toda a pele com o tracejado de um mapa decrépito em alto relevo
Expondo agonias e inflamações
O cerebro dá lugar a uma bola de pus
E nos arrastamos cadavéricos
Nos sentindo elegantes vestindo o modo de vida podre como os dentes que se esfarelam dando o toque que faltava ao hálito azedo
A língua inchada e pastosa parecendo patê de fígado
Globos oculares vazios e infeccionados
A orelha do velho pintor pendurada no vácuo enfeitando o precipício é mais bela que as mentiras que travestem a cama de pregos enferrujados em confortável sofá comprado em dez vezes com juros
Não juro mais
Não creio mais
Não suporto a paz
Prometer não faz mais sentido que se embrulhar em um manto impregnado de fedores horrendos
Parasitas repugnantes
A maldição dos que se acham salvos e a soberba dos que pensam escapar aos horrores dos nossos tempos
O deus furunculo espreme o ser que já não é
Tentando tirar as últimas gotas de certezas incertas
Esperanças há muito perdidas
Inocência esquecida
Lembranças partidas a machadadas
A marreta que ergue o prédio é a mesma que afunda o crânio
A broca procura espaço onde antes não havia
Tecido vivo de uma pele morta
Matéria orgânica cobrindo o desgaste ósseo
A sagrada secreção lubrifica fungos e feridas
A gravada é a forca do otário.
Por Fabio da Silva Barbosa
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