Metal Reunion Zine

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sexta-feira, 14 de junho de 2024

Navalha na Carne - Edição 35 - A mentira é a mãe de todas as verdades brasileiras.

Quando eu era criança, meu avô me transmitiu uma lição que, na época, parecia apenas um conselho sábio de um homem mais velho. Ele enfatizou a importância de ser verdadeiro e íntegro, mesmo quando a vida exigia mais do que tínhamos. "O pobre pode ter poucas posses", ele disse, "mas a palavra é um tesouro que não custa nada". No entanto, como muitos na minha juventude, ignorei seus conselhos e me deparei com as consequências amargas da desonestidade e da falta de caráter.

Essa falta de integridade não é um fenômeno recente. Desde os primórdios da colonização do Brasil pelos portugueses, a mentira tem sido tecida na trama da cultura brasileira. Eventos históricos foram moldados por falsidades, desde as narrativas sobre o encontro com os povos nativos até os relatos da guerra do Paraguai, destacando-se como inverdades potenciais. Enquanto isso, as palavras ácidas do Dr. House, repetindo incansavelmente "Todos eles mentem", ecoam como um lembrete sombrio de nossa propensão à falsidade.

A mentira, entretanto, transcende fronteiras temporais e geográficas. Desde os tempos de Júlio César até os dias atuais, políticos têm manipulado a verdade para manter o poder. A Alemanha nazista nos anos 40 nos lembra que uma mentira repetida mil vezes pode se tornar uma verdade aceita, enquanto no mundo digital de hoje, a disseminação de fake news é uma epidemia que mina os fundamentos da sociedade.

No Brasil contemporâneo, a mentira é uma ferramenta essencial da política, alimentando o negacionismo e a desinformação que têm consequências letais. A falta de educação e a disseminação de teorias conspiratórias, tipo terra plana, vacinas que transformam pessoas em jacarés ou heteros em gays, transformaram a mentira em uma arma letal, prejudicando não apenas a política, mas também a saúde pública e a justiça social. Vou mais longe dizendo que a mentira enraizada na nossa cultura, que é exaltada como malandragem, sagacidade ou a velha esperteza, que por aqui diferencia vencedores de fracassados, é um plus em todo papo furado capitalista que nossos exploradores, escravizadores e canalhas que detêm nossos empregos, recebem nossos impostos e votos, tentam há décadas nos fazer seguir. Hoje a mentira é a certeza que eles venceram essa batalha. Fizeram-nos, reles mentirosos desconfiarmos uns dos outros e confiamos naqueles, que nos veem como peças de um jogo lucrativo, claro, apenas para eles.

Além disso, a cultura brasileira parece ter uma relação íntima com a mentira, que se estende para além do âmbito político. O hábito de mentir é muitas vezes associado à infidelidade conjugal, onde a cultura do(a) amante é normalizada e até mesmo romantizada. Recentemente, uma pesquisa divulgada no início de 2024 colocou o Brasil no topo do ranking de países mais promíscuos da América Latina, revelando uma conexão entre a mentira e a falta de fidelidade nos relacionamentos. Parece que, no Brasil, a mentira se tornou uma virtude, visto que a verdade proferida machuca, incomoda, fere egos e "valores".

Para construir uma sociedade mais justa e honesta, devemos reconhecer, nos reeducar e combater a mentira em todas as suas formas, que matam, desinformam, difamam, machucam, despedaçam famílias, constroem mitos e monstros. A verdade pode ser dolorosa (fala cliché), mas é essencial para o progresso, valores reais e a integridade de qualquer grupo que se propõe a viver em sociedade de forma civilizada. E não pensem que a mentira é um sinal de tolerância social que ajuda na construção da civilidade, isso é a grande falácia, alimentada por gente frágil, fraca e despreparada para enfrentar a vida como ela é. De verdade.

Por Alexandre Chakal 

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