Metal Reunion Zine

Blogzine fundado em 2008. Reúne notícias referentes a bandas, artistas, eventos, produções, publicações virtuais e impressas, protestos, filmes/documentários, fotografia, artes plásticas e quadrinhos independentes/underground ligados de alguma forma a vertentes da cultura Rock'n'Roll e Heavy Metal do Brasil e também de alguns países que possuem parceiros de distribuição do selo Music Reunion Prod's and Distro e sua divisão Metal Reunion Records.



domingo, 26 de maio de 2024

Navalha na Carne - Edição Extra - A Nova Era: Crônica de um Apocalipse Moderno

O texto de hoje, é para os iludidos pela fé, contaminados pela mediocridade e especialmente dedicado aos apaixonados pela zona de conforto alimentada pelo negacionismo do óbvio ou pelas fake news constantes, pode parecer um conto de ficção, feito para algum produto cultural cinematográfico ou um livro que nem mesmo em PDF terá audiência caso o texto se torne realidade. Adianto que, apesar de parecer fantasioso e alarmante, o conteúdo é possível, provável, pensável e próximo até demais de nós. Mas não precisa se assustar, caro leitor, algum coach ou pastor da sua igreja de estimação está pronto para negar essa possibilidade e acalentar seu coração preocupado com aquele futuro maravilhoso e de prosperidade que você comprou com dízimos ou adquiriu através de uma live motivacional em uma famosa rede social. Enfim... um futuro bem diferente do que tenho certeza que está batendo com força em nossa porta.

Mas imagine: um dia glorioso, com céu de brigadeiro e um sol radiante ou radioativo, onde a sociedade contemporânea acorda com a impressão de ter sido transportada diretamente para um universo alternativo onde energia elétrica, sinal de internet e água potável são tão raros quanto sereias e unicórnios de Nárnia? Ah, sim, seja bem-vindo à nova era mundial que podemos definir como a New Mad Max! Neste novo mundo pós-apocalíptico high-tech, antenado, empático e multicultural, você já pode esquecer suas selfies diárias mostrando a nova maquiagem que aprendeu com uma youtuber ou a marquinha de biquíni feita com fita isolante na laje e também os stories do Instagram com brunches cheios de avocado toast. Sem eletricidade, a gloriosa tela preta do seu smartphone será sua nova companhia constante, talvez uma superfície lisa para você saciar seu vício adquirido de touch-screen ou usar como base para esticar uma carreira de cocaína. Sem água potável, o conceito de "água detox" ganha um novo significado – a desintoxicação de expectativas irreais sobre a vida. Uma nova vida que remeterá ao passado pré-histórico, rudimentar ou, para os mais "bem de vida", meramente medieval.

A vida nas redes sociais, esse multiverso de superficialidade e validação instantânea, evaporaria como uma poça d'água no deserto de Thunderdome. Quem precisa de filtros do Instagram quando estamos lutando para sobreviver? Influenciadores digitais se tornariam nada mais do que contadores de histórias em torno da fogueira ou encolhidos, paralisados em posição fetal, esperando apenas a morte, onde "curtidas" são medidas em pedaços de pão sujos compartilhados por mãos imundas. O vazio existencial preenchido pela vida digital daria lugar ao vazio literal de estômagos roncando e fúrias reinando, enquanto a sobrevivência supera a necessidade de aprovação social.

Nas grandes cidades, o impacto seria cinematograficamente caótico. Imagine Nova York, Tóquio, Rio de Janeiro ou São Paulo em um dia sem energia. Os arranha-céus, símbolos da glória urbana, se transformariam em cavernas ou prisões verticais sem elevadores funcionando, sem bombas d'água. A fome e o egoísmo pintariam o cenário: supermercados saqueados, conflitos nas ruas e a ascensão dos novos "senhores da guerra" urbanos, exploradores movidos pelo mais puro e cruel capitalismo – agora mais evidente do que nunca. A sobrevivência do mais apto deixaria de ser um conceito biológico para se tornar uma prática diária e brutal.

E os valores humanos? Bem, aqueles que já estavam em uma espiral descendente nas redes sociais agora seriam um resquício do passado que viraria passado em poucos meses. A fome dói e castra as percepções humanas. Você já passou fome nessa vida? A solidariedade e a empatia, tão facilmente proclamadas online e que arrecadaram milhões de toneladas para o Rio Grande do Sul em maio de 2024, por exemplo, se revelariam na prática, ou na sua ausência. Em um mundo onde o "curtir" se transforma em um "matar ou morrer", o verdadeiro caráter das pessoas viria à tona, como já vem em catástrofes pontuais que contemplamos. Talvez, apenas talvez, a essência humana que sobrevive a essa prova de fogo fosse mais pura, mais resiliente – mas até lá, a hipocrisia de um mundo movido por aparências e consumismo seria desmascarada com uma brutalidade impiedosa.

Os ricos, seu dinheiro e poder? Dinheiro em um mundo onde a lei da força prevalece vira o que de fato é, apenas papel. Água potável seria dinheiro, velas e pilhas seriam dinheiro, comida não perecível seria dinheiro. Poder? Os mais fortes, mais armados e com maior número de integrantes em suas gangues seriam os poderosos. Estupros, matança, opressão e escravidão dos mais fracos e vulneráveis seriam a constante desses novos tempos.

Em resumo, a ironia final é que, ao perdermos o brilho artificial das nossas telas e o conforto de uma vida moderna abastecida por energia e água limpa, seríamos forçados a encarar a realidade nua e crua. E que surpresa dolorosa seria descobrir que, sem as distrações digitais e os confortos artificiais, a verdadeira face da humanidade não é tão glamourosa quanto um feed bem curado. O multiverso virtual desmoronaria, deixando para trás apenas as ruínas de uma civilização que trocou profundidade por superficialidade, humanidade por likes e empatia por emojis. Bem-vindos ao nosso próprio Holocausto contemporâneo, que apenas precisou da falta de três itens essenciais para existir, onde o caos é a nova ordem mundial e a humanidade, talvez, finalmente, encontre sua verdadeira essência – seja ela qual for.

Por Alexandre Chakal

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