O tema da Palestina era um assunto que estava deixado de lado nos principais debates sociais até os eventos de 7 de outubro de 2023, quando o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e grupos palestinos aliados, se insurgiram contra o estado de Israel. Essa questão é evitada porque se trata de um cenário no mínimo curioso para a comunidade ocidental, em que uma vítima histórica do racismo e da supremacia branca, se torna opressora, reproduzindo práticas tão cruéis quanto as que sofreu na primeira metade do século XX.
E por que este que vos escreve confirma que o lado israelense é o lado errado do “conflito”? Porque a questão palestina se trata de um explícito caso de colonialismo: membros da elite europeia invadem um território habitado e o controla através da força. Apesar de usarem métodos diferentes, a princípio menos chocantes, isso não seria uma espécie de repetição das ações coloniais que aconteceram séculos atrás na África e nas Américas?
O leitor pode indagar que não se trata de um enfrentamento simples, pois há mais complexidade envolvida. É evidente, pois houve muitos acontecimentos nos processos históricos que envolvem Israel e a Palestina, desde a chegada dos primeiros colonos judeus sionistas naquela região (o sionismo é um movimento político e ideológico nacionalista que defende a criação de um Estado judeu). Mas essa complexidade não pode se sobrepor ao cenário colonial que Israel impõe aos palestinos, e sabemos que o colonialismo anda de mãos dadas com o racismo, principalmente pela prática nefasta da escravidão de povos considerados selvagens, sob a ótica da branquitude europeia.
Vamos a um exemplo recente da ocupação israelense nos territórios palestinos: o muro da segregação racial. Idealizado por Ariel Sharon, ex-primeiro ministro de Israel, a construção desses muros se iniciou em 2002, separando territórios israelenses e territórios árabes na Cisjordânia. Outro exemplo é que desde 2007 a Faixa de Gaza tornou-se um verdadeiro campo de concentração, o maior da história contemporânea, com mais de dois milhões de habitantes. Dentre outras medidas brutais, o Estado de Israel impôs à população de Gaza o racionamento de água potável, fornecimento irregular de luz elétrica, acesso deficitário aos serviços de telefonia e internet, além de ter seu solo danificado, evitando assim o plantio e a colheita de alimentos.
As prisões administrativas de palestinos são semelhantes ao que encontramos no Brasil e nos EUA, países com altas populações carcerárias. Nestes dois últimos exemplos, a população negra é o alvo do sistema. Não faltam casos de negros e palestinos encarcerados sem base legal e sem direito a uma defesa justa. Para estes grupos, não há o liberal Estado Democrático de Direito, apenas o estado de exceção. A ativista antirracista Angela Davis, sempre une em seus discursos a luta do movimento do abolicionismo prisional nos EUA com a luta dos palestinos pelo fim da ocupação em seus territórios. Imaginem o nível da gravidade da repressão quando as polícias (e também forças armadas) de Israel e dos EUA se unem para dividir treinamentos militares.
Um outro exemplo de que as práticas de Israel são racistas, e eugenistas, é o fato de que o estado sionista representa um regime de apartheid para os árabes. Um regime de Apartheid se constata quando as leis são discriminatórias, segregacionistas, privilegiando um grupo étnico em detrimento de outro, como ocorreu na África do Sul entre 1948 e 1994. Instituições como a ONU, Humans Right Watch, Anistia Internacional e até a ONG de Direitos Humanos israelense B’tselem, atestam com fartas evidências a existência de um sistema persecutório nos territórios ocupados.
Illan Pappé, historiador israelense, escreveu uma das grandes obras sobre o tema: A Limpeza Étnica da Palestina. Suas pesquisas científicas, opiniões e seu apoio ao boicote acadêmico contra as universidades israelenses resultaram em perseguição e ameaças de morte. Pappé precisou se mudar para a Inglaterra. Angela Davis no livro A Liberdade é uma luta constante concorda que o isolamento político e econômico de Israel seria uma das formas de impedir as práticas de apartheid contra os palestinos. Malcolm X, em 1964, já denunciava a invasão colonial em artigo no jornal The Egyptian Gazettee. Fazendo uma associação com líderes de movimentos negros, quantos deles não passaram pela mesma situação? Perseguição, ameaças, atentados e até mortes?
Os defensores do sionismo repudiam e negam todas essas “acusações”. Postura muito semelhante aos racistas que por séculos negaram o preconceito, a eugenia social, a liberdade, os direitos civis, políticos e sociais dos negros escravizados e dos afrodescendentes. Esse comportamento pode ser facilmente observado no racismo estrutural entranhado no Ocidente.
Nada mais justo, urgente e simbólico do que a união entre a luta pelo fim da opressão aos palestinos com a luta antirracista. A liberdade, a paz e a justiça reivindicada pelos palestinos não é diferente das reivindicações dos movimentos negros. São as mesmas armas israelenses que matam cidadãos nos territórios palestinos e nas comunidades e favelas brasileiras. A mesma lógica genocida está por trás quando uma polícia fascista aperta o gatilho. Adicionar a bandeira Palestina nos atos públicos é um reforço urgente e necessário. E não tenham medo de serem taxados de antissemitas. Essa tática dos sionistas é tão falaciosa quanto a expressão, “mas eu tenho um amigo negro”...
Pedro Valença, ativista no Coletivo Aliança Palestina-Recife e guitarrista do Pademmy e apoiador do Preto no Metal
Fontes:
https://news.un.org/en/story/
https://www.amnesty.org/en/
https://www.btselem.org/topic/
https://www.ynetnews.com/
https://horadopovo.com.br/o-
https://www.pretonometal.com/
Fonte
Coletivo pretonometal@gmail.com
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