Ele carregava o próprio corpo como se fosse o maior dos fardos
Por Fabio da Silva Barbosa
Estava cansativo carregar
aquele corpo oco para todos os lugares. Por dentro de sua própria carcaça, não
havia nada recheando. Nem fazia ideia do que chamavam de alma, espírito... ou
coisa que o valha. Conheceu apenas a amargura, a frustração e o abismo. O resto
era apenas preenchido pelo vazio. O nada reinava soberano. E mesmo vazio, era
um peso incrível carregar aquela matéria já em decomposição. Qualquer tentativa
de mudar este quadro, soava como mais uma farsa. Ele relatava que mentiras
monumentais eram criadas para dar algum sentido para esta existência medíocre
que nos é imposta. E ele ruminava essas coisas enquanto andava pelas ruas,
puxando seu corpo que inutilmente se arrastava pelo chão, deixando sua roupa
suja e chagas por toda parte. Um dia parou na rua e começou a berrar que não
aguentava mais. Gritaram que ele estava louco. Ele mandava de volta que estava
são e via as coisas como eram, sem enfeites e maquiagens. Um dia começou a dar
cabeçadas em um muro. Os passantes fingiam que nada estava acontecendo e que
estava tudo bem. Afinal, nada podia atrapalhar a normalidade. Apenas um homem
resolveu parar. Aproximou-se e observou que já espirrava sangue. O passante
então o segurou e ele começou a repetir “Já perdi tudo. Não tenho nada a
perder.” O homem tentou explicar que ele ainda tinha o bem mais valioso, a
vida. Daí ele parou, olhou bem sério para o homem, respirou fundo e soltou um
“Vai tomar no cu!!!”. Não curtia receber “Bom dia” ou coisa parecida. Jogava
pedra em igrejas, templos... Não importava como chamavam ou qual a religião. Certo
dia estava dormindo em um banco de uma praça por onde sempre passo.
Embebedou-se a noite, como sempre fazia. Dizia que sóbrio, não conseguia
dormir. Deitou e amanheceu morto.
Moral da história? Não tem.
Essa foi mais uma história imoral. A penas falamos sobre um adoecido pela
sociedade, que chegou naquele ponto onde nada, nem ninguém, faz sentido.
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