Por Fabio da Silva Barbosa
O bar
estava cheio. Dia de pagamento era sempre assim. A mesa de sinuca com as bolas
rolando por cima, na mesa do canto eram os dados que rolavam e, na outra parede,
o carteado comia solto. Mas era nos fundos, ao lado dos banheiros, que Lori
jogava a âncora. Eram as maquininhas caça níquel. Só tirava os olhos do painel
luminoso quando percebia que a cachaça tinha acabado. Daí levantava o braço e o
dono do botequim entendia o recado.
- Capricha
aí que tá vindo chorado. – Pedia ele.
- Vai te a
merda, Lori. E vai pagando logo isso antes que a máquina fique com seu dinheiro
todo.
- Vai se
fudê, seu merda.
Era um
botequim daqueles clássicos, do tipo que está cada vez mais difícil encontrar
por aí. Todo mundo fumando dentro, uma parede cheia de garrafas de cachaça e aquelas
especiarias típicas (pé de galinha, ovo cozido, lingüiça... e por aí vai).
- Eita,
caralho.... Já foram ligar essa porra.
Alguém
colocou música, o que sempre irritava Lori. Mesmo a máquina de música ficando
perto da entrada, o som preenchia todo o ambiente. Ele encostou nos engradados
e apertou bem os olhos enquanto observava o painel. Tentava ao máximo manter a
concentração.
Meia noite
fechou o bar. Lori saiu cambaleando. As meninas que trabalhavam pela área nem
se aproximavam, pois ele era conhecido e sabiam que o velho Lori não curtia
sexo. O lance dele era só as maquininhas. Ele seguiu a rua vendo o morro todo
iluminado.
- Aguenta
firme, Lori. Aguenta firme que você ainda tem de subir essa porra toda... Mas o
que é um peido para quem tá todo cagado.
Apesar do
caminho que tinha pela frente, deu um largo sorriso. Conseguiu separar o
dinheiro pra feira. Não tinha posto tudo na máquina como normalmente fazia.
- Parado
aí!
- Operação
policial!
- Encosta!
Mal tinha
percebido que se tratava de uma operação na subida do morro, já tinha sido
empurrado para o carro, onde permaneceu encostado enquanto tomava uma geral. De
repente sentiu que o policial tirava o dinheiro do seu bolso.
- Pera
aí... Esse dinheiro é meu...
- Fica
quieto, rapaz! Continua virado que a gente ainda não acabou.
Lori acabou
por se embolar com os policias e no meio da confusão levou três tiros.
- Puta que
o pariu... Olha o que esse merda fez. – Reclama o policial que havia realizado
os disparos.
No dia
seguinte saiu no jornal que a polícia havia trocado tiros com traficantes e um
deles morreu. A família de Lori chamou a imprensa, reclamou, organizou
manifestações dizendo que ele era trabalhador, mas começaram a ser pressionados
e homens estranhos apareciam ameaçando, dizendo que poderia haver outros mortos
caso continuasse o barulho.
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