O sadismo moral
Por Fabio da Silva Barbosa
A
manifestação estava indo bem. As ruas estavam lotadas e após uma concentração
de pouco mais de três horas, saiu cumprindo a rota pensada pela organização.
Faixas, bandeiras e vozes a espalhar o protesto por onde passavam. Tudo muito
bem até dobrarem aquela esquina no centro da cidade. A tropa de choque e a
cavalaria estavam esperando a multidão.
O organismo
de repressão começou a pressionar. O que estava indo bem, começou a carregar o
peso da tensão. Um dos cavalos foi instigado a avançar pelo animal que montava
nele. A manifestante que passava logo ao lado dos cavalos, recebeu um encontrão
e foi atirada ao chão. Aí começou o tumulto.
Quebradeira,
bombas de fumaça, balas de borracha... Tudo o que um tumulto em uma
manifestação tem direito. Muitos foram presos. Os manifestantes que estavam
agindo de forma tranquila e apenas tentaram se defender dos ataques,
responderam por associação criminosa, desacato a autoridade e o que mais podiam
empurrar neles.
- E os
policiais que começaram todo esse tumulto? – Perguntei ao ouvir a história.
- Eles
estavam apenas fazendo o trabalho deles. – Respondeu um outro que ouvia a
história ao meu lado.
- Sim. No
caso, o trabalho deles era quebrar cabeças, costelas... E o que mais? – Respondeu
um que acabara de chegar e pegou o final da história.
Fiquei
pensando que essa ideia de estar fazendo apenas seu trabalho é uma desculpa que
acreditam servir para tudo, mas que, pensando minimamente sobre, não convence
ninguém. Os nazistas deviam falar isso quando levavam os prisioneiros para as
câmaras de gás, os torturadores das ditaduras aqui da América do Sul... Estar
agindo de acordo com o trabalho ou estar realizando seu trabalho... Qualquer
variante deste tipo... Não tira sua responsabilidade sobre o que está sendo
feito. Se você é um feitor, por exemplo, que chicoteava o escravo com
perfeição, não podemos simplesmente dizer que se tratava de um trabalhador
exemplar. Estamos em uma época em que as idéias apresentam-se muito confusas e
muitas vezes ás pessoas se deixam enganar e não conseguem ver o todo com
clareza.
Saí do meu pensamento com o barulho de todo mundo discutindo sobre o tema. Não acompanhei o falatório até aqui, mas, com certeza, sou a favor de quem está contra quem defende a ordem vigente e para isso executa o trabalho de agredir ao outro com eficiência. Para mim, o termo correto a ser usado para essa pessoa não é eficiente, mas sádico, torturador, perverso, espancador, covarde, carrasco... Um doente usado no organismo de repressão.
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