Todos os caminhos
levam a lugar nenhum
Mais um dia deitado na cama sem
conseguir levantar. Por quarenta minutos olhando o teto enquanto mentaliza a
palavra levanta. Mas o corpo não responde. Consegue virar para o lado Agora é a
parede no campo de visão. Já conhece cada teia de aranha, cada imperfeição na
pintura, cada mancha de mofo... cada detalhe praticamente invisível. Mais
quarenta minutos se passaram. Finalmente conseguiu “levantar”. Estava sentado.
Não seria mais um dia afundado no nada absoluto. Conseguiria reagir. Tinha de
sair do fundo do poço que fica no fundo da caverna mais profunda. Primeiro
tinha de escapar daquele casulo obscuro que o prendia e sufocava. Não seria
fácil. E sair dali para que? Não adiantava mais. Já era. Não tinha mais idade
para acreditar em Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa. Gastar energia tentando
escapar daquelas correntes seria inútil. Estava perdido em um labirinto de
paredes altas e becos sem saída. Muros impossíveis de pular. Todas as portas
trancadas. Criaturas carniceiras já sentiam o aroma do seu cadáver. Sentiu o
corpo tombar. De novo em decúbito lateral. O gosto azedo na boca, o cheiro de
podre no ar. Tanto esforço para nada. Não tinha mais de tentar. Precisava
entender isso. Não havendo mais motivos, percebe-se que a motivação é a mentira
usada para prolongar esta existência sem sentido. É muito melhor não se
debater. Apenas afundar no torpor melancólico que acaba sempre por vencer. Envolvendo-nos
na penumbra, que cada vez mais vira escuridão, viramos mortos vivos. Cada vez
mais mortos, cada vez menos vivos. Parece até estar bom assim. Desânimo total,
fadiga, desesperança, nenhuma perspectiva lhe agrada, nada lhe preenche, nada
lhe apetece. Só resta um cansaço de tudo. Só um cansaço que parece nunca ter
fim.
Fechamos o ano de 2022 com este chá
de fel e aproveitamos para avisar que ficaremos algumas quinzenas sem aparecer
por aqui, nesta coluna. Depois de 22 colunas destilando escritos feitos
exclusivamente para o espaço e sendo enviados do jeito que saíam, sem nenhum
tipo de revisão ou ajuste (Com exceção de Conversa Séria com Deus – Feito em
parceria com Alexandre Chakal para seu novo livro, SEUS DEUSES NÃO ME EXCITAM),
eis que uma pausa se faz necessária para que consiga me reorganizar. Assim como
o cão que precisa lamber suas feridas, ou o movimento de guerrilha que precisa
se refugiar para treinar até estar forte o suficiente e promover novo ataque,
ou o iogue que precisa meditar nos altos do Himalaia, tenho de resolver algumas
questões e contra tempos antes de continuar. Mas aguardem, pois logo em breve
teremos novos e tétricos Arquivos Explícitos para feder neste espaço.
Fabio da Silva Barbosa
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