Editora Via Sestra: Sobre o livro De Præstigiis Dæmonum

De Præstigiis Dæmonum

et Pseudomonarchia Dæmonum

Texto do excelso Professor Rafael Resende Daher

Sobre o livro De Præstigiis Dæmonum - Pseudomonarchia Dæmonum, de Johann Wierus

Em “Das Artimanhas do Diabo e a Falsa Hierarquia dos Demônios”, de Johann Wierus, que publiquei com edição crítica pela Editora Via Sestra, conseguimos informações interessantes:

1. Wierus foi um dos nomes mais importantes da história. Como coloquei no livro, vários livros e manuais de medicina colocam Wierus como pai da psiquiatria moderna e o fim do terror da Inquisição contra doentes mentais.

2. A razão disso: estudando a demonologia ocidental, principalmente através de De Lancre, Torquemada e Sinistrari, percebemos uma credulidade absurda: pessoas condenadas pela participação em “Shabbath das bruxas” das formas mais absurdas possíveis, com bruxas voadoras, missas negras celebradas por sapos, o diabo em pessoa para receber beijos no ânus.

3. Wierus desconfiou disso. Como era um homem entre três mundos, a saber: a ciência, o catolicismo romano e o hermetismo, pois era aluno e amigo de Agrippa, tudo aquilo parecia fantasioso demais. Além disso, Wierus começou a notar um certo padrão físico e mental nas tais “bruxas”: mulheres de constituição física muito frágil (provavelmente falta de vitaminas), febris (uma das causas das alucinações), moradoras de áreas afastadas... Como aqueles fenômenos fantásticos só ocorriam entre mulheres com tais características? Por que os “envenenadores” (os magos) e verdadeiros praticantes das artes mágicas nunca relatavam encontros fantásticos?

4. Foi o ponto de partida da investigação. Ele concluiu que as acusações eram absurdas e estas mulheres precisavam de tratamento. Wierus não era um cético e percebemos isso no próprio livro: ele acreditava na existência e manifestação demoníaca e nos “elementais” que eram comuns na Europa, como duendes, gnomos, kobolds. É interessante perceber como a Europa cristã não conseguiu eliminar as antigas crenças “pagãs” quanto aos elementais. Ele relata, de forma bem natural, como sua família lidava com kobolds na fábrica de cerveja de seu pai. Isso explica como a magia ibérica veio parar aqui na América do Sul e como os cultos sincréticos foram formados no Brasil, sobre como os judeus abraçaram parte da magia babilônica, sobre como o Islam também abraçou boa parte da magia e costumes mágicos dos berberes, beduínos etc.

5. Portanto, NÃO é apenas um livro sobre “demonologia”. É história do Ocidente, história da medicina e até antropologia.

Recomendo.

Por Rafael Resende Daher

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