Uganga é mais uma banda do Triângulo Mineiro. E essa mesma para os que não conhecem executa um Thrash/Hardcore repleto de conteúdo que vaga das raízes da grande árvore até a última folha. Com 4 materiais full no currículo eles gravaram recentemente mais um material de insana qualidade, intitulado de ''OPRESSOR'', a seguir os integrantes falam um pouco sobre isso e muito mais.
Metal Reunion Zine. É mais que um prazer, é um orgulho fazer parte da história do Uganga executando essa entrevista para fins de apoio e movimentação de divulgação. O Uganga é uma banda que nos surpreende em cada material, entre um e outro vemos a extensão técnica que é a marca registrada de vocês, expressões reflexivas e um caráter que muitas bandas não se adequam. Em ''Opressor'' percebi um 'salto' bem mais elevado do que foi executado em ''Vol.3 Caos Carma Conceito', como se deu a idéia de criar um full-lenght dessa forma?
Manu “Joker” Henriques: Salve Pedro! Estamos muito felizes com a recepção que o “Opressor” está recebendo, tanto de público quanto crítica. Trabalhamos duro na pré-produção desse álbum e chegamos no estúdio 100% prontos para dar nosso melhor. Ainda acho “Vol. 03...” um excelente álbum, mas concordo que fomos além no novo disco. O que te digo com certeza é que a cada trabalho iremos buscar nos superar, sempre.
Metal Reunion Zine. Vários frutos foram colhidos devido os 4 álbuns, não foi a toa que atravessaram o oceano para mostrar o som de vocês aos gringos (E olha que agradar eles não é fácil, creio eu que para vocês não houve tanta dificuldade). Na humilde opinião de vocês, como percebem a inserção de mais um disco no cenário nacional? Aliás, como vocês olham o mercado musical para as bandas que estão crescendo aos poucos?
Marco Henriques: O mercado de som pesado nunca foi fácil, o espaço é restrito e a quantidade de boas bandas é grande. Mas as coisas têm melhorado. Bons festivais acontecendo, selos fazendo um bom trabalho de divulgação, assessoria de imprensa especializada, como a Som do Darma que trabalha com o Uganga. Enfim, a coisa já foi pior (risos). Mas ainda achamos de extrema importância não se limitar ao mercado digital e ter sempre um material físico legal, um merchandise de qualidade e um bom trabalho de divulgação.
Metal Reunion Zine.Ainda sobre o ''Opressor'', muitas bandas ficam com medo de fazer uma 'continuação' de um material ou executar um som que 'espante' o público. Não sei se vocês arriscaram ou fizeram um estudo bem amplo para produzirem materiais assim, e principalmente em português. Normalmente faço a mesma pergunta com outras bandas, e com vocês não pode sair em branco.
Qual importância do português hoje em dia no underground?
Manu : Eu comecei tocando em bandas que escreviam em inglês, mas de 1993 pra cá passei a me ligar mais em escrever na nossa língua, e sigo assim desde então. Acho que a ideia fica mais clara, em especial no caso do Uganga, que é papo reto na linguagem das ruas mesmo. Respeito tanto as bandas que optam por uma língua quanto pela outra, o que importa é ter qualidade e verdade. No nosso caso nossa opção é o português desde o início e estou convencido que as barreiras hoje já não são tantas como há tempos atrás. Rodamos a Europa cantando assim, na nossa língua, e tocamos ao lado de bandas que cantavam em Polonês
(Terrordome), Alemão (Macbeth), entre outras. Sempre fomos bem recebidos e eu explico do que se tratam as letras.
Metal Reunion Zine.Por isso mais um material 99% em português? Já pensaram em algo somente em inglês? Ou continuarão na mesma linha?
Manu: Sim, como disse, essa é a nossa cara. Pro Uganga é assim que rola. No “Opressor” teve o cover do Vulcano onde mantivemos a versão original em inglês, mas de resto creio que seguiremos cantando na nossa língua mesmo. Já pensei em escrever algo em espanhol também e creio que vá rolar no futuro. Agora um álbum todo em inglês? Creio que não, mas uma música quem sabe? Nunca diga nunca (risos)!
Metal Reunion Zine.Uma coisa novamente me chama a atenção, é a capacidade de mesclar a identidade urbana com a possibilidade de ser Thrashcore (Obs: Existem bandas boas que sabem fazer isso, existem outras que possuem um trabalho razoável, e tem vocês, que estão no meu TOP 3 das bandas que mais souberam mesclar o assunto perfeitamente) sem precisar apelar aos aspectos mesquinhos e massivos que me deixa abusado de ouvir. Manu, você é um real filósofo nas letras, de onde tira tanta ideia? De que forma deixa elas totalmente organizadas e fazendo com que não se tornem chatas? Eu particularmente repeti ''Moleque de Pedra'' e ''Estranhas do Sol'' na primeira vez que ouvi 15 vezes pra mais, atualmente perco as contas disso muito rápido.
Manu: (Risos) Que massa, mano! Várias pessoas têm elogiado as letras do novo álbum e isso nos deixa muito satisfeitos! Como letrista da banda, posso dizer que o que me motiva é o que está a minha volta ou dentro da minha cabeça (risos). Escrevo sobre o que sinto, o que me faz bem ou revolta. Também gosto de escrever sobre história, como na faixa “O Campo”, mas sempre na minha ótica e nunca soando panfletário ou senhor da verdade. Sou só mais um tentando se encontrar nesse mundo louco.
Metal Reunion Zine.Um salve ao grande Juarez Távora (Scourge - Assim que adquirir o ''Hate Metal'' faço uma matéria com vocês também!). Como se deu essa grandiosa ideia de o chamar para usar os urrados vocais? Não imaginava como iria ficar em alto nível a junção de Thrashcore com Death Metal, a última vez que vi algo tão bom foi a faixa ''Extinção em Massa'' (Krisun - The Great Execution, participação especial de João Gordo).
Manu: O Juarez, vulgo “Tibanha” é um grande amigo. Nos conhecemos por volta de 1987 e desde então temos uma amizade forte e verdadeira. O cara é um guerreiro, um autêntico metalhead e uma excelente pessoa. Não teria melhor escolha para esse som, ficou brutal! Escrevi essa letra com o Tito (Seu Juvenal) já pensando em tê-lo como convidado, pra mim é a música mais old school do álbum e com certeza teremos mais parcerias juntos. Um típico metal mineiro (risos). Eu inclusive fiz backing vocals em quase todos os sons do novo cd do Scourge, “Hate Metal”. Tá tudo em casa.
Com leais a boas histórias de viagens, o que tiraram de tanta influência quando passaram pela Europa? Tem algo guardado para nós? ''O Campo'' foi uma surpresa, fruto de uma boa pesquisa, conte-nos mais.
Manu: Cara, a estrada ensina e te faz passar por coisas que nunca mais vai esquecer. Já rodamos há um bom tempo aqui e lá fora e cada vez ficamos mais experientes, sabendo evitar o que traz desgaste e focando no que faz bem (risos). A cada dia um local diferente, uma nova língua, uma nova cultura isso é muito legal. Particularmente procuro absorver o máximo dessa
diversidade ao invés de ficar no hotel de ressaca (risos). A ideia de “O Campo” surgiu durante nossa primeira tour européia. Após o show da Cracóvia (Polônia) fomos visitar o campo de Auschwitz/Birkenau e é algo realmente impressionante e de arrepiar. Eu sou um estudioso da Segunda Guerra, leio muito sobre o assunto e sobre os grandes conflitos da humanidade de maneira geral. Poder estar em lugares como aquele é muito impactante, algo que te marca pra sempre. Digamos que me senti obviamente revoltado com tudo o que vi lá, mas feliz por ter tido a chance de visitar aquele lugar onde, 70 anos atrás, a história foi escrita com sangue. Toda e qualquer forma de preconceito racial tenha minha completa repulsa e Auschwitz está lá pra nos lembrar do quão baixo podemos descer enquanto seres humanos.
Metal Reunion Zine.Porque optam tanto por participações especiais? Em ''Opressor'' tem menos do que no ''Vol.3...'', ou é impressão minha?
Manu: Participações são legais, trazem um tempero extra pras músicas, mas no nosso caso precisa ter uma parceria real para chamarmos uma pessoa para atuar em algum som do Uganga, seja cantando, tocando ou escrevendo. Sempre foi assim, amigos fazendo música com agente, tipo o X (Câmbio Negro), Zacca (Seu Juvenal), Eremita ou Dino Black, todos camaradas. Você está certo quanto ao novo álbum, no “Opressor” foram menos convidados, pois isso é algo que sentimos e não necessidade, depende do momento e do material. Dessa vez tivemos Murillo Leite (Genocídio) e Ralf Klein (Macbeth – Alemanha) tocando guitarra em “Who Are The True?” (cover Vulcano), o Juarez em “Moleque de Pedra”, nosso produtor Gustavo Vazquez tocando teclado em alguns sons e amigos das bandas Hellbenders e Mugo fazendo uns coros. Na parte das letras dessa vez tive, como disse, a ajuda do Tito (Seu Juvenal) em “Moleque De Pedra”, do Marco em “Casa” e do nosso manager Eliton Tomasi na faixa título.
Metal Reunion Zine.O 1% que completa os 100% do disco é inglês, um som cedido pela Cogumelo Records, a pegada de vocês beirou a perfeição. Porque justo ela?
Manu: Muito obrigado pelo elogio, mano! Escolhemos esse som por duas razões, somos muito fâs do Vulcano e essa letra é muito atual. Um foda-se pra esses falastrões do metal que ficam atrás do computador falando merda (risos). O melhor de tudo foi ter nossa versão elogiada pelos caras do Vulcano. Isso não tem preço cara!
Metal Reunion Zine.Na capa em cada parte há um detalhe a observar. Perfeita aos meus olhos, vejo terror, ganância, perigo, armamento de fogo, terras quentes que enfrentamos todo dia, religião, devastação ao fundo, etc, etc, etc, muitos detalhes... Quem e o grande Beto Andrade? Como foi se aliar a ele? Vocês escolheram a arte pré-feita ou foram dando ideias a ele até chegar ao resultado que vemos?
Manu: O Marco cuidou das artes da banda desde o segundo cd (Na Trilha Do Homem De Bem – 2005) mas dessa vez quando conversamos sobre o conceito ele deu a ideia de usarmos o Beto pra capa, pois ele já tinha feito uma arte pra camiseta do Uganga e gostamos bastante. Passei pra ele a ideia do título e o que imaginava e ele mandou bala. Depois de alguns esboços ele chegou onde queríamos, gosto muito do estilo dele mais HQ. O Marco ficou com o encarte e novamente fez outro belo trabalho.
Marco: O Beto é um ilustrador mineiro que conheci através da Incêndio, minha marca de roupas. Ele fez nossa primeira coleção de camisetas e curti muito seu trabalho. Daí pra frente foram várias parcerias dentro da marca e a coisa se estendeu pra banda. Acho que o resultado foi fantástico, retratou bem o conceito do “Opressor” e nós ficamos muito satisfeitos.
A Som do Darma faz o sangue correr pelas veias da banda (Um salve a Susi e Eliton, obrigado pela paciência e confiança), o trabalho deles é de alto renome, então, podemos esperar uma tour pelo Nordeste? Fazendo o possível para ajudar no que for para que vocês se apresentem aqui em Teresina. Se eu tivesse grana o suficiente traria na raça mesmo, mas passagem de avião mata nossos bolsos cidadãos.
Marco: Nem me fala cara, temos muita vontade de ir pro Nordeste! Já rolaram alguns convites, mas infelizmente nunca se concretizou. Mas com certeza vai rolar em breve. Nosso país é muito grande, o retorno em shows de som independente não é dos maiores e isso acaba dificultando a ida para lugares mais distantes. Mas, junto com a Som do Darma e com nosso selo Sapólio Radio, estamos correndo pra que aconteça logo. Sempre ouvimos boas histórias do Nordeste, que o público metal é insano. Então não vemos a hora de mostrar nosso Thrashcore por aí!
Metal Reunion Zine. Como andam as bandas daí? Fazendo muitos shows? O que vocês têm a dizer sobre o cenário ao redor de cada um? E no Brasil? Quais os tipos de bandas na atualidade que merecem ser entendidas como Undergrounds e 'médias', e aquelas que, na opinião sensata de vocês, claro, não merecem ser?
Manu: Cara, a cena do Triângulo está num momento legal. Temos bandas excelentes aqui, de vários estilos, tem um público legal e locais para tocar. Ainda rola o lance de se valorizar mais banda cover que autoral, mas está melhorando. Temos selos, publicações, casas de shows, produtoras, marcas de roupa, acho que o momento é legal. De maneira geral acho que a cena nacional está numa fase boa, mas particularmente vejo mais força no interior do que nas capitais. Sobre merecimento, acho uma questão muito pessoal, mas, falando por mim, respeito as bandas que fazem seu corre com verdade sem usar de intrigas ou panelas pra aparecer.
Metal Reunion Zine. O que vocês acham dessa galera que faz sucesso muito rápido hoje em dia, isto é, sobre o mercado musical? E desses movimentos em prol ao rock atuais, como coletivos, etc…?
Marco: Sempre vão haver bandas e artistas moldados e criados para o sucesso, apesar de nem todos darem certo. E claro, tem boas bandas que aparecem, crescem rápido e nem por isso são ruins. Mas eu prefiro ficar com quem faz a coisa com sinceridade e de coração. Sobre os Coletivos, vejo como algo que sempre rolou e evoluiu um pouco, que é um grupo de amigos juntando forças pra fazer algo. Houve um boom desse termo, apareceram vários coletivos, muita gente começou a "viver" disso. Mas assim como as bandas, ocorreu a mesma coisa: quem fazia a parada de coração e porque gostava mesmo, continuou, os demais já sumiram.
Metal Reunion Zine.Qual a diferença entre ser um músico ''profissional'' que toca metal, hardcore, e ser um headbanger que toca metal?
Manu: Acho que isso tudo se funde. Você precisa levar a sua música no coração e na sua atitude, em especial no meio do rock pesado. Toco metal e hardcore pois é parte de quem sou, não importa se isso vai me dar grana ou não. Agora fazemos isso sério, de maneira compromissada pra não ser “só mais um na multidão”. Não estou em banda há mais de 25 anos pra tocar em churrasco de fim de semana (risos).
Metal Reunion Zine. Considerações finais? O campo de guerra cessa fogo em grande vitoria de tão bela que ficou essa entrevista. Agradeço de coração o tempo destinado para responder essas perguntas. Nos vemos por ai; Abraço forte para cada um e que o Thrashcore jamais pare.
Marco: Valeu pelo espaço! Uganga manda um salve pro Nordeste e prometemos aparecer por aí em breve pra quebrar tudo com vocês. Para mais infos sobre a banda, acesse: www.uganga.com.br, e pra comprar nosso merch: www.ugangastore.tanlup.com
Manu: Salve Pedro e toda a crew! A gente se vê na estrada, pax!
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Por Pedro Hewitt
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