sexta-feira, 8 de março de 2024

ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da ópera rock do terror cotidiano - Segunda Temporada 2023/2024 - #24

 
O bagre, o barco e o pescador

Por Fabio da Silva Barbosa


Com certa periodicidade, ele pegava seu barquinho a remo e ia na remada até embaixo da ponte, onde os peixes poderiam gozar de certo sossego. Tinha por volta de cinquenta anos. Sempre levava uma garrafa de cachaça e outra de água. Por vezes trazia também algo para comer. Tinha um físico de atleta. Certa vez tentaram lhe vender um motor para o barco.

               - Não preciso. Me u barco é pequeno. Se botar uma coisa dessas é capaz até dele voar. – Respondeu com ironia.

               Naquele dia saiu bem cedo. Ainda remava enquanto assistia ao nascer do Sól. Foi até o lugar de sempre. Vieram alguns peixes logo cedo. Em determinado momento veio um bagre. Atrapalhou-se ao tentar tirá-lo para jogar junto aos outros no fundo do barco e levou uma ferroada do peixe.

               -Caralhoooooo...

               A dor era intensa e o braço foi ficando todo dormente. Foi deslizando até estar deitado no fundo do barco. O Sol estava quente e só iria esquentar mais no decorrer do dia. Mais bonito que o céu, só aquele mar todo refletindo a claridade que batia nele. A sede foi batendo, mas não conseguia se movimentar para fazer qualquer coisa que quisesse. A correnteza batia de leve no caso do barco, fazendo seu barulho característico. Ele ia cozinhando sob aquele Sol. O Bagre já havia morrido em um canto do barco.

               Foi como terminou a vida. Onde gostava de estar. Mas deve ter sido terrível. Isso deve.

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