Nesta entrevista nosso convidado de
honra, diretamente dos portais da loucura, é ninguém menos que Thiago Caronte, vocalista da primitiva horda Velho, do Rio de Janeiro.
Primeiramente, gostaria de lhe
agradecer por conceder ao Metal Reunion Zine esta nefasta entrevista!
Metal Reunion Zine: Então, pra inicio
de conversa, como surgiu a banda e porque o nome Velho?
CARONTE: O nome Velho refere-se não a
um idoso, ou qualquer pessoa de idade avançada que relembre o arquétipo do
sábio ermitão, longe disso, carrego em mim para sempre algo de jovial. O nome
velho se refere a tudo que o tempo tornou antigo e envolveu em mistério. A
banda surgiu de um surto de inspiração em 2009, quando resolvi que valia a pena
procurar um baterista pra gravar minhas músicas. Carreguei algumas daquelas
músicas dos EPs por anos antes de encontrar com o Splatter e fundarmos o Velho.
Metal Reunion Zine: Podemos perceber
que do web-álbum “Vida Longa ao Primitivo” ao álbum “Senhor de Tudo”,houve um
amadurecimento nas composições, tanto na parte sonora das músicas e na
qualidade da gravação, mas principalmente em relação as letras. Você concorda
com essa afirmativa? Me fale um pouco sobre os temas abordados pela horda
CARONTE: Eu concordaria em dizer que
sonoramente sou mais adepto ao “Vida Longa ao Primitivo” e sua crueza gélida, é
um registro frio e curto, cheio de ódio. Mas como você falou sobre as letras,
sim, realmente mudaram, pois a própria vida mudou. Hoje em dia algumas coisas
“que o homem produziu” para meu usufruto, prestam mais que o álcool.
Continuarei falando nas letras apenas das coisas que sinto, não falo de
estupros, holocaustos cristãos, de que vamos matar todos os anjos e o caralho,
nem de nada que na verdade nunca acontecerá, apesar de serem tudo parte de uma
blasfemadora fantasia até respeitável, mas eu sou outra coisa. Só falo de
nossos próprios experimentos ocultos e da estrada de fogo que sigo sozinho, que
pode acabar inspirando uns ou outros.
Metal Reunion Zine: Muito bom...o álbum
Senhor de Tudo evoca uma certa atmosfera de metafísica correto?Me fale um pouco
sobre essa visão...
CARONTE: A palavra metafísica me
incomoda, vamos dizer ABSTRATA... e eu digo mais, se trata de algo abstrato
porém aplicado na prática, não a eterna não-vida dos metafísicos, dos
filosofadores, não filósofos... os que estão sempre na sala de espera da vida.
O Senhor de Tudo é dado à Magia e ao oculto, nada de metafísico.
Metal Reunion Zine: Vocês de fato se
consideram uma banda de Black metal?ou preferem não se rotular?
CARONTE: Essa é uma boa pergunta,
porque de fato
nunca me preocupei em responder ou firmar que estamos dentro de
um rótulo. Não controlo, nem considero esse tipo de informação. Se eu fosse obrigado
a gostar de tudo que se intitula Black Metal, só porque utiliza esse dileto
nome e exige um respeito imediato, eu me mataria. As pessoas chamam de Raw, Old
School... no metal-archives tá como Speed Black Metal, haha eu só rio. Eu não
sei de onde tiram essas coisas. A única vez que alguém se preocupou de nos
perguntar o que nós “somos” antes de fazer um flyer eu respondi: Coloca lá,
MALDITO E VERDADEIRO BLACK METAL. A intenção clara da nossa arte está tão além
dos rótulos que eu sempre achei que estava tudo bem esclarecido e não me
preocupei com o rótulo. É bem óbvio que nossas composições vêm de uma tradição
puramente black metal. Se é que o Black Metal pode ser dito puro por si
próprio, nascido do nada. Não, não foi.
Metal Reunion Zine: Uhm...e quais são
os planos atuais da horda?Algum culto sinistro está sendo forjado nas
profundezas?
CARONTE – Estamos marcando algumas novas datas, inclusive por Brasília e pelo
Nordeste brasileiro, além dos shows, estamos relançando os 2 primeiros EPs
reunidos em Vinil pela HellMusic e em CD, versão capa vermelha. Também estamos
finalizando as gravações e produção do que será o primeiro álbum longo da
banda. Se chamará Decrepitude & Sabedoria. Seu lançamento deverá ser
anunciado antes do fim do ano.
Metal Reunion Zine: Tirando um pouco o
foco da horda, o que você tem achado do cenário Rock/Metal no Brasil
atualmente? E no Rio de Janeiro?
CARONTE: Tem acontecido tanta coisa ao
mesmo tempo que fica difícil acompanhar tudo. Muitas cidades estão em chamas,
como que sob um encantamento de inspiração diabólica constante. Acho isso foda.
Pois já vivi eras mais mortas. Onde os esforços pelo metal e sua cultura, quase
sempre pareciam infrutíferos. Tenho acompanhado as atividade de algumas bandas
na medida do possível, tenho visto muita coisa boa surgir, e bandas lendárias
no underground serem enfim entronizadas como merecem. A história se reafirma e
se justifica constantemente em nossos tempos. Temos brindado a coroação de uma
luta que não começou ontem. Isso é fator histórico inédito. Alguns amigos bem
mais velhos, que viveram os saudosos anos 80, me dizem que a coisa nunca esteve
tão boa. Em parte, eu consigo entender e até acreditar. Nos consideramos parte
de uma geração de sorte. Eu vejo a luz de Lúcifer brilhando forte na testa dos
filhos da promessa. Tudo isso erguido sobre os ossos do sacrifício de todos que
vem lutando por isso há muito tempo.
Metal Reunion Zine: Algum estado em
destaque?
CARONTE: Minas Gerais sempre! Sou um
carioca desalmado e apátrida. Por mim eu moraria em MG e viveria bem. Bons
músicos por perto, bons pensadores, uma boa cachaça, natureza vasta. Isso é uma
boa estrutura. De uns semestres pra cá tenho escutado muito as bandas de Minas,
algumas que vieram tocar como: INCITER merecem total respeito! Outras como
NECROMANTE, THOTH AMON, GEHEIMNIS, quero muito ver aqui pelo RJ... Uma pena que
não poderei ver o show do ASARADEL aqui esse ano, pois vou estar tocando no
Nordeste... umas mais cascudas e outras
que estão nascendo. Mas tudo feito com muito sentimento. A terra do Metal da
Morte será sempre, sem dúvida, minha segunda morada.
Metal Reunion Zine: Você também possui
um zine impresso,”Um Feitiço Escrito em Sangue”,do qual tive o imenso prazer de
testemunhar um material extremamente bem produzido, que enriquece e muito nossa
cultura do submundo. Me fale um pouco sobre o zine e suas atividades como
letrista/escritor.
CARONTE: Não acho extremamente bem
produzido... Um
Feitiço Escrito em Sangue é bem simples como a maioria dos
zines em sua origem... xerocado, feito em papel A4 dobrado. Apesar de sua
simplicidade na produção, o conteúdo é bem profundo, rico e completamente
íntimo. Onde revelo tudo que sinto de verdade para quem se interessar de
verdade. Não pra encher a cabeça de quem tá mais perto como se eu fosse esses
colunistas, DJs e críticos musicais de Facebook. Meu zine pretende ser um
registro sério e valioso de tudo que realmente tocou minha vida. Nunca se
tornará uma revista profissional, obrigada a divulgar tudo que acontece no
metal, só porque se trata de trabalho e trabalho merece respeito. Não. Aquilo
ali é a minha vez de falar.
Metal Reunion Zine: Bom Caronte, não
irei alongar mais
essa entrevista, de modo que desejo que o Velho seja cada vez
mais bem sucedido em sua jornada, e que o álcool seja eterno! Reservo esse
espaço para suas considerações e mais uma vez lhe agradeço sinceramente por nos
ceder um pouco do seu tempo! O espaço é seu! Sucesso!!!
CARONTE: Eu agradeço muito a
oportunidade de expressar minha opinião quando estou sendo realmente
questionado, não enfiando minha merda pela goela dos outros só porque o
facebook me perguntou como eu estava me sentindo. O álcool uma hora acaba e
nossos copos ficam vazios, mas essa luta contra a mediocridade nunca acabará.
Muito obrigado a todos que nossa música tem atraído e reunido em torno de uma
chama. Salve a rebelião de Lúcifer e todos os guerreiros que despertaram ao
nosso chamado nessa grande noite que é a vida. HAIL.
Entrevista por Lucas Albuquerque