segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Velho - Perto do portais da loucura do subterrâneo - Entrevista.



Nesta entrevista nosso convidado de honra, diretamente dos portais da loucura, é ninguém menos que Thiago Caronte, vocalista da primitiva horda Velho, do Rio de Janeiro.
Primeiramente, gostaria de lhe agradecer por conceder ao Metal Reunion Zine esta nefasta entrevista!


Metal Reunion Zine: Então, pra inicio de conversa, como surgiu a banda e porque o nome Velho? 


CARONTE: O nome Velho refere-se não a um idoso, ou qualquer pessoa de idade avançada que relembre o arquétipo do sábio ermitão, longe disso, carrego em mim para sempre algo de jovial. O nome velho se refere a tudo que o tempo tornou antigo e envolveu em mistério. A banda surgiu de um surto de inspiração em 2009, quando resolvi que valia a pena procurar um baterista pra gravar minhas músicas. Carreguei algumas daquelas músicas dos EPs por anos antes de encontrar com o Splatter e fundarmos o Velho.


Metal Reunion Zine: Podemos perceber que do web-álbum “Vida Longa ao Primitivo” ao álbum “Senhor de Tudo”,houve um amadurecimento nas composições, tanto na parte sonora das músicas e na qualidade da gravação, mas principalmente em relação as letras. Você concorda com essa afirmativa? Me fale um pouco sobre os temas abordados pela horda


CARONTE: Eu concordaria em dizer que sonoramente sou mais adepto ao “Vida Longa ao Primitivo” e sua crueza gélida, é um registro frio e curto, cheio de ódio. Mas como você falou sobre as letras, sim, realmente mudaram, pois a própria vida mudou. Hoje em dia algumas coisas “que o homem produziu” para meu usufruto, prestam mais que o álcool. Continuarei falando nas letras apenas das coisas que sinto, não falo de estupros, holocaustos cristãos, de que vamos matar todos os anjos e o caralho, nem de nada que na verdade nunca acontecerá, apesar de serem tudo parte de uma blasfemadora fantasia até respeitável, mas eu sou outra coisa. Só falo de nossos próprios experimentos ocultos e da estrada de fogo que sigo sozinho, que pode acabar inspirando uns ou outros.



Metal Reunion Zine: Muito bom...o álbum Senhor de Tudo evoca uma certa atmosfera de metafísica correto?Me fale um pouco sobre essa visão... 


CARONTE: A palavra metafísica me incomoda, vamos dizer ABSTRATA... e eu digo mais, se trata de algo abstrato porém aplicado na prática, não a eterna não-vida dos metafísicos, dos filosofadores, não filósofos... os que estão sempre na sala de espera da vida. O Senhor de Tudo é dado à Magia e ao oculto, nada de metafísico.



Metal Reunion Zine: Vocês de fato se consideram uma banda de Black metal?ou preferem não se rotular?


CARONTE: Essa é uma boa pergunta, porque de fato
nunca me preocupei em responder ou firmar que estamos dentro de um rótulo. Não controlo, nem considero esse tipo de informação. Se eu fosse obrigado a gostar de tudo que se intitula Black Metal, só porque utiliza esse dileto nome e exige um respeito imediato, eu me mataria. As pessoas chamam de Raw, Old School... no metal-archives tá como Speed Black Metal, haha eu só rio. Eu não sei de onde tiram essas coisas. A única vez que alguém se preocupou de nos perguntar o que nós “somos” antes de fazer um flyer eu respondi: Coloca lá, MALDITO E VERDADEIRO BLACK METAL. A intenção clara da nossa arte está tão além dos rótulos que eu sempre achei que estava tudo bem esclarecido e não me preocupei com o rótulo. É bem óbvio que nossas composições vêm de uma tradição puramente black metal. Se é que o Black Metal pode ser dito puro por si próprio, nascido do nada. Não, não foi.


Metal Reunion Zine: Uhm...e quais são os planos atuais da horda?Algum culto sinistro está sendo forjado nas profundezas?

CARONTE – Estamos marcando algumas novas datas, inclusive por Brasília e pelo Nordeste brasileiro, além dos shows, estamos relançando os 2 primeiros EPs reunidos em Vinil pela HellMusic e em CD, versão capa vermelha. Também estamos finalizando as gravações e produção do que será o primeiro álbum longo da banda. Se chamará Decrepitude & Sabedoria. Seu lançamento deverá ser anunciado antes do fim do ano. 


Metal Reunion Zine: Tirando um pouco o foco da horda, o que você tem achado do cenário Rock/Metal no Brasil atualmente? E no Rio de Janeiro? 


CARONTE: Tem acontecido tanta coisa ao mesmo tempo que fica difícil acompanhar tudo. Muitas cidades estão em chamas, como que sob um encantamento de inspiração diabólica constante. Acho isso foda. Pois já vivi eras mais mortas. Onde os esforços pelo metal e sua cultura, quase sempre pareciam infrutíferos. Tenho acompanhado as atividade de algumas bandas na medida do possível, tenho visto muita coisa boa surgir, e bandas lendárias no underground serem enfim entronizadas como merecem. A história se reafirma e se justifica constantemente em nossos tempos. Temos brindado a coroação de uma luta que não começou ontem. Isso é fator histórico inédito. Alguns amigos bem mais velhos, que viveram os saudosos anos 80, me dizem que a coisa nunca esteve tão boa. Em parte, eu consigo entender e até acreditar. Nos consideramos parte de uma geração de sorte. Eu vejo a luz de Lúcifer brilhando forte na testa dos filhos da promessa. Tudo isso erguido sobre os ossos do sacrifício de todos que vem lutando por isso há muito tempo.

Metal Reunion Zine: Algum estado em destaque?

CARONTE: Minas Gerais sempre! Sou um carioca desalmado e apátrida. Por mim eu moraria em MG e viveria bem. Bons músicos por perto, bons pensadores, uma boa cachaça, natureza vasta. Isso é uma boa estrutura. De uns semestres pra cá tenho escutado muito as bandas de Minas, algumas que vieram tocar como: INCITER merecem total respeito! Outras como NECROMANTE, THOTH AMON, GEHEIMNIS, quero muito ver aqui pelo RJ... Uma pena que não poderei ver o show do ASARADEL aqui esse ano, pois vou estar tocando no Nordeste...  umas mais cascudas e outras que estão nascendo. Mas tudo feito com muito sentimento. A terra do Metal da Morte será sempre, sem dúvida, minha segunda morada.


Metal Reunion Zine: Você também possui um zine impresso,”Um Feitiço Escrito em Sangue”,do qual tive o imenso prazer de testemunhar um material extremamente bem produzido, que enriquece e muito nossa cultura do submundo. Me fale um pouco sobre o zine e suas atividades como letrista/escritor.

CARONTE: Não acho extremamente bem produzido... Um
Feitiço Escrito em Sangue é bem simples como a maioria dos zines em sua origem... xerocado, feito em papel A4 dobrado. Apesar de sua simplicidade na produção, o conteúdo é bem profundo, rico e completamente íntimo. Onde revelo tudo que sinto de verdade para quem se interessar de verdade. Não pra encher a cabeça de quem tá mais perto como se eu fosse esses colunistas, DJs e críticos musicais de Facebook. Meu zine pretende ser um registro sério e valioso de tudo que realmente tocou minha vida. Nunca se tornará uma revista profissional, obrigada a divulgar tudo que acontece no metal, só porque se trata de trabalho e trabalho merece respeito. Não. Aquilo ali é a minha vez de falar.

Metal Reunion Zine: Bom Caronte, não irei alongar mais
essa entrevista, de modo que desejo que o Velho seja cada vez mais bem sucedido em sua jornada, e que o álcool seja eterno! Reservo esse espaço para suas considerações e mais uma vez lhe agradeço sinceramente por nos ceder um pouco do seu tempo! O espaço é seu! Sucesso!!!
CARONTE: Eu agradeço muito a oportunidade de expressar minha opinião quando estou sendo realmente questionado, não enfiando minha merda pela goela dos outros só porque o facebook me perguntou como eu estava me sentindo. O álcool uma hora acaba e nossos copos ficam vazios, mas essa luta contra a mediocridade nunca acabará. Muito obrigado a todos que nossa música tem atraído e reunido em torno de uma chama. Salve a rebelião de Lúcifer e todos os guerreiros que despertaram ao nosso chamado nessa grande noite que é a vida. HAIL.

Entrevista por Lucas Albuquerque

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