sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Navalha na Carne - Edição 43 - Perto dos inteligentes. Longe dos espertos.

 

Não sou exatamente um guru das boas decisões; já tomei muitos capotes na vida, já errei com pessoas que amava e, como bom carioca que sou, diria que dei mole, vacilei e garoteei várias vezes tentando aproveitar momentos que chamei de oportunidades e acabei sendo um grande otário. Mas, após algumas voltas ao redor do sol, fica difícil ignorar certas lições que talvez sirvam para você, leitor.

Então, caro espectador desta tragicomédia chamada vida, permita-me divagar sobre uma epifania que talvez tenha mais valor do que um vale-refeição em dia de aumento de preços. Mas vai que serve para ti?

Veja bem, neste país tão vasto quanto a variedade de desculpas esfarrapadas de políticos corruptos, profissionais desqualificados e filhinhos de papai mimados e recheados da meritocracia de herdeiro, uma verdade se destaca como uma agulha em um palheiro de mentiras: é melhor rodear-se de mentes afiadas do que de cabeças com artimanhas escorregadias.

Por que, você deve estar se perguntando, eu preferiria a companhia de um intelecto vigoroso em vez de um espertalhão sagaz? Simples, meu caro caminhante dessa estrada chamada vida: porque, enquanto o inteligente constrói pontes para o progresso, o esperto prefere cavar buracos para si mesmo e para os outros que o seguem. No primeiro momento, as coisas soam como instantâneas e positivas, coisa muito boa nesse mundo veloz e dinâmico que nos abocanha, mastiga e cospe antes do nosso café da manhã. Mas acredite, os prejuízos e arrependimentos por decisões tomadas a partir de esperteza, chegam rápido e custam caro. Foda-se se você não liga porque se garante, é malandrão ou porque tá cansado de ver no Brasil, gente pilantra se dando bem e os certinhos, inteligentes, educadores e intelectuais se fudendo de forma absurda e não levando vantagem em nada, inclusive no que de fato seria vantagem por direitos conquistados e adquiridos.

Enfim vou escrever sem deixar a indignação vomitar pelos dedos. Imagine só: numa sala repleta de pessoas espertas, o ar é impregnado com o odor fétido da ganância, da manipulação e da falta de escrúpulos. São indivíduos que sabem como burlar sistemas, mas incapazes de discernir entre o que é ético e o que é simplesmente conveniente. Se forem agraciados por beleza física e letrados o suficiente para serem convincentes, conseguem vender suas ideias sagazes até para aqueles que não são tão incautos, porém sonhadores e com uma dose de ingenuidade lamentável. Eles, os espertos, são como raposas astutas, sempre à espreita de uma oportunidade para lucrar às custas de alguém ingênuo o suficiente para cair em suas armadilhas, chamadas ideias, planos e oportunidades. Vejam a pandemia mortal de Covid-19. Vários espertos hoje, em 2024, se vangloriam de terem furado o lockdown, ido para festas, baladas, se infectado, infectado parentes e até mesmo matado os seus (coisa que eles jamais assumem), alguns inclusive comentam que os puteiros funcionaram normal, mostrando que além de espertos são desumanos também. Geralmente os espertos são canalhas, pensam apenas no próprio rabo e quanto vão se beneficiar com suas ações.

Eu conheci vários assim, é lamentável demais quando você percebe que alguém em quem você confia está tentando ser esperto contigo nesse nipe da covid do parágrafo anterior. Não é a esperteza que incomoda, mas sim a perda de tempo de ter se envolvido com um ser humano que não passa de um erro que anda e fala.

Agora, contrastem isso com um círculo de indivíduos inteligentes. Aqui, o ar é fresco e revigorante, impregnado com o aroma de ideias florescendo e debates fervorosos. São pessoas que não apenas entendem os meandros do mundo, mas também se esforçam para torná-lo um lugar melhor. São visionários, inventores, pensadores profundos, envolvidos ou interessados por artes e ciências, que buscam soluções criativas para os problemas mais intratáveis ou abandonados por alguns espertos e sagazes.

E por que, então, alguns ainda insistem em flertar com o lado sombrio da astúcia? Seria por falta de discernimento? Talvez. Mas, na maioria dos casos, é simplesmente uma questão de preguiça moral. É mais fácil seguir o caminho da esperteza do que dedicar-se ao árduo trabalho da inteligência genuína. Afinal, é mais simples driblar a lei do que compreendê-la e respeitá-la.

E quando digo lei, não estou falando das leis estabelecidas, estou falando de leis internas que um dia eu simplesmente optei por não seguir e hoje, mais velho, olho com vergonha, mesmo não sabendo com certeza se meus deslizes foram notados por outros. 

Portanto, quando você estiver diante da encruzilhada entre o brilho sedutor da esperteza e a luz radiante da inteligência, escolha sabiamente. Pois, como diz o velho ditado, é melhor ser uma vela acesa do que uma sombra esperta na escuridão da moralidade.

Isso se você entende o significado de moralidade além do uso de roupas longas e comportadas ou curtas e sensuais. Mas acho que você se ligou que não é de roupas ou moral religiosa que falei até aqui. Certo?

Até a próxima.

Por Alexandre Chakal - Maio/ 2024

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