quinta-feira, 18 de julho de 2024

Arquivos Explícitos- Notas Subterrâneas #4 -.

 

Quando o horror cotidiano te engole

E as velhas muletas já não se sustentam

Sentimos o corpo sucumbir 

A mente a se deteriorar

A gélida escuridão a envolver 

A neblina morbida sufocando qualquer tipo de esperança 

Enquanto as veias entupidas saltam de dentro para fora

Ornando toda a pele com o tracejado de um mapa decrépito em alto relevo

Expondo agonias e inflamações 

O cerebro dá lugar a uma bola de pus

E nos arrastamos cadavéricos

Nos sentindo elegantes vestindo o modo de vida podre como os dentes que se esfarelam dando o toque que faltava ao hálito azedo

A língua inchada e pastosa parecendo patê de fígado 

Globos oculares vazios e infeccionados

A orelha do velho pintor pendurada no vácuo enfeitando o precipício é mais bela que as mentiras que travestem a cama de pregos enferrujados  em confortável sofá comprado em dez vezes com juros

Não juro mais

Não creio mais

Não suporto a paz

Prometer não faz mais sentido que se embrulhar em um manto impregnado de fedores horrendos 

Parasitas repugnantes

A maldição dos que se acham salvos e a soberba dos que pensam escapar aos horrores dos nossos tempos

O deus furunculo espreme o ser que já não é 

Tentando tirar as últimas gotas de certezas incertas 

Esperanças há muito perdidas

Inocência esquecida

Lembranças partidas a machadadas

A marreta que ergue o prédio é a mesma que afunda o crânio 

A broca procura espaço onde antes não havia

Tecido vivo de uma pele morta

Matéria orgânica cobrindo o desgaste ósseo 

A sagrada secreção lubrifica fungos e feridas

A gravada é a forca do otário.

Por Fabio da Silva Barbosa 

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