sexta-feira, 12 de julho de 2024

Navalha na Carne - Edição 39 - Desmascarando a Subjugação em vigor no Brasil.

 
Como pai de uma adolescente que completou 18 anos em 2024, sempre enfatizei para ela as disparidades entre religiões e sociedade, incentivando-a a seguir a religião que escolhesse, mas a manter distância das igrejas protestantes do Brasil. Para minha sorte, ela sempre escutou minhas ideias. Enfatizei que se tratava de um esquema parecido com pirâmide, onde as pessoas davam grana (dízimos) em troca de perdão eterno para coisas imperdoáveis. As falsidades, os abusos, essa ideia de ex-estuprador, ex-assassino, ex-ladrão ou ex-golpista, sendo salvos após se arrependerem de atos considerados por mim sem perdão, nunca me convenceram e me dava medo ver minha filha fantasiada de um personagem mecanizado por ideias completamente discrepantes.

O que testemunho na prática é a ignorância, interpretações deturpadas da Bíblia que seguem, amor ao dinheiro e uma teologia completamente moldada para enganar os incautos e encher os bolsos de gente esperta, muitas vezes envolvidas em escândalos noticiados pela mídia. Esses "pastores" ainda têm casos, digamos, isolados mas bem reais onde usam sua autoridade e fama na comunidade para seduzir jovens e transformá-las em suas amantes, tudo isso em nome de Deus, da palavra e do amor. Tô fora! Imagina eu ver minha única filha amante de um sujeito com características como essas? Como disse antes, me dá medo.

Enfim... Como alguém preocupado com o bem-estar de minha única filha, jamais gostaria que ela se envolvesse com esse tipo de religião e de pessoas tão contraditórias. Quem agrega todos, nem sempre agrega coisas boas. Quem ama todos, não ama ninguém. Deuses que perdoam o imperdoável são deuses fracos e pessoas que acreditam nesse papo furado e reproduzem isso, são uma farsa hipócrita que na verdade só pensam mesmo no seu próprio rabo e usam a religião para tentar deixar quem discorda sem argumentos. Afinal, nada mais convincente do que usar um Deus todo-poderoso para tentar quebrar qualquer argumento e fazer o próximo aceitar qualquer bizarrice sem questionar. Né?

Na verdade, a orientei a explorar outras possibilidades religiosas que respeitassem sua dignidade e autonomia, sem expor sua privacidade ou colocá-la em risco. Até porque, ela afirma ser feminista e segue bem a cartilha que está tão em evidência nas mídias, redes sociais e sociedade atualmente. Cartilha essa muito necessária para o bem-estar das mulheres.

E foi aí, no feminismo, que achei o ponto que me ajudou a orientá-la de forma contundente para ficar bem longe dessa tal religião que hoje, na sociedade, é uma mistura de vício com moda e tendência. E a Bíblia, tão sagrada para eles, foi meu ponto de partida para o diálogo que seguiu mais ou menos assim.

"Ah, filhota, a Bíblia, o manual supremo de misoginia disfarçado de moralidade divina. Que obra-prima de machismo desavergonhado! Vamos dar uma olhada nos 'tesouros' que ela reserva para as mulheres, que são convenientemente relegadas a papéis secundários ou inferiores. Ah, aqui está: 'A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem; esteja, porém, em silêncio.' (1 Timóteo 2:11-12). Bela maneira de silenciar metade da população, não é mesmo? Além disso, encontramos em Efésios 5:22: 'As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor.' e em Colossenses 3:18: 'Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém no Senhor.' Essas passagens destacam claramente a submissão da mulher ao homem, relegando-as a papéis secundários e limitando sua autoridade e autonomia. E ainda temos em Gênesis 3:16: 'Multiplicarei grandemente a dor da tua concepção; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.' Mais uma vez, vemos a mulher sendo colocada em uma posição de submissão e sofrimento, enquanto o homem é elevado ao papel dominante."

Se eu fosse procurar mais citações, encontraria muito mais conteúdo, mas o que construiu nossa conversa foi mais que suficiente. Afinal se vale para eles citar pontos do livro sagrado para seus interesses particulares, com interpretações equivocadas ou manipuladas, eu achei justo usar a mesma máxima. 

Enquanto o discurso de valorização da mulher e o feminismo ganham força, há uma reação opressiva que continua a conceder benefícios específicos aos homens. Enquanto isso, a Bíblia continua sendo um best-seller, mesmo entre as mulheres que afirmam se valorizar e seguir os ideais do feminismo. Como pode ser isso? Como podem defender a igualdade de gênero e ainda assim reverenciar um livro que as coloca como meras coadjuvantes na história?

No Brasil de 2024, onde fatores econômicos e alto desemprego empurram cada vez mais mulheres para o papel de chefes de família, é ainda mais absurdo ver mulheres seguindo cegamente uma religião que as subjugou por séculos. Afinal, como podem encontrar empoderamento em uma doutrina que as considera inferiores? Como podem encontrar inspiração em personagens bíblicas que foram marginalizadas e subjugadas?

É hora de acordar para a realidade e perceber que a religião, especialmente aquela baseada em textos antiquados e misóginos, não é a fonte de libertação que muitos acreditam ser. As mulheres brasileiras merecem mais do que isso. Elas merecem respeito, igualdade e liberdade para seguir seus próprios caminhos, sem serem amarradas por correntes de dogmas arcaicos.

Nota: Como vivo no país da América do Sul, com um enorme número de religiões protestantes, tendo muito mais igrejas do que bibliotecas, cinemas, teatros e escolas, onde a maioria da população se declara cristã ou evangélica, que inclusive elegeram presidentes e ocupam bancadas políticas específicas em nome da Bíblia sagrada, declaro aqui que este texto, em sua integridade, é fictício. Uma fábula que não traduz a realidade da religião citada ou de seus seguidores. Mas declaro também, que de acordo com minhas observações pessoais, esses fiéis que se declaram representantes de Deus, deveriam melhorar como seres humanos para que textos como esse não tivessem tanta coerência mesmo sendo fictícios.

Por Alexandre Chakal

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