terça-feira, 23 de abril de 2024

Navalha na Carne - Edição 28 - O amor capitalista de hoje que irá apagar o amanhã.

O amor, esse sentimento tão sublime e complexo na teoria, mas infelizmente conhecido por poucos na prática, não está imune às influências do capitalismo voraz que permeia nossa sociedade. Em tempos onde o individualismo é incentivado e o consumo é elevado à categoria de virtude, o amor torna-se muitas vezes um produto, uma mercadoria a ser adquirida e descartada conforme conveniência. Tipo um aparelho celular que deixa de ser atraente e moderno, na proporção que o mercado de smartphones avança, como Bauman poderia exemplificar simplesmente com o termo "amores líquidos".

No contexto capitalista, o amor é frequentemente reduzido a um mero jogo de interesses, onde as relações são moldadas por conveniências materiais e status social. O que importa não é a profundidade dos sentimentos, mas sim o que se pode obter em troca. As relações são muitas vezes pautadas pelo poder aquisitivo, onde o sucesso financeiro de um parceiro é mais valorizado do que seu caráter ou seus valores éticos. Vejam as plataformas de vendas de conteúdo adulto, reforçadas por abordagens no Instagram, humanos de gêneros diversos, colecionam seguidores que admiram uma persona criada meticulosamente para encantar, entreter e até mesmo apaixonar, apenas para vender vídeos e fotos. Acho que em tempos atuais, é um exemplo relevante do nível que as relações humanas chegaram. Erro em dizer que são tempos atuais, visto que isso já é uma realidade normalizada há mais de uma década.

Nesse cenário, a busca pelo amor verdadeiro e genuíno é muitas vezes obscurecida pela obsessão pelo ter, pelo acumular de bens materiais como prova de sucesso e status. O amor é instrumentalizado, utilizado como moeda de troca em busca de benefícios materiais e sociais. Apps e sites de encontros, namoros e relacionamentos, coisa que eu mesmo achava que nunca vingaria no Brasil devido a questões de segurança, hoje são responsáveis por criar famílias e muitas experiências pessoais de todo tipo. Uma mescla de avanço tecnológico, comodidade e resultados instantâneos, claro, mascarados e devidamente adequados aos gostos e preferências de "consumo". Buscar um amor está a poucos cliques de distância. Continuo olhando essa modernidade como algo perigoso, mas se olharmos a sociedade em que vivemos, onde os encontros físicos tradicionais se tornaram até mais perigosos, talvez quem esteja desatualizado e limitado seja eu, mas ainda assim, essa nova modalidade de aproximação pessoal é algo que acredito que ilustra alguns pontos de nosso tema exposto aqui. Para quem analisar esse texto de forma rasa, vai achar que eu estou chovendo no molhado, visto que milhões de seres humanos usam esses apps para eles e, em alguns casos, até para construírem relações de seus pets.

Além disso, o capitalismo fomenta uma cultura do descarte, onde as relações são facilmente substituídas por outras mais vantajosas. A ideia de comprometimento e lealdade é enfraquecida em prol da satisfação imediata e do individualismo exacerbado. É urgente repensarmos nossos valores e práticas sociais em relação ao amor em tempos capitalistas. Precisamos resgatar a dimensão humana do amor, reconhecendo-o como um sentimento que vai além do material e do efêmero. Devemos valorizar a integridade, a empatia e a solidariedade nas relações interpessoais, em vez de colocar o acúmulo de riquezas como prioridade. Somente através de uma mudança de mentalidade e de comportamento poderemos resgatar a verdadeira essência do amor e construir relações mais autênticas e significativas em meio à voracidade do capitalismo.

No cenário caótico das relações modernas, onde a busca por estabilidade financeira muitas vezes suplanta o verdadeiro afeto, o amor se torna uma mercadoria negociada no mercado emocional. A gravidez, outrora celebrada como um símbolo de união e crescimento familiar, é agora instrumentalizada como uma tática para alcançar vantagens materiais, transformando o fruto do amor em um peão em um jogo de interesses egoístas. Da mesma forma, a inversão de papéis, onde jovens rapazes exploram a vulnerabilidade emocional de idosas viúvas, revela a frieza e insensibilidade do mundo contemporâneo, onde o afeto genuíno é substituído pela ganância e manipulação.

Nos tempos atuais, as relações são moldadas mais pela busca por lucro do que pelo verdadeiro vínculo emocional. O amor se torna uma commodity, onde apenas aqueles com os meios financeiros adequados podem participar do jogo, enquanto os menos favorecidos são relegados ao descarte sem cerimônia. Diante desse panorama desolador, é crucial resgatarmos os valores fundamentais do amor verdadeiro, baseados na compaixão, honestidade e reciprocidade. Somente assim poderemos romper com a lógica implacável do capitalismo e construir relações mais autênticas e significativas, onde o amor não seja apenas mais um produto a ser consumido e descartado, mas sim uma fonte de verdadeira realização e felicidade.

Alexandre Chakal é carioca, pai, publicitário, jornalista independente, designer, musicista, escritor, poeta, locutor freelancer, zineiro, editor do blog Metal Reunion Zine há mais de 15 anos. Um eterno inconformado com o cenário social e as péssimas gestões políticas no país mais rico da América Latina.

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