A reflexão sobre o tema permite ir além das conclusões superficiais apresentadas em textos extensos, alcançando interpretações mais complexas. É notório o surgimento de indivíduos autointitulados alternativos, mas que se mostram apenas egocêntricos e hipócritas, em uma busca vergonhosa de validação por meio de características distintas. Como se essa estratégia de se autoproclamarem bruxos, ocultistas ou simplesmente "esquisitos" fosse uma forma quase instantânea de elevação social em um meio povoado por pares que possuem os mesmos "valores".
O problema central no tema de nossa coluna hoje reside principalmente na má interpretação das obras citadas, que, mesmo sendo apenas duas referências em um vasto universo literário, propõem princípios individualistas, autonomia e liberdade pessoal e, acima de tudo, a rejeição completa do ego.
Contrastando essas atitudes com manifestações de homofobia, xenofobia e racismo, torna-se evidente que tais preconceitos contradizem os fundamentos dessas obras. Enquanto a homofobia vai de encontro à liberdade individual preconizada por Crowley e LaVey, o racismo e a xenofobia conflitam com a busca pela autenticidade e valorização da diversidade. Em ambos os casos, o ego emerge como protagonista na perpetuação de padrões ultrapassados, valores sem base aplicável e até mesmo atos nefastos, muitas vezes justificados e utilizados como cortina de fumaça por oportunistas que, no mínimo, ficam em cima do muro para essas questões sociais importantes, que, por sua vez, definem a base das palavras sociedade e civilidade.
A incursão nesse tema leva-nos a considerar a proliferação de tarólogos nas redes sociais, desde bruxos sinistros coaches de cabala até aqueles que afirmam manipular energias densas do oráculo da morte. Contudo, apesar de ostentarem conhecimentos nesses campos, muitos desses indivíduos não conseguiram desvincular-se de preconceitos enraizados em suas mentes primitivas. O exemplo dado destaca a ironia presente, onde a capacidade de julgar outros com base em características como cor de pele, tipo de cabelo, identidade de gênero e origens geográficas, religião, contradiz a suposta sabedoria diferenciada que tentam ostentar.
A não generalização é um compromisso assumido para não se assemelhar àqueles que criticamos. No entanto, o estereótipo popular do cristão no Brasil é evocado para ilustrar a falta de leitura e compreensão correta do que eventualmente esses indivíduos consomem de literatura. Tipo a Bíblia que eles afirmam tanto valorizar, a mesma Bíblia que a bancada evangélica e as associações de juristas evangélicos pretendem, de forma descarada, transformar em lei aqui no Brasil. Em um plano imoral de imposição de uma única religião, usando ferramentas democráticas e recursos da máquina estatal. Preconceitos, discursos de ódio, negação da ciência, julgamentos rasos e sem nenhuma coerência, ressaltando uma espécie de autoexaltação da estupidez em nome de Deus.
Nem todos, mas existe sim no Brasil uma parcela significativa de pessoas cristãs que acreditam, por exemplo, que homossexualismo e dependência em crack se "curam" com orações e fé. Que são contra o aborto e também da liberação da maconha, mas são fãs de Israel que legalizou tanto o aborto quanto a maconha. Seres que dizem ser representantes do filho de Deus, mas pregam que uma criança vítima de estupro, cometido por um adulto, não deve ter o direito de interromper essa gravidez fruto de um crime hediondo, pois seria pecado tirar uma vida. Teria mais uma infinidade de exemplos protagonizados na mídia, redes sociais e grupos obscuros de Whatsapp, habitados por seres que se intitulam cristãos e a favor da família. Mas sinceramente, me dá nojo continuar exemplificando essa vergonha protagonizada por essa gente que vomita a palavra amor, mas que aparentemente tem mais tesão pelo ódio.
O paradoxo master está na adoção de posturas discriminatórias por aqueles que afirmam seguir os princípios de Crowley e LaVey, revelando uma falha na compreensão da essência dessas filosofias e confundindo a busca pela liberdade individual com uma justificação elitista para condutas recheadas de preconceitos imbecis.
Ao abordar o "Satanismo de Instagram," que se refere à tendência de ostentar símbolos, estéticas e citações das obras sem compreender e muito menos praticar sua essência, evidenciamos aqui uma superficialidade que permeia as redes sociais. A análise leva a uma conclusão: incorporar verdadeiramente os valores propostos por Crowley e LaVey demanda transcender essa superficialidade, abandonar atitudes discriminatórias e abraçar uma compreensão autêntica da liberdade individual. Ser satanista e ser do mal, é o mesmo que ser cristão odiando.
O desafio é ir além da moda passageira do "Satanismo de Instagram" e comprometer-se profundamente com os princípios atemporais dessas filosofias, exigindo mais do que a simples adesão às tendências online.
Ter uma estante linda, entupida de livros interessantes. Mas tais livros não terem sido abertos e jamais serem lidos, talvez seja um bom exemplo para resumir o sentimento desse texto.
Alexandre Chakal é carioca, pai, publicitário, jornalista independente, designer, musicista, escritor, poeta, locutor freelancer, zineiro, editor do blog Metal Reunion Zine à mais de 15 anos. Um eterno inconformado com o cenário social e as péssimas gestões políticas no país mais rico da America Latina.
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