domingo, 3 de março de 2024

Navalha na Carne - Edição 21 - "PIX, comodidade para todos os brasileiros." Será?


Antes de dissertar sobre o título da coluna, gostaria de enfatizar alguns pontos sobre o tema. O Pix, na minha humilde opinião, talvez tenha sido a coisa mais relevante que o governo de extrema direita, entusiasta descarado do fascismo, que governava declaradamente para militares, empresários brancos, evangélicos e milionários do Agro, tenha feito em benefício para a classe trabalhadora.

Quando eu digo classe trabalhadora, estou falando de quem de fato constrói e faz a máquina desse país funcionar. Falo de pessoas que operam os meios de produção, andam de transporte coletivo, trem, barco, metrô e busão. Gente humilde que se vê obrigada a escolher qual conta pagar e tem limite baixo no crédito do cartão. E principalmente, pagam taxas, impostos e mais taxas, inclusive em transacões financeiras mediocres que a maioria do assalariado brasileiro realiza diariamente.
Não estou falando do playboy herdeiro, do filho ou neto das pensionistas de militares ou de ex-combatentes que nunca foram para uma guerra, dos políticos com verbas de gabinete, vale terno ou que praticam rachadinhas com seus apadrinhados, e muito menos dessa grande massa de cretinos que nada produz, mas consome verbas públicas federais. 
Não falo de banqueiros, olha que não falei bancários. Tá? Banqueiros. Os donos de fato disso tudo aqui, e também, das taxas, impostos, multas, sobre taxas, juros e tudo que deixa você que está lendo, mais dependente deles e o resto da história, você já sabe né?

E obviamente, também não estou incluindo em classe trabalhadora o tal ex-presidente e membros de sua família, até porque, ao ser elogiado por um apoiador sobre a criação do PIX, o presidente nem sabia o que era PIX. Mas é de se esperar reação assim de alguém que tem histórico de compra de mais de 50 imóveis com dinheiro vivo. Eu mesmo, não tenho nenhum conhecido que tenha condições de comprar um apartamento de 100 mil em grana viva. Como os políticos conseguem essas proezas que só os mafiosos ou bilionários conseguem? Devem ser uma espécie de gênios, mesmo muitos sendo analfabetos funcionais.

Mas vamos ao tema né?

Na era do PIX, testemunhamos uma despedida gradual do dinheiro físico, abrindo espaço para os pagamentos digitais que prometem simplificar transações financeiras de todos. Esse avanço tecnológico é celebrado por muitos que se deslumbram com a comodidade e agilidade que o PIX proporciona, transformando a maneira como lidamos com o dinheiro.

Entretanto, em meio a esse cenário de modernidade e eficiência, é crucial refletir sobre as diferentes realidades que coexistem. Enquanto alguns experimentam as facilidades do mundo digital, é irônico perceber que, para os brasileiros em situação de rua e miséria extrema, essa tecnologia não representa um teto seguro, mas, ironicamente, uma realidade mais distante e inatingível.

A transição para pagamentos digitais destaca a crescente dependência da sociedade em relação à tecnologia. O PIX, com sua instantaneidade, redefine as expectativas em relação à rapidez nas transações financeiras, eliminando a necessidade de carregar dinheiro físico. No entanto, essa revolução financeira evidencia uma disparidade social marcante.

Sabe quem percebeu isso e também percebeu uma grande vantagem na praticidade do PIX? Aqueles que praticam roubos de aparelhos celulares, sequestros relâmpago, extorsão e outros tipos de crimes que envolvem dinheiro, que antes era físico.

Enquanto a maioria abraça a comodidade dos pagamentos digitais, para os brasileiros em situação de rua, a realidade é marcada pela exclusão digital e pela falta de acesso às vantagens que o PIX oferece. A ironia reside no contraste entre a euforia daqueles que abraçam a modernidade e a distância crescente entre esses avanços tecnológicos e a vida das pessoas marginalizadas.

Os moradores de rua, mendigos e pedintes enfrentam barreiras significativas para participar plenamente dessa revolução digital. A falta de acesso a dispositivos eletrônicos e à internet perpetua a exclusão financeira, destacando a lacuna entre os estratos sociais. Enquanto muitos desfrutam da praticidade do PIX, aqueles que lutam diariamente pela sobrevivência continuam à margem desse progresso, presos em uma realidade onde as preocupações imediatas superam as inovações tecnológicas.

Assim, na era do PIX, é essencial considerar não apenas os benefícios proporcionados pelos pagamentos digitais, mas também as desigualdades que persistem. Enquanto avançamos rumo a uma sociedade cada vez mais digitalizada, a inclusão de todos os estratos sociais deve ser uma prioridade, para garantir que nenhum brasileiro seja deixado para trás na trajetória rumo ao futuro financeiro e com fome. Estar atento a instituições que promovem ações de acolhimento para pessoas em situação de rua e ajudar essas instituições com PIX, talvez seja a nova forma de dar esmola, já que a solução tida como para todos é mais uma falácia hipócrita bem brasileira.

Alexandre Chakal é carioca, pai, publicitário, jornalista independente, designer gráfico, musicista, escritor, poeta, locutor freelancer, zineiro, editor do blog Metal Reunion Zine à mais de 15 anos.  Um eterno inconformado com o cenário social e as péssimas gestões políticas no país mais rico da America Latina.

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