quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da ópera rock do terror cotidiano - Segunda Temporada 2023/2024 - #23

 
Uma história para fazer pensar

Por Fabio da Silva Barbosa

Saiu com a família para um passeio. Era um sábado bonito, de Sol. O passeio foi perfeito. Na volta, Zeru percebeu que faltavam alguns itens na casa e que a porta dos fundos tinha sido arrombada. O que mais lhe aborrecia, era o vídeo cassete que acabara de comprar. Já tinha até feito a ficha de cadastro na locadora. E o tempo que levou juntando dinheiro... Sentou um pouco no velho sofá e pensou. 

- Puta que o pariu!!! Filhos da puta!!!

Levantou de um pulo e avisou a companheira que não demoraria.

- Mas como assim? Você vai aonde?

- Resolver esse problema! Então entram na minha casa, levam o que querem e fica tudo assim? Aí é fácil! Isso desmoraliza até o morro! Sou cria daqui, porra!

Virou as costas e saiu caminhando rápido. Ela tentou dialogar, mas Zeru subiu o morro sem ouvir uma palavra do que ela dizia. Na metade da subida, ela percebeu que nada que dissesse adiantaria e lembrou-se das crianças sozinhas em casa, com a porta aberta. Desceu correndo para casa e chegando, após certificar-se que as crianças estavam bem, telefonou para quem morasse pelo caminho onde Zeru foi.

- Eles vão se foder comigo. Pensando que roubar trabalhador é assim? Acham que a gente tá a nada.

Zeru subiu o morro todo reclamando. Fez a distância de forma rápida, pegando os atalhos pelos becos. Chegando no pico do morro, disse que gostaria de falar com o Gerente. O menino que portava um fuzil, falou alguns códigos pelo radinho e ficou dividindo a atenção entre Zeru e o fundo do beco. Poucos minutos depois, uma sombra que vinha do fundo do beco, principiou a tomar forma. Era Gerente que se aproximava. Apertou a mão de Ziru logo que tinha proximidade suficiente para isso.

-O que tá fazendo por esses lados?

- Gerente... É assim que você gosta de ser chamado agora, né?   

- É isso aí, porra. É isso que sou, né, não.

- Por mim tá tranqüilo, Gerente. Não tem erro com isso. Tava só perguntando pra gente começar do jeito certo.  

- Então começa que posso dizer que tô bem curioso.

- Você sabe que moro aqui desde que nasci. Meus irmãos também.  

- Claro, porra. Por quê?

- Por que saí de casa pra aproveitar o final de semana com a família. Hoje de manhã isso. Cheguei agora e adivinha que roubaram um monte de coisas. Até meu vídeo cassete.

- Isso não pode. Você sabe que roubo no morro dá morte.

- E é exatamente por isso que tô aqui. Ou preciso ir na polícia?

- Não. Que polícia? Pra quê? Deixa que isso a gente resolve.

E o pessoal da boca era realmente muito eficiente.  Fizeram o levantamento dos envolvidos com menos de vinte e quatro horas. Enquadraram um deles e levaram para um barraco conhecido pelos envolvidos como O Barraco. O cara entrou sendo arrastado e completamente apavorado. Ele sabia o que acontecia com quem parava ali. Quando, em meio as suas tentativas inúteis de fuga, reconheceu Gerente, congelou olhando para ele.

-Nem tenta falar nada. Aqui quem fala sou eu. – Olhou bem no fundo dos olhos do prisioneiro. – Sabemos que você e mais dois roubaram uma casa na subida do morro. - Fez um gesto para o detido se calar, pois este logo ameaçou a contestar o que havia sido dito. – Eu já falei pra não falar. Ninguém aqui tá interessado no que você tem a dizer. Se teimar de novo com isso, vai tomar de facão até morrer. Já se ficar de boa e colaborar, a conversa pode ser outra. Então o negócio é simples. Você tem até amanhã para devolver tudo que vocês roubaram e pedir desculpas. Depois disso, você vai matar os dois que estavam com você. De preferência tudo amanhã. Você deve entender minha pressa.

O preso fez que sim com a cabeça e logo foi liberado para cumprir sua missão. Claro que em todo o lugar tinha gente de olho no figura. Nesse ramo, até quando se confia, se confia desconfiando.

- Desculpe-me, senhor. Prometo que isso não vai voltar a acontecer.

De manhã cedo ele já estava devolvendo tudo. Zeru, depois de conferir as devoluções, deu um soco no olho do outro que aproveitou o embalo e sumiu pelo matagal que cobria a beira da estrada. No final da tarde, ele, com um olho roxo, estava apresentando o jornal com a notícia de dois mortos no lixão. Era um daqueles jornais especializados em crimes e que estampam fotos de embrulhar o estômago na capa. O que o diferenciava é que tinha uma edição matinal e outra que saía no final da tarde. Este que estava sendo apresentado tinha acabado de sair.

- Então? Tô certo com vocês?

Gerente o olhou com um sorriso nos lábios e piscou os olhos antes de responder.

- Não. Ainda falta você.   

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