Uma história para fazer pensar
Por Fabio da Silva Barbosa
Saiu com a família para um passeio. Era um sábado bonito, de Sol. O passeio foi perfeito. Na volta, Zeru percebeu que faltavam alguns itens na casa e que a porta dos fundos tinha sido arrombada. O que mais lhe aborrecia, era o vídeo cassete que acabara de comprar. Já tinha até feito a ficha de cadastro na locadora. E o tempo que levou juntando dinheiro... Sentou um pouco no velho sofá e pensou.
- Puta que
o pariu!!! Filhos da puta!!!
Levantou de
um pulo e avisou a companheira que não demoraria.
- Mas como
assim? Você vai aonde?
- Resolver
esse problema! Então entram na minha casa, levam o que querem e fica tudo
assim? Aí é fácil! Isso desmoraliza até o morro! Sou cria daqui, porra!
Virou as
costas e saiu caminhando rápido. Ela tentou dialogar, mas Zeru subiu o morro
sem ouvir uma palavra do que ela dizia. Na metade da subida, ela percebeu que
nada que dissesse adiantaria e lembrou-se das crianças sozinhas em casa, com a
porta aberta. Desceu correndo para casa e chegando, após certificar-se que as
crianças estavam bem, telefonou para quem morasse pelo caminho onde Zeru foi.
- Eles vão
se foder comigo. Pensando que roubar trabalhador é assim? Acham que a gente tá
a nada.
Zeru subiu
o morro todo reclamando. Fez a distância de forma rápida, pegando os atalhos
pelos becos. Chegando no pico do morro, disse que gostaria de falar com o Gerente.
O menino que portava um fuzil, falou alguns códigos pelo radinho e ficou
dividindo a atenção entre Zeru e o fundo do beco. Poucos minutos depois, uma
sombra que vinha do fundo do beco, principiou a tomar forma. Era Gerente que se
aproximava. Apertou a mão de Ziru logo que tinha proximidade suficiente para
isso.
-O que tá
fazendo por esses lados?
-
Gerente... É assim que você gosta de ser chamado agora, né?
- É isso
aí, porra. É isso que sou, né, não.
- Por mim
tá tranqüilo, Gerente. Não tem erro com isso. Tava só perguntando pra gente
começar do jeito certo.
- Então
começa que posso dizer que tô bem curioso.
- Você sabe
que moro aqui desde que nasci. Meus irmãos também.
- Claro,
porra. Por quê?
- Por que
saí de casa pra aproveitar o final de semana com a família. Hoje de manhã isso.
Cheguei agora e adivinha que roubaram um monte de coisas. Até meu vídeo
cassete.
- Isso não
pode. Você sabe que roubo no morro dá morte.
- E é
exatamente por isso que tô aqui. Ou preciso ir na polícia?
- Não. Que
polícia? Pra quê? Deixa que isso a gente resolve.
E o pessoal
da boca era realmente muito eficiente. Fizeram
o levantamento dos envolvidos com menos de vinte e quatro horas. Enquadraram um
deles e levaram para um barraco conhecido pelos envolvidos como O Barraco. O
cara entrou sendo arrastado e completamente apavorado. Ele sabia o que
acontecia com quem parava ali. Quando, em meio as suas tentativas inúteis de
fuga, reconheceu Gerente, congelou olhando para ele.
-Nem tenta
falar nada. Aqui quem fala sou eu. – Olhou bem no fundo dos olhos do
prisioneiro. – Sabemos que você e mais dois roubaram uma casa na subida do
morro. - Fez um gesto para o detido se calar, pois este logo ameaçou a
contestar o que havia sido dito. – Eu já falei pra não falar. Ninguém aqui tá
interessado no que você tem a dizer. Se teimar de novo com isso, vai tomar de
facão até morrer. Já se ficar de boa e colaborar, a conversa pode ser outra.
Então o negócio é simples. Você tem até amanhã para devolver tudo que vocês
roubaram e pedir desculpas. Depois disso, você vai matar os dois que estavam
com você. De preferência tudo amanhã. Você deve entender minha pressa.
O preso fez
que sim com a cabeça e logo foi liberado para cumprir sua missão. Claro que em
todo o lugar tinha gente de olho no figura. Nesse ramo, até quando se confia,
se confia desconfiando.
-
Desculpe-me, senhor. Prometo que isso não vai voltar a acontecer.
De manhã
cedo ele já estava devolvendo tudo. Zeru, depois de conferir as devoluções, deu
um soco no olho do outro que aproveitou o embalo e sumiu pelo matagal que
cobria a beira da estrada. No final da tarde, ele, com um olho roxo, estava
apresentando o jornal com a notícia de dois mortos no lixão. Era um daqueles
jornais especializados em crimes e que estampam fotos de embrulhar o estômago
na capa. O que o diferenciava é que tinha uma edição matinal e outra que saía
no final da tarde. Este que estava sendo apresentado tinha acabado de sair.
- Então? Tô
certo com vocês?
Gerente o
olhou com um sorriso nos lábios e piscou os olhos antes de responder.
- Não.
Ainda falta você.
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