quarta-feira, 11 de outubro de 2023

ARQUIVOS EXPLÍCITOS - Contos e crônicas da ópera rock do terror cotidiano - Segunda Temporada 2023 - #14

 
A história de Lori

Por Fabio da Silva Barbosa

 

O bar estava cheio. Dia de pagamento era sempre assim. A mesa de sinuca com as bolas rolando por cima, na mesa do canto eram os dados que rolavam e, na outra parede, o carteado comia solto. Mas era nos fundos, ao lado dos banheiros, que Lori jogava a âncora. Eram as maquininhas caça níquel. Só tirava os olhos do painel luminoso quando percebia que a cachaça tinha acabado. Daí levantava o braço e o dono do botequim entendia o recado.

- Capricha aí que tá vindo chorado. – Pedia ele.

- Vai te a merda, Lori. E vai pagando logo isso antes que a máquina fique com seu dinheiro todo.

- Vai se fudê, seu merda.

Era um botequim daqueles clássicos, do tipo que está cada vez mais difícil encontrar por aí. Todo mundo fumando dentro, uma parede cheia de garrafas de cachaça e aquelas especiarias típicas (pé de galinha, ovo cozido, lingüiça... e por aí vai).

- Eita, caralho.... Já foram ligar essa porra.

Alguém colocou música, o que sempre irritava Lori. Mesmo a máquina de música ficando perto da entrada, o som preenchia todo o ambiente. Ele encostou nos engradados e apertou bem os olhos enquanto observava o painel. Tentava ao máximo manter a concentração.

Meia noite fechou o bar. Lori saiu cambaleando. As meninas que trabalhavam pela área nem se aproximavam, pois ele era conhecido e sabiam que o velho Lori não curtia sexo. O lance dele era só as maquininhas. Ele seguiu a rua vendo o morro todo iluminado.

- Aguenta firme, Lori. Aguenta firme que você ainda tem de subir essa porra toda... Mas o que é um peido para quem tá todo cagado.

Apesar do caminho que tinha pela frente, deu um largo sorriso. Conseguiu separar o dinheiro pra feira. Não tinha posto tudo na máquina como normalmente fazia.

- Parado aí!

- Operação policial!

- Encosta!

Mal tinha percebido que se tratava de uma operação na subida do morro, já tinha sido empurrado para o carro, onde permaneceu encostado enquanto tomava uma geral. De repente sentiu que o policial tirava o dinheiro do seu bolso.

- Pera aí... Esse dinheiro é meu...

- Fica quieto, rapaz! Continua virado que a gente ainda não acabou.

Lori acabou por se embolar com os policias e no meio da confusão levou três tiros.

- Puta que o pariu... Olha o que esse merda fez. – Reclama o policial que havia realizado os disparos.

No dia seguinte saiu no jornal que a polícia havia trocado tiros com traficantes e um deles morreu. A família de Lori chamou a imprensa, reclamou, organizou manifestações dizendo que ele era trabalhador, mas começaram a ser pressionados e homens estranhos apareciam ameaçando, dizendo que poderia haver outros mortos caso continuasse o barulho.

  

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