Antes da lama
Por Fabio da Silva Barbosa
A chuva estava caindo e o bar era um abrigo muito agradável. A mesa de sinuca estava parada. A maquininha de música... muda. Apenas o velho rádio que, neste momento, começou a falar sobre os ataques da Rússia a Ucrânia.
-
Mas essa guerra nunca caba? – Perguntou o gringo brasileiro.
- Se você acha que está demorando,
imagina pro pessoal que mora lá. – Respondeu o cliente deixando a cerveja
escorrer pelo queixo.
- Pra eles deve estar durando um
século. Imagina???
Ao acabar de pronunciar estas
palavras, o gringo olha pra fora e vê a chuva virar temporal. O vento atirava o
que conseguia para cima dos carros que insistiam em circular pelas ruas
alagadas. A água começou a entrar no bar. O dia anoiteceu. Uma ratazana passou
nadando. Uma verdadeira atleta. Um conhecido conviva do reduto chega com as
calças dobradas até os joelhos. Pede uma cachaça enquanto conta as aventuras
que um sobrevivente sempre tem para contar. Alguém sugeriu que jogasse um pouco
de cachaça nos pés para esterilizar. Lembrou da Ratazana que passou nadando faz
pouco. Mas ele respondeu que não ia desperdiçar.
- Tanta criança passando fome no
mundo...
O tempo ia escorrendo e o nível da
água subindo. Tivemos de nos agrupar mais ao fundo do bar. O calor humano
misturado aos vapores dos cigarros e do álcool. Receita certa para um homicídio
ou uma noite de orgias. Olhando os companheiros de batalha... Um homicídio me
parecia mais apropriado.
Algumas horas depois, com a chuva já
mais fina e a água já mais baixa, cada um saiu cambaleando para seu lado. Todos
loucos... Ébrios pela noite que acabara de chegar no céu já escurecido pela
tempestade. A falta de luz deixava tudo ainda mais coberto pelo manto negro que
nos faz de cegos em plena visão. Tateando enquanto tenta não cair, tenta ter
cuidado para não pisar nos fios submersos em poças fétidas.
O ano está acabando. Nos vemos novamente ainda em dezembro. Até lá!
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