segunda-feira, 10 de outubro de 2022

ARQUIVOS EXPLÍCITOS #17 - Contos e crônicas da opera Rock do terror cotidiano.

 
O Profeta do caos

 O Jesus Negro gritava pelas ruas. Sua barba falhada, com fios de macarrão azedo, emoldurava a boca banguela que proferia o fim. Cruzou a esmo pelas ruas, parecendo saber exatamente para onde ir. Seus pés rachados pisavam firmes, mas com leveza, nas calçadas esburacadas e poças d’água. Parecia flutuar em plena marcha pela terra devastada.  

Durante o dia, os mais apressados desviavam o olhar. Completamente acorrentados aos carrascos ponteiros dos relógios, não percebiam que a verdadeira loucura os deixavam cegos, surdos  e totalmente submersos nas prisões cotidianas.

Durante a noite, a exploração sexual tomava conta de cada esquina e camisinhas usadas brotavam nas quebradas mais escuras. Pareciam flores mórbidas brotando ao acaso. Batedores de carteiras esperavam algum bêbado desavisado passar. Ratos e baratas corriam pelos cantos em busca de restos que dialogassem com seu pútrido apetite.

Todos e todas muito ocupad@s para o Velho Jesus Negro. Mas ele continuava profético, com sua ode ao ódio. Não existia outro caminho a seguir. 

E, se existia, não o interessava.

Até a próxima!

 Fabio da Silva Barbosa

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