quinta-feira, 28 de julho de 2022

ARQUIVOS EXPLÍCITOS #12 - Contos e crônicas da opera Rock do terror cotidiano.

 
Monólogo do Velho Escritor

Por Fabio da Silva Barbosa

 Mais uma vez o Velho Escritor se encontra inerte diante das teclas. Não consegue produzir uma linha que seja. O corpo imóvel. Os dedos parados. Os olhos perdidos na luz hipnotizante. O Velho Escritor está novamente em crise. Sua vida e a crise tornaram-se uma coisa só. Única substância capaz de prendê-lo nas profundezas mais abissais do nada absoluto. O vazio preenchendo cada cantinho - com todo esmero e cuidado. A escuridão. O hálito inconfundível da morte a soprar em seus ouvidos – contando segredos absurdos.

Pensou em revisitar velhos escritos... Não era essa a proposta. A proposta era uma coisa inédita por quinzena - algo criado especialmente para os Arquivos Explícitos. A única exceção até o momento foi com o texto escrito em parceria com o mano Alexandre. O resto foi tudo cagado, vomitado, expelido e exorcizado especialmente para esta coluna, pensando nela e sem releitura, acertos ou segundas versões. A ideia é deixar fluir da maneira mais insana possível.

Pensou em escrever um conto de terror sobre Konga, a mulher gorila. Essa já é uma  idéia antiga e muito bem vinda. Tem uma ligação forte com a infância do Velho. Mas ainda não seria dessa vez. Ficaria mais pradiante. Espero que a máquina biológica espere.

Pensou em dar continuidade no seu projeto de livro infantil para adultos lerem. Deixaria a coisa coluna para outra ocasião. Mas não podia fazer isso. Estava com essa ideia há muito tempo assombrando seu crânio já extremamente atormentado. Só precisava dar forma, elaborar.

Acende um cigarro e mendiga um pouco de carinho a brasa mórbida que segue a lhe matar. Não tem mais condições. Nada tem. O que nunca teve sentido, virou a própria falta de sentido. Não é mais como antes. Não existe mais o surf de carro e a guerra de saco de lixo. Tudo isso é coisa do passado. Nada mais existe. O vazio atinge o patamar do belo, de tão fúnebre.

Resolve a questão. Fará um retrato de si mesmo. Mesclará retrato e pintura em uma composição sórdida. A poesia não pode faltar. Ela nunca falta. Seria como acreditar que a vida pode deixar de ser amarga. Novamente irá se expor. Exibirá sua nudez como quem ilustra todo o flagelo humano.

Uma corrente elétrica impulsiona seu desgastado corpo senil e as palavras começam a surgir na tela fria do computador. Cores da desgraça, do sangue, dor e angústias preenchem o espaço vazio, sideral.

Nasce mais um conteúdo para esta coluna blasfema. 

ATÉ A PRÓXIMA!

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