quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Quais são as bibliotecas que querem preservar fanzines

‘Fanzinotecas’ desafiam padrões ao guardar materiais artesanais, amadores e subversivos. No Brasil, preservação ainda engatinha


Ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990, o movimento punk, o hardcore, os anarquistas, fãs de quadrinhos, ficção científica, de música e cultura independente tinham um meio de comunicação em comum: os zines.
Produzidos artesanalmente, eles surgiram como uma forma de expressão de um grupo de “fãs” de um determinado assunto, com a possibilidade de dispensar a intermediação de um editor no contato com seu público. Amador, o gênero atravessa décadas testemunhando uma história cultural paralela e marginal, muitas vezes documentando a contracultura e as formas alternativas de expressão e difusão.
Com o tempo, grande parte desse rico acervo - armazenado na forma de livretos simples de papel, com a estética “Do It Yourself” (faça você mesmo) do movimento punk nos anos 1970 - se perdeu. Mas há iniciativas que se dedicam à preservação dessa história. Contrariando sua verve independente e de circulação restrita, os zines chegaram às bibliotecas.
EM ATIVIDADE DESDE 2008, A BARNARD ZINE LIBRARY COLOCA AS ALUNAS DA UNIVERSIDADE EM CONTATO COM ZINES FEITOS SÓ POR MULHERES
A mais antiga fanzinoteca do mundo, em funcionamento desde 1989, é a de Poitiers, na França. Ela também tem o maior acervo, com 50 mil documentos. Desde 2008, a Barnard College - tradicional universidade americana para mulheres localizada em Nova York - abriga mais de 7.000 zines com recorte de gênero na Barnard Zine Library.
A existência dessa biblioteca permite que as alunas sejam expostas às publicações de temas variados (que incluem imagem corporal, experiência de pessoas transgênero, feminismo, anarquismo, abuso sexual, o movimento riot grrrl e a comunidade queer), todas feitas por mulheres (cis e transgênero).
“Aqui desafiamos deliberadamente as identidades dominantes que estão excessivamente representadas pelas editoras e em outras mídias. Os pontos de vista [expressos nos zines] estão fora do ‘mainstream’, por isso é importante tê-los na prateleira de uma biblioteca”, afirmou a fanzineira e bibliotecária da Barnard Zine Library, Jenna Friedman, em entrevista ao Nexo.


CAPA DO DÉCIMO NÚMERO DO ZINE ABLAZE!, PARTE DA PRODUÇÃO DAS RIOT GRRRLS NOS ANOS 90
A entrada desse tipo de publicação em bibliotecas universitárias, públicas ou a formação de acervos com o intuito específico de sua preservação confere legitimidade ao estatuto cultural do fanzine, segundo Jenna. Ao mesmo tempo, opera uma mudança interessante no que diz respeito às falas dos sujeitos que podem ser consultados em uma pesquisa sobre determinado assunto. Sujeitos que, de outra forma, não seriam ouvidos.
“Um dos elementos chave de usar zines como instrumentos de pesquisa é que eles são narrativas em primeira pessoa sem nenhum tipo de mediação. Não houve editor a quem agradar, anunciantes para se preocupar, um jornalista que interpretou e relatou a experiência daquela pessoa que fez o zine.”
Jenna Friedman
fanzineira e bibliotecária
Fonte AQUI

Nenhum comentário:

Postar um comentário