Para se ter longevidade no Underground tem que se ter persistência, ainda mais quando uma banda tem a sua frente duas mulheres. Esse é o caso da banda gaúcha Losna, capitaneada pelas irmãs Débora (guitarra) e Fernanda Gomes (baixo e vocal), além do baterista Marcelo Índio. A banda surgiu em 1997 e com bastante personalidade vem trilhando o árduo caminho do Underground, com sua música amarga, pesada e direta. Recentemente o trio lançou seu novo álbum de estúdio, “Distilling Spirits”, via UGK Disccos, mostrando evolução, mas sem abandonar suas raízes. Sem rodeios, as irmãs responderam a essa nova entrevista elaborada junto com o editor do site Recife Metal Law que agora é re-publicada na integra aqui no Metal Reunion Zine . Confiram!
Metal Reunion Zine – A atual formação da Losna se mantém intacta há vários anos, e as duas mulheres presentes na banda são irmãs. Pouquíssimas bandas mantêm sua formação por muito tempo e mudanças são quase impossíveis de não acontecer. Como é para vocês manter essa atual formação por tanto tempo? Isso ajuda na hora de compor ou escrever uma letra?
Débora Gomes – Isso é natural, já que os três guerreiros estão focados no mesmo som e determinação. São três criaturas que curtem o que fazem e estão na mesma sintonia, saca? Não adianta: pulsa no sangue o ritmo violento. Então, o processo de composição é muito espontâneo e rápido.
Metal Reunion Zine – Sabemos muito bem que as mulheres já conquistaram seu lugar no Heavy Metal e no Brasil temos diversos exemplos que dão orgulho. Mas o estilo adotado pela Losna ainda é praticado, na maioria das vezes, por bandas compostas por homens. Isso já gerou algum tipo de preconceito, desrespeito ou limitação para o grupo dentro do nosso Underground?
Débora – Esse papo de uma banda ser rotulada por ter mulher, homem, transexual, é uma baita besteira. A música é algo que independe do sexo, transcende, vai muito além desses preconceitos tolos. E, claro, jamais sofremos algum tipo de preconceito.
Metal Reunion Zine – O primeiro álbum, “Wild Hallucinations”, foi lançado em 2007, ou seja, antes do lançamento do novo material teve quatro anos para ser divulgado. Como foi feito o trabalho de divulgação e qual foi o respaldo que o primeiro álbum teve perante os bangers e mídia especializada?
Débora – O “Wild Hallucinations” foi amplamente divulgado em vários países e obtivemos um retorno bastante positivo entre os bangers e a mídia especializada.
Metal Reunion Zine – O novo álbum, assim como o anterior, foi lançado pelo selo UGK Disccos. Como essa parceria vem ajudando na divulgação do nome da Losna?
Débora – O proprietário do selo UGK Disccos, Marivan Ugoski, sempre simplifica e viabiliza o processo de prensagem dos álbuns da Losna; trabalhar com ele é muito gratificante. Além do que, ele sabe mais do que ninguém como funciona o Underground, pois é da banda Attro, então dá um grande apoio na divulgação, tanto em nível nacional como internacional.
Metal Reunion Zine – O novo álbum recebe o título de “Distilling Spirits” e apresenta uma capa em tom esverdeado, trazendo algumas caveiras, inclusive uma dentro de uma taça, uma serpente, etc. A primeira vista não existe uma ligação entre imagem da capa e título, ou eu estou errado?
Fernanda Gomes – Está errado! “Spirits” são as bebidas destiladas e fortes, que são aquilo que enche o copo, verde. E as caveiras fazem parte da visão torpe, embriagada e alucinada do espectador que está experimentando o resultado da destilação e já passou da quarta taça...
Metal Reunion Zine – É notório que a banda adquiriu mais maturidade nesse álbum, e o mesmo apresenta músicas mais trabalhadas, que apostam mais no peso e em passagens cadenciadas. Isso foi algo proposital?
Débora – Não, nada é proposital ou programado quando compomos, o som rola naturalmente.
Metal Reunion Zine – Em dias atuais, com as facilidades tecnológicas, muitos preferem baixar a adquirir os materiais físicos. Muitos desses nem ao menos se dão o trabalho de buscar as letras para saber do que as mesmas falam. Em “Pentito” (palavra de origem italiana), existe uma citação a Buscetta (Tommaso Buscetta, famoso mafioso italiano). A pronúncia dessa palavra remete a uma palavra chula em nossa língua. Vocês já chegaram a ser abordados para dar explicações a respeito dessa música?
Fernanda – Nunca. As pessoas que vão aos shows adoram aquela palavra! (risos) Gostam e gozam muito!
Metal Reunion Zine – Ainda sobre a música “Pentito”, como já referido, se refere ao mafioso italiano Tommaso Buscetta (1928-2000), mas não é biográfica. O que vocês quiseram passar com a letra dessa música?
Fernanda – É sobre lealdade... Ela aborda sobre a forma de conduta exigida aos integrantes de grupos que necessitam ter fortes balizadores para manterem seus interesses protegidos. Assim a traição deve ser banida a qualquer custo, para a vivência e manutenção dos bens maiores já adquiridos, em prol do coletivo.
Metal Reunion Zine – “Room 55” foi a música escolhida para ser o primeiro clipe desse álbum. Qual foi o motivo para que essa música fosse escolhida para virar clipe?
Débora – A temática lírica da “Room 55” era a mais fácil, no momento, em ser revelada através de imagens.
Metal Reunion Zine – Ainda falando do clipe de “Room 55”, a pergunta que farei é apenas curiosa. Notei uma diferença na postura adotada pela banda no clipe, pois o mesmo possui uma abordagem com alguns toques de sensualidade muito interessantes e que, de certa forma, se relacionam com a letra. Mas nota-se que houve uma preocupação de “explorar” um pouco da beleza das integrantes, mesmo que de forma sutil, sem possuir qualquer elemento de vulgaridade, apelação ou mesmo fugir do conceito musical do grupo. Mas, digam, o conteúdo do clipe tem apenas relação com o tema ou essa exposição feminina foi ideia “extra” de quem produziu?
Débora – A exposição das nossas pernas (minhas e da minha irmã) apenas se deve ao fato de não ficarmos sem elas no vídeo. Nota-se que, quando aparece a cena da banda tocando, o fundo todo é preto, logicamente iria ficar só nossos troncos se colocássemos calças pretas. Mas, nas cenas do hotel estamos vestindo calças, pelo menos.
Metal Reunion Zine – Em “Get Out” os vocais principais são feitos por Débora, que usualmente apenas faz os backing vocals. Por que nessa música os vocais são teus, Débora?
Débora – Porque curto àquela música: curta e grossa como eu! (risos) Gosto de fazer vocal principal de vez em quando. No álbum “Wild Hallucinations”, se notarem, tem outro som que canto lá: a “Dark Mess”.
Metal Reunion Zine – Existem planos futuros da Losna de ter outras músicas contigo fazendo a voz principal?
Débora – De repente...
Metal Reunion Zine – “Extorting Your Life” é uma das músicas mais diferentes que já foram feitas pela Losna, com seu andamento denso e melancólico. Mesmo soando diferente de outras músicas já feitas pela banda, ela se saiu muito bem. O motivo de ela ser a última do ‘track list’ foi justamente por soar um pouco diferente de tudo que a Losna já fez?
Fernanda – Essa música já havia sido feita há muito tempo e gravada em uma Demo intitulada “Dark Mess”. Ela tem por temática o vampirismo, que apreciamos, o sangue nos mantém saudáveis! (risos)
Metal Reunion Zine – No encarte existe um grande “foda-se às pessoas normais”. Qual o motivo para essa frase?
Fernanda – É uma frase espontânea. Dar para interpretar da forma como quiser... Eu particularmente adoro conjugar o verbo foder, exceto na primeira pessoa do singular na voz reflexiva, qualquer tempo.
Metal Reunion Zine – Existe algum agendamento de datas para uma “Tour” de divulgação de “Distilling Spirits”? Aproveite e fale um pouco dos planos futuros da banda. Já existem composições sendo feitas para um futuro trabalho?
Débora – Sim, desejamos fazer mais shows ainda para divulgar o “Distilling Spirits” em outros Estados. Queremos muito tocar no Nordeste. Temos cinco sons novos para compor o novo álbum.
Metal Reunion Zine – Existem planos da banda para tocar em outros países da América do Sul ou Europa? Pensam em divulgar o “Distilling Spirits” por àquelas terras?
Débora – Claro que existe esse desejo, mas isso depende de tempo e dinheiro. Mas quem sabe dentro em breve. Seria ótimo!
Recife Metal Law – Agradecemos muito pelo tempo cedido e desejamos vitórias para a Losna. Deixamos essas “linhas” para suas considerações finais.
Débora – Valeu o apoio, Valterlir e Chakal. É admirável o trabalho desempenhado pela equipe do site para com o Metal Underground brasileiro. Deixamos aqui um agradecimento especial para nosso grande amigo e guerreiro Valterlir que sempre apoiou a Losna de forma incondicional. Quem quiser saber um pouco mais da Losna, entre em contato para aquisição de material, trocas, shows e afins e/ou procure nossos vídeos no Youtube. É isso aí! Metal nas veias!
Site:
Entrevista por Valterlir Mendes e Chakal
Fotos: Divulgação
Originalmente publicado em
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