quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ENTREVISTA: HELLSAKURA

A banda HellSakura, apesar de ainda jovem, tem uma figura bem conhecida no meio Underground: a vocalista/guitarrista Cherry, que já tocou na banda Okotô, a qual teve certo respaldo no meio Underground. Voltando a falar sobre o HellSakura, a banda é complementada pelo baixista Napalm e pela baterista Pitchu. Juntos o trio já lançaram três materiais, sendo um EP, um split e, mais recentemente, seu primeiro álbum de estúdio, “Bloody to Water”, o qual vem ganhando vários elogios da mídia especializada. Sobre o ‘debut’ álbum e outros pertinentes assuntos, tivemos uma conversa com a banda...
Metal Reunion Zine – Antes da banda HellSakura, a vocalista/guitarrista Cherry fez parte do Okotô, que teve certo respaldo no meio Underground. O que ocorreu para que o Okotô sucumbisse e desse lugar ao HellSakura?
Cherry – Oi! Legal estar aqui respondendo essa entrevista! O Okotô foi minha primeira banda; tenho muito orgulho disso, ainda mais por ser lembrada até hoje. Eu acho que fizemos um bom ‘trabalho’. O HellSakura começou com meu convite ao baixista Napalm para fazer um som e a Pitchu entrou pouco mais tarde, completando o trio.

Metal Reunion Zine – Sakura é uma personagem de mangá/anime. Por que o nome escolhido foi uma junção do nome dessa personagem com a palavra “Hell” (que em português significa “Inferno”)?
Cherry – Sim, Sakura é um mangá, mas também é a flor de cerejeira, com significado de prosperidade. O “Hell” todos sabem, mas não queremos dizer que o inferno seja prosperidade, estamos só fazendo um contraste entre as duas forças. Sakura é também o nome de um shoyu, molho com cor preta e bem salgado muito usado pelos brasileiros.

Metal Reunion Zine – A banda surgiu oficialmente em 2008, e no mesmo ano dividiu um split com a banda japonesa Kamisori. A razão de dividir o split com o Kamisori foi em razão da descendência japonesa de Cherry?
Cherry – Nosso split com o Kamisori foi lançado pelo selo japonês Karasu Killer. O Kamisori é uma grande banda de Tóquio; misturam Thrash e Hardcore japonês e as coisas aconteceram com a ajuda de nosso amigo Rafael Yaekashi do Darge, que já tinha tocado com eles antes. Eu queria muito trazer o Kamisori para uma tour no Brasil. Estou louca para ouvir o CD novo deles!

Metal Reunion Zine – Não conheço as músicas do split, mas pelas informações que tenho, as músicas contidas no mesmo foram cantadas em português. O HellSakura, inicialmente, tinha como proposta fazer músicas em português?
Cherry – E realmente tinha vários sons em português, mas não importa o idioma, simplesmente fico tocando os riffs, vou cantando em cima... Não temos regras sobre qual idioma usar, qual vai ficar melhor...

Metal Reunion Zine – O segundo trabalho veio em forma do EP “Sakura Fubuki”, com as músicas já cantadas em inglês. O EP conta com seis músicas, as quais também estão presentes no primeiro full lenght da banda. O intuito do EP foi mostrar algumas músicas que iriam fazer parte do primeiro álbum?
Cherry – O “Sakura Fubuki” foi lançado no Japão. Depois nós gravamos no Mr. Som mais quatro músicos e fizemos um full lenght, o “Blood to Water”, e o lançamos com total apoio da Tumba Records.

Metal Reunion Zine – O primeiro álbum, “Blood to Water”, apresenta dez músicas, e é um álbum curto, com menos de meia hora. Mesmo com o pouco tempo de duração de suas músicas, as mesmas não são tão simples. Obviamente que temos sons mais diretos, mas os riffs fogem do habitual jeito de compor Punk Rock. Quando vocês foram gravar esse álbum, o que vocês queriam apresentar, sonoramente falando?
Cherry – Acho que é resultado de horas e horas tocando e curtindo os riffs, ensaiando... Eu crio os riffs, arranjo as partes, mando MP3 ou então eu me encontro com a Pitchu no meu mini bunker @home ou os três no estúdio lá em casa, e cada um dar a sua sugestão, apresenta outras ideias. Mas nosso objetivo é ir direto ao assunto, sonoramente falando.

Metal Reunion Zine – No álbum existe uma música cantada em português, curiosamente a mais agressiva. Houve a cogitação de se gravar mais músicas em nosso idioma e com a mesma pegada furiosa de “Quem é Você?”?
Cherry – (Risos) Essa música e dedicada a alguém, mas não podemos falar quem. Isso é influência do Punk/Hardcore brasileiro, tipo Olho Seco, Ratos de Porão, Cólera...

Metal Reunion Zine – O álbum teve algumas participações especiais: Serpenth (Belphegor), Donida (Enterro e Matanza) e Mayra Biggs. Alguns desses músicos são integrantes de bandas que atuam dentro do cenário do Metal extremo e com sonoridade que nada tem a ver com a proposta musical do HellSakura. Como rolou essa ideia de convidar essas pessoas? A participação das mesmas tem algo a ver com o conceito do disco e/ou de suas composições ou foi apenas uma jogada de marketing para agregar mais valor ao álbum?
Cherry – Não foi uma estratégia de marketing, foi só um jeito legal de fazer um som com pessoas que temos afinidades musicais. O Serpenth já conhecia o som do HellSakura, então recebi uma mensagem sobre participar do novo CD, e logo disse que sim! Então mandamos dois sons (“Bombs Away” e “Distorted Mirror”) e ele gravou o solo de guitarra da “Distorted Mirror”. Tivemos sorte que houve uma pausa na turnê do Belphegor e conseguimos sincronizar as agendas. O Donida chegou no estúdio com a palhetada na ponta dos dedos e disse que queria gravar a base da “Very Dark Sunday”, além do solo, e ficou ótimo, porque faixas com diferentes guitarristas deixa o som mais pesado. A Mayra, além de ser uma baixista incrível, tem um dos melhore vocais que conheço!

Recife Metal Law – A produção ficou ao teu cargo e de Marcelo Pompeu e Heros Trench (Korzus). Escutando o CD, em alguns momentos, parece que a gravação foi feita de forma analógica, com fita. Fale um pouco de como foi o processo de produção do álbum e diga se a ideia era dar essa impressão de sonoridade antiga aos sons da banda.
Cherry – Temos trabalhado juntos há algum tempo e gostamos do som que eles tiram no estúdio. Em minha opinião a sonoridade crua e real chega até os ouvidos com bons instrumentos, bons ‘takes’, boa sala de gravação, e na hora mixar com o Heros deu para usar efeitos sem parecer som de plástico. A tecnologia é bem vinda, mas fazer Rock e mais que tecnologia!

Metal Reunion Zine – Ainda falando do álbum, notei que vocês optaram por uma capa/encarte em fomato digipack sem caixa acrílica. Atualmente muitas bandas de Punk e Crust do cenário mundial têm usado esses formatos de ‘embalagem’, onde prevalece o papel. Houve mesmo uma preocupação do grupo com o meio ambiente ou a escolha do formato foi apenas por motivos estéticos e de logística? Pergunto isso, pois o disco acaba ficando mais leve e com isso se reduz custos com postagens...
Napalm – No início tínhamos dúvidas em utilizar o digipack por vários fatores... Ele fica mais leve para enviar pelos Correios, mas fica bem mais caro pra ser feito, e não diminuiria o impacto contra o meio ambiente, porque tudo que é feito em gráfica leva solventes de tintas que serão despejados nos rios e mares. A gente se preocupa com o meio ambiente, mas nossa colaboração está presente na mensagem antinuclear que ilustra a capa e nos nossos sons. No final, depois de discutirmos um monte, caímos na real que não economizaríamos nenhuma gota do nosso suor para ensaiar, tocar e gravar, então a capa não poderia ser feita com descaso. E fomos super apoiados pela Tumba Records, que nos deu total liberdade para produzir o CD. Pessoas como o Edu estão cada vez mais raras na cena Underground musical.

Metal Reunion Zine – A arte do encarte tem elementos de nossa cultura mesclados com alguns lances japoneses. No primeiro momento, parece bem óbvio, visto a origem da banda, nome e abordagens, mas o que esses elementos têm a ver com o conteúdo do disco? Qual relação dos símbolos aplicados e do personagem estampado na frente de capa com as letras das músicas? Aproveite e explique qual foi o conceito criativo utilizado para associar a ilustração da capa com o título do álbum e quem foi responsável por essa arte.
Napalm – Achamos tanto o Brasil como o Japão países de elementos culturais bastante opostos e autênticos. São duas culturas muito ricas e diferentes, mas se completam. A capa surgiu logo após o acidente nuclear que aconteceu no Japão recentemente. Isso me fez lembrar a época em que éramos mais novos e passamos por uma situação parecida no Brasil, com Angra dos Reis, depois o Césio 137... Não é um tema e sim uma realidade que atinge o mundo todo. Nossas músicas não retratam apenas gás tóxico vindo da cidade, mas também das forças opostas, do bem e do mal se confrontando em busca do equilíbrio. A arte foi feita por mim mesmo e fiquei muito feliz quando li algumas resenhas elogiando a ilustração.

Metal Reunion Zine – “My Motorhead” e “Orgasmabomb” são nitidamente músicas para homenagear o Motörhead. Como surgiu a ideia de fazer tais músicas, e qual a influência que o Motörhead representa para vocês?
Napalm – “Motörhead is my fuel”! Essas músicas são para quem gosta de Motörhead, como nós gostamos. E você não me peça pra tirar a distorção do meu baixo! (risos)
Pitchu – Tudo! Desde o visual do Lemmy (“Metal-Punk-Rural) de ser e o som matador desse power-trio foda!
Cherry – “Lemmy my papa”, mas ele não sabe. (risos)

Metal Reunion Zine - Falando ainda das letras, faça um breve comentário das demais letras de músicas que compõem o “Blood to Water”.
Cherry – Sobrou, então, humm. “My Motorhead” já foi... “Orgasmabomb”, essa letra na turnê japonesa tinham uns americanos cantando bem na minha frente. Eles estavam trabalhando numa base militar que tem muito a ver com a letra. “Crown of Fire” na verdade não faz sentido nenhum. (risos) Brincadeira! Pensando bem, a letra começou na frente do hotel, quando uma homeless que passava resolveu ficar junto com a banda e o Reyashi (Vader) olhou para ela e disse: “the princess...”. “Bombs Away” inspirou o título do álbum. Acho que o Napalm já explicou muito bem acima.

Metal Reunion Zine – Muito obrigado por conceder essa entrevista. Fica o espaço para as considerações finais...
Cherry – Agradecemos as pessoas que estão conhecendo o HellSakura e fazendo contato com a banda, comprando CD e compartilhando as informações. Esperamos produzir muito mais coisas nessa vida e, principalmente, esperamos tocar em Recife em breve! Obrigada a Tumba Records, Karasu Killer, Pearl, Manic Panic, Sick Mind, Hangar 110, PlayTech.

Site:
Entrevista por Valterlir Mendes e Chakal
Fotos: Divulgação, Maurício Santana, Sah Guerreiro e Akira Sesoko

Originalmente publicado em

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